Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Uma nova edição do “efeito Orloff”?

O empresário Pedro Luiz Passos, dono da Natura, que escreve semanalmente, às sextas-feiras, no jornal Folha de S.Paulo, cravou, em “Atitudes têm valor”, artigo de 12 de fevereiro último, depois de criticar as últimas propostas econômicas do governo brasileiro: “Com um mês na cadeira presidencial da Casa Rosada, Mauricio Macri (o novo presidente da Argentina), já conseguiu apenas com atitudes reverter o pessimismo dos argentinos e atrair atenção dos investidores de todo o mundo.”

Sem dúvida, o peso argentino caiu 40% – 40%! – frente ao dólar em 17 de dezembro último, depois da liberação do câmbio no país. Afinal, a revista Veja, em sua edição retrospectiva de 2015, de 30 de dezembro, já havia entoado no texto “O tempo das ideias certas”: “Depois de mais de uma década de kirchnerismo e chavismo, argentinos e venezuelanos foram iluminados pela ideia de que os gastos públicos desenfreados e a hostilidade à iniciativa privada levam ao desastre econômico.”

Sem reparar, mas já reparando, que Argentina e Venezuela não são sequer países vizinhos e que a derrota de Maduro na Venezuela foi só proporcional e no Parlamento, além de que kirchnerismo e chavismo são apelidos inventados – made in Brazil – vale aqui rever a curiosa relação amor-ódio Brasil/Argentina, particularmente na imprensa brasileira, desde Perón.

Uma inédita torcida fanática pelo empresário apartidário e candidato neoliberal Maurício Macri surgiu como do nada até na TV brasileira, na eleição presidencial do país vizinho no ano passado. O enfoque geral era a favor de Macri contra Cristina Kirshner, que nem pode competir diretamente. Globo, jornal e TV; O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo, Valor Econômico, Veja, Época, todo mundo comentou e comemorou a vitória de Macri numa patológica transferência da repulsa interna à presidente Dilma. Freud explica.

Aliás, vale a pena transcrever uma frase da ex-presidente argentina antes da eleição em seu país. “Há uma política deliberada (da oposição), feita em momentos precisos contra pessoas específicas, em que grupos se apoiam em um tripé de denúncia midiática, clivagem política de centro-direita e poder judiciário, articulando tudo para criar um clima prévio à campanha.”

No caso argentino, o clima foi criado, funcionou, Kirchner e seu partido perderam e o novo presidente já suspendeu o processo contra o monopólio do grupo de comunicação Clarín. No Brasil tudo indica que o mesmo pode acontecer este ano a partir das eleições municipais.

N.R.  “Efeito Orloff” é um jargão político baseado num antigo anúncio do Vodka Orloff, onde slogan era: “Sou você amanhã” . A expreesão  insinuava que Brasil e Argentina alternavam mudanças políticas, uma antecipando a outra.

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Zulcy Borges é jornalista