Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um exercício de memória

Dispensados de maiores formalidades como convém a um encontro de jornalistas, acredito que a melhor contribuição que poderia prestar na abertura do 6º Congresso Internacional de Jornalismo de Língua Portuguesa é convidá-los para um exercício de memória. Não apenas para gozar os prazeres da nostalgia, mas para tentar um esboço histórico.

Na realidade, a parceria entre o Observatório da Imprensa de Portugal e o então chamado Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) e agora com o Instituto Projor, do Brasil, começou com a realização daquele que cronologicamente foi designado como 2º Congresso mas o primeiro como escopo e importância.

Realizou-se no Rio de Janeiro, em novembro de 1994, há pouco mais de 10 anos, e produziu um recorde: a maior delegação de jornalistas portugueses que jamais veio ao Brasil: quase sete dezenas.

Começava a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), havia um clima de aproximação dentro do mundo lusófono, o idioma comum transformado na plataforma para a construção de uma comunidade que se projetava além das diferenças e dos oceanos.

O terceiro congresso realizou-se em Lisboa, de 21 a 24 de abril de 1997, e contou com uma delegação brasileira de grandes proporções (27 pessoas) e outra não menos expressiva do continente africano.

O 4º Congresso realizou-se em Macau, iniciado a 7 de junho de 1999, com um duplo cenário: a devolução da antiga colônia à China e a inevitabilidade da independência de Timor Lorosae.

O 5º Congresso no Recife foi marcado para coincidir com os festejos do 5º Centenário do Descobrimento do Brasil, em 2000, e iniciado igualmente no dia 7 de Junho.

O intervalo entre o 5º e 6º congressos foi maior porém ofereceu maior perspectiva. Completamos uma década. Muita coisa mudou. Começamos quando a famosa ‘bolha’ tecnológica começava a inflar, dela sobraram inequívocos avanços em matéria de comunicação mas também a desagradável sensação de uma libação inoportuna e malsucedida.

A troca de gerações dentro das redações, normalmente saudável, funcionou ao revés: o jornalismo perdeu densidade, a informação não trouxe conhecimento, a saturação produziu banalidades, as reengenharias empresariais retiraram a seiva de um processo imperiosamente vital. Diminui drasticamente a pluralidade e aumentou a concentração dos veículos em poucas empresas.

O pior vilão está sendo o avassalador apetite político para controlar a imprensa a qualquer custo. Não apenas governos e partidos formais, mas também confissões religiosas, seitas, corporações, confrarias, conglomerados e até sindicatos – todos querem participar deste banquete canibal que transformou a busca da verdade numa fábrica de mentiras. E isto de tal forma que a Era da Informação corre sérios riscos de converter-se em Era da Desinformação.

Felizmente escolhemos uma profissão otimista por natureza. Necessariamente céticos mas organicamente confiantes. Acreditamos no dia seguinte. Confiamos na continuidade, temos a certeza de que a história que estamos a escrever não é a mais edificante, mas ao afirmá-lo também temos a certeza que poderemos mudar o seu curso.

Sejam bem-vindos ao Observatório da Imprensa.





Programa

Tema central: Media e Cidadania

10 de janeiro, segunda-feira

9h30 – Sessão de abertura

Preside Filomena Silva (Cabo Verde), Presidente do Congresso. Têm lugar na mesa Joaquim Vieira, Observatório da Imprensa (Portugal); Alberto Dines, Observatório da Imprensa (Brasil), Embaixador Tadeu Soares, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)

Conferência de abertura: José Pacheco Pereira

11h30 – Democracia mediatizada: jornalismo e opinião pública

Moderação de Joaquim Vieira, Observatório da Imprensa (Lisboa). Comunicações de Leão Serva, Último Segundo (São Paulo); Mário Mesquita, Escola Superior de Comunicação Social (Lisboa); Tony Tcheka, África Lusófona (Guiné). Comentário de Henrique Monteiro, Expresso (Lisboa)

15h – Justiça nos media: polícias, tribunais e notícias

Moderação de Paula Torres de Carvalho, Público (Lisboa). Comunicações de António Marinho, Expresso (Coimbra); Octávio Ribeiro, Correio da Manhã (Lisboa); Salomão Moyana, Zambeze (Maputo); Sofia Pinto Coelho, SIC (Lisboa). Comentário de José Vegar, free-lancer (Lisboa)

17h – Pressões sobre jornalistas: a independência, o segredo, a autocensura

Moderação de José Pedro Castanheira, Expresso (Lisboa). Comunicações de José Manuel Barroso, Agência Lusa (Lisboa); José Paulo Cavalcanti, Conselho de Comunicação Social (Brasil); Rafael Marques, Fundação Open Society (Luanda); Tolentino da Nóbrega, Público (Funchal). Comentário de Maria Estrela Serrano, Escola Superior de Comunicação Social (Lisboa)

11 de janeiro, terça-feira

9h30 – Conceitos de serviço público: media estatais e privados

Moderação de José Manuel Fernandes, Público (Lisboa). Comunicações de Alberto Dines, Observatório da Imprensa (Brasil); Joaquim Silva Gustavo, TPA (Luanda); Joel da Silveira, Escola Superior de Comunicação Social (Lisboa); José Alberto de Carvalho, RTP (Lisboa); Ricardo Costa, SIC (Lisboa); Simão Anguilaze, TVM (Maputo). Comentário de Graça Franco, Rádio Renascença (Lisboa)

11h30 – Economia e tecnologia: concentração e controlo dos media

Moderação de Nicolau Santos, Expresso (Lisboa). Comunicações de Fernão Lara Mesquita, Grupo Estado de S. Paulo (São Paulo); Mário Bettencourt Resendes, Lusomundo Media (Lisboa). Comentário de Sérgio Figueiredo, Jornal de Negócios (Lisboa)

14h30 Renovação do jornalismo: novas gerações, novas tendências

Moderação de Paulo Salvador, TVI (Lisboa). Comunicações de João Miguel Tavares, Diário de Notícias (Lisboa); Maria José Oliveira, Público (Lisboa); Miguel Martins, Correio da Manhã (Lisboa). Comentário de Adelino Gomes, Público (Lisboa)

16h – Jornalismo em língua portuguesa: convergências e divergências

Moderação de Paula Ribeiro, Grupo Media Capital (Lisboa). Comunicações de Carlos Fino, Embaixada Portuguesa no Brasil; José Bouças de Oliveira, TVS (S.Tomé e Príncipe); António dos Santos de Matos (Díli); Paulo Lima, Associação de Jornalistas de Cabo Verde (Praia); Humberto Monteiro, Gazeta de Notícias (Guiné). Comentário de José Carlos Vasconcelos, Jornal de Letras (Lisboa)

18h – Sessão de encerramento

Relatora Norma Couri, Visão (São Paulo). Intervenção final Nuno Morais Sarmento, Ministro de Estado e da Presidência de Portugal