Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Cerco ao Capitólio, Falha da Inteligência e da Polícia

Foto: Twitter/Reprodução

Após as invasões inconstitucionais e contra todas as leis internacionais a Afeganistão e Iraque, o escândalo da prisão iraquiana de Abu Ghraib, os assassinatos em massa de civis em solo afegão, as revelações de Julian Assange e Edward Snowden, a imagem que os Estados Unidos fazem de si, de um país exemplar em termos democráticos, vai definitivamente à lama neste final de mandato de Donald Trump.

Após a incendiária invasão ao Capitólio (Congresso) na capital de Washington por apoiadores de Trump, alegando fraude eleitoral ao ser incitados pelo presidente de saída da Casa Branca, o país norte-americano vive momento dos mais efervescentes de sua história, e cheio de incertezas.

Em breve conversa de sua residência na Virginia, John Kiriakou transmite impressões da transição presidencial mais conturbada que os americanos já testemunharam, além de ideias a fim de restaurar a “democracia profundamente fracassada dos Estados Unidos”.

Kiriakou foi agente da CIA de 1990 a 2004 quando renunciou ao posto, negando-se a fazer parte das aplicações de torturas na prisão de Guantánamo, contra supostos terroristas muçulmanos. O “denunciante relutante” como é conhecido nos Estados Unidos, acabou preso por dois anos e meio por ser o primeiro agente de inteligência de seu país a denunciar os métodos de tortura da CIA, segundo suas denúncias sob aprouve do então presidente, George W. Bush (filho).

Amplamente premiado nos EUA por isso tudo, Kiriakou é autor de diversos livros além de comentarista do programa Loud & Clear, da rádio russa Sputnik.

A seguir, a conversa com Kiriakou.

Edu Montesanti: Como os Estados Unidos chegaram a essa situação, quais fragilidades a democracia da América evidencia agora, ou pelo menos na era de Trump se for o caso?

John Kiriakou: Os acontecimentos dos últimos quatro anos mostram o perigo do populismo, que os Estados Unidos não viam desde os anos 1930. Donald Trump foi capaz de mobilizar pessoas brancas, raivosas de direita, e as convenceu de que são uma classe oprimida na América. Ele enfraqueceu ainda mais nossa democracia ao promover a mentira de que a eleição foi roubada dele, que o sistema é fraudado e que os brancos estavam sendo oprimidos por minorias. Isso prejudicou o país, porque muitos americanos agora acreditam na mentira de que nossas eleições são fraudulentas.

Como as pessoas poderiam sitiar e invadir o Capitólio, sem nenhuma ação anterior da inteligência dos Estados Unidos? O presidente Trump e seus apoiadores haviam insistido anteriormente em tomar ações como essa…

O cerco ao Capitólio foi uma falha completa da inteligência doméstica, e da aplicação da lei. Foi uma falha do FBI, da Polícia do Capitólio e de todos os departamentos de polícia locais que sabiam que as pessoas convergiriam para o Capitólio, especialmente depois de serem encorajados por Trump. O ataque mostra o fracasso da política do FBI, de se concentrar no extremismo muçulmano em vez de estar de olho na supremacia branca local. O Congresso também deve investigar rumores de que membros da Polícia do Capitólio ajudaram os desordeiros, e permitiram que eles entrassem no prédio. Há um tema ou problema contínuo com membros da polícia, que apoiam grupos extremistas de direita. Sabemos disso porque muitos policiais já foram pegos promovendo teorias da conspiração de direita nas redes sociais, tais como Facebook e Twitter.

“Temos uma democracia profundamente fracassada”, você disse a mim, John, em entrevista a Pravda. É evidente que as eleições a cada quatro anos em um sistema bipartidário não funcionaram para fortalecer a democracia falha nos Estados Unidos. O que deve ser feito, aproveitando a atual situação de profundo caos político e até social no país, por efetivos setores democráticos para aprofundar a democracia dos Estados Unidos?

Acredito que a única coisa que pode salvar a democracia americana é abolir o Colégio Eleitoral. Se os Estados Unidos adotassem um sistema em que o mais votado é o vencedor, não teríamos brigas sobre o Colégio Eleitoral, e não teríamos situações como em 1876, 2000 e 2016, em que o perdedor do voto popular foi o vencedor da presidência.

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Edu Montesanti é jornalista, escritor, professor e tradutor. Articulista de Pravda Brasil e Pravda Report (desde 2016), repórter da Revista Caros Amigos (2016 e 2017), articulista de telesur English (2017 a 2019), articulista de Global Research (Canadá, 2016 a 2019), articulista de Diário Liberdade (Espanha, 2014 a 2016), entre outros meios. Autor do livro “Mentiras e Crimes da ‘Guerra ao Terror'”.