A nova prisão de José Dirceu — ex-deputado, ex-ministro e cérebro da ascensão do PT ao poder — tornou ainda mais tenso o clima político. O juiz Sérgio Moro, porém, teve o cuidado de advertir que não se deve esperar para já o exame dos dossiês dos acusados com foro especial (deputados, senadores ou governadores). Os nomes deste grupo mencionados recentemente no âmbito da Operação Lava Jato o foram por acaso, resultado das delações, não valendo como sinal da abertura formal de processos na instância apropriada – o STF.
Com isso fica evidente que o esperado confronto com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, dar-se-á em outra fase da Operação – talvez a 19ª ou 22ª.
Apesar do seu extraordinário significado simbólico, neste momento José Dirceu é peça secundária no tabuleiro de xadrez. Sua segunda prisão e a consequente acoplagem entre o Mensalão e o Petrolão fatalmente pesarão nas eleições de 2016 e 2018, mas a presença de Eduardo Cunha no poleiro do poder é uma ameaça concreta, imediata, permanente, à melhoria do cenário institucional, político e econômico. A presença de um caudilho fanatizado e messiânico no comando da Casa do Povo é apavorante.
Nossa mídia vibrou na manhã da segunda-feira, 03-08, a partir do noticiário televisivo e radiofônico referente ao início da 17ª fase da Lava Jato e a ordem para prender o ex-todo-poderoso dos últimos três mandatos presidenciais. Prova da cabal evaporação do nosso senso trágico, esta euforia é um doloroso indicador da intensidade da radicalização ideológica iniciada há um ano e da irracionalidade das cassandras (de ambos os sexos) que convertem a mídia no fator exacerbador e, não, moderador.
No fim de 2003, antes mesmo de assumir a Chefia da Casa Civil da Presidência e diante de uma crise econômica tão angustiante como a atual, José Dirceu lançou no programa “Roda Viva” da TV-Cultura, a ideia de uma linha de credito especial através do BNDES para ajudar as empresas de mídia sufocadas pela falta de crédito.
Convém lembrar que àquela altura havia mais títulos nas bancas de jornais e mais empresas jornalísticas com a língua de fora – o JB, “Jornal do Brasil, o mais famoso deles. Nenhum de esquerda ou, pelo menos, “progressista”.
Nenhuma empresa ou grupo opôs-se ou condenou a manobra de Dirceu como tentativa de subjugar a imprensa. Alguns encontros foram celebrados já na esfera do BNDES procurando contornar as naturais dificuldades sempre num clima de convergência de interesses. O projeto não avançou. Felizmente para as partes e sem qualquer dissabor ou contrariedade.
Porém, doze anos depois, o político que tentou oferecer um respiro à imprensa asfixiada, sem fôlego, é linchado com incrível ferocidade pelos sobreviventes.
Ao relembrar um episódio convenientemente esquecido não se pretende minimizar os malfeitos posteriores de José Dirceu, muito menos ignorar a perversa privatização da nossa mais importante estatal.
Numa hora em que cabível seria horror ou melancolia, vale a pena acautelar-se com os perniciosos efeitos da confusão de sentimentos. Diante do adversário caído, melhor despachar as fúrias e cuidar das batalhas seguintes.
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