Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A cara do Brasil

Nunca antes na história do país um ex- presidente e um forte aspirante ao comando do Brasil passaram ,na mesma semana, um aperto parecido e foram junto para o banco dos réus – ou quase réus.. Uma semana antes o impeachment varria Dilma Roussef da chefia do governo brasileiro.
Quando Eduardo Cunha teve a cassação confirmada por 450 e apenas 10 votos amigos a seu favor no segundo julgamento mais esperado pelo Congresso o país , estarrecido , pensou  já ter visto tudo.
Faltava a denúncia mais surpreendente e até então julgada impossível, que viria do Ministério Público Federal. Lula é acusado de maestro, chefe, comandante máximo, general da propinocracia, da  organização criminosa que corrói o Brasil há meses, segundo o MPF, uma década,  investigada pela Lava-Jato.
Depois que o ex-presidente da Câmara, terceiro na linha sucessória do comando do país foi chamado de ladrão, psicopata, ave de rapina, truculento e arrogante só se pode imaginar o que vem por aí.
A denúncia de Lula vai ser acolhida – ou não – pelo juiz Sérgio Moro. E em pelo menos um processo Eduardo Cunha cai nas malhas de Moro. Segundo o ex-senador Delcidio do Amaral , também apanhado na mesma operação, a conta chega para todo mundo, ” essa fila ainda vai andar”. Isso porque, segundo o decano Celso de Mello do TSF, o Brasil sofre uma “delinquência governamental”.Esta semana Moro condenou o amigo de Lula e pecuarista José Carlos Bumlai a 9 anos e 10 meses de prisão e indiciou o ex-governador de minas Gerais, Fernando Pimentel ( PT) na Operação Acrônimo..
A Lava-Jato que investiga a operação concatenada para saquear os cofres da Petrobrás e outros órgãos públicos através de contratos fraudulentos achou o elo comum entre a máquina do PT e a máquina do governo. Só nos contratos com a OAS o MPF exige a devolução de R$87,6 milhões de reais afirmando que só em propinas utilizadas no triplex de Guarujá , e armazenamento de bens pessoais, Lula recebeu R$ 3,7 milhões.

“The impeachment country”

” Agora” , disse o relator do MPF, Deltan Dellagnol, ” Lula não poderá dizer que não sabia de nada ”
Mas disse. Os três acusados ou afastados nas duas últimas semanas saíram atirando. Dilma garantiu que haveria vingança . Cunha ameaça se torna homem-bomba. Lula viu só truque de ilusionismo “dos meninos de Curitiba” num espetáculo deplorável de pirotecnia sem apresentação de provas. “Os caras são analfabetos políticos”, reagiu numa defesa emocionada de 1 hora e 10 minutos interrompida três vezes pelo choro na qual se comparou nas perseguições a Tiradentes, Getúlio, JK, Jango, Brizola e Jesus. Dilma, Cunha e Lula estão seguros de que tudo é manobra para impedir que cada um deles participe do cenário eleitoral na disputa presidencial de 2018. E, como sempre, culpam a imprensa.
A revista britânica The Economist já chamava o Brasil  “the impeachment country”. A imprensa internacional relata a metamorfose de líderes brasileiros que passam de médicos a monstros com uma rapidez meteórica ou já consideram o Brasil ” um caso perdido” como veiculou um vídeo dentro da prestigiosa agência Bloomberg. Ao contrário, muitos brasileiros  acreditam que o país está mostrando a sua cara honesta denunciando e escavando denúncias que antes ficavam debaixo do pano.
Sem dinheiro, futuro econômico ou perspectivas, os brasileiros aguardam o que o dia seguinte vai reservar para o país antes abençoado por Deus.
Aguardam que se defina, se reconstrua ou se desmonte por completo a cara do Brasil, a imagem do gigante adormecido. E assim como Cunha está seguro do erro de 450 votos e Dilma, do equívoco placar de seu impeachment, os brasileiros se perguntam se só o Ministério Público Federal está errado. Ou, perplexos, se a imprensa comeu mosca e se é possível que, às custas do erário, todos foram enganados por tantos durante tanto tempo.