A executiva Carla Zambelli – uma das líderes da juventude oposicionista e “indignada” com a corrupção – disse que pouparia Eduardo Cunha nas manifestações do próximo dia 16 por conta de sua utilidade, acrescentando que ele deveria encaminhar de vez o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, para demonstrar de que lado está.
Mas a advogada Beatriz Catta Preta, que conduziu a delação premiada de uma série de acusados na Operação Lava Jato, deu entrevista ao Jornal Nacional sustentando que depois que seu cliente, Júlio Camargo, executivo da Toyo Setal, delatou o presidente da Câmara Eduardo Cunha, foi desencadeado um processo de intimidação e ameaças “veladas, cifradas”, contra ela e sua família, o que a forçou a radical decisão de abandonar a advocacia.
Catta Preta deixou explícito de onde provinham tais intimidações, declarando que “vêm dos integrantes da CPI, daqueles que votaram a favor da minha convocação”. Ou seja, a bancada de Cunha na Câmara está tentando usar os procedimentos do inquérito parlamentar para encobrir os podres do próprio. Não para esclarecer a corrupção, mas para acobertá-la.
Este quadro nos fornece a curiosa constatação de que os “indignados com a corrupção” são aliados dos que trabalham no Congresso Nacional para blindar certas figuras de rabo preso. Temos, pois, forçosamente, que esse movimento não se opõe à corrupção de fato, mas apenas a que talvez seja proveniente de seus desafetos políticos. Caso assim não fosse, jamais estariam dispostos a cavar trincheira ao lado do gângster Eduardo Cunha, que quer pôr o país abaixo para se safar da justiça.
Ascensão e queda meteórica
O impetuoso deputado, que ganhou notoriedade pela defesa eficaz da pauta de seus financiadores e da plutocracia em geral, deixou-se levar pela prepotência e megalomania. Tendo iniciado mandato reinando absoluto na Câmara, se julgou em posição de usar do autoritarismo e coerção indiscriminadamente, objetivando aprovar uma pauta retrógrada e incompatível com os anseios do país.
Valendo-se do antipetismo histérico e principalmente da interdição da proposta de democratizar os meios de comunicação, imaginou que teria apoio incondicional da grande mídia e de sua horda de zumbis.
O que talvez não tenha entrado em seu cálculo político – justamente por conta dos delírios de grandeza – é o fato de que sua sabotagem ao ajuste fiscal criou indisposições com o pragmático setor da burguesia vinculado ao capital financeiro, que prontamente usou de suas consultorias e agências de classificação para dizer que veem nele um fator de instabilidade. Outro fator é seu temperamento vingativo, que o torna útil à banca em certas frentes, mas inconfiável para cargos como a almejada presidência.
Talvez pelas razões acima expostas, a Rede Globo tenha resolvido rifá-lo com a bombástica entrevista de Catta Preta, evidenciando que a benevolência usual com que era retratado chega ao fim.
Eis que, não tendo chegado à metade de seu mandato, Eduardo Cunha se vê em franca desidratação. Isto o fará usar de seu poder minguante para intensificar os habituais métodos da chantagem e achaque, se assemelhando ao nadador que, prestes a ser tragado pelo mar revolto, se desespera e perde todo o fôlego com movimentos que só o afundam mais.
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Rennan Martins é jornalista