Publicado originalmente no site Balaio do Kotscho
A reação a dois assuntos ocupou quase todo o espaço do Painel do Leitor da Folha no domingo, dia 9: Paulo Guedes chamar os servidores públicos de “parasitas” e o estudo da Escola Superior de Guerra em que o alto oficialato brasileiro, sem ter o mais o que fazer, prevê um cenário geopolítico para 2040, definindo a França como nossa grande inimiga.
Embora, à primeira vista, pareçam assuntos tão distintos, os dois se entrelaçam nos comentários dos leitores, que expressam melhor o sentimento dos brasileiros do que todos os analistas juntos, incluindo este blogueiro.
O ministro Guedes tocou num vespeiro ao falar em “parasitas” e despertou a indignação do leitorado a respeito do papel dos militares e da sua serventia para o país. “Vamos dar um trabalho para essa gente!”, pediu o leitor Renilson Júnior, de Valparaíso de Goiás.
Depois de ler todas as cartas dos leitores, achei melhor reproduzir alguns trechos aqui abaixo do que escrever uma nova e repetitiva coluna, pois já disse tudo o que penso a respeito do capitão e seus generais de pijama.
Ameaça francesa
“‘Elite militar brasileira vê França como ameaça nos próximos 20 anos’ (Mundo, 7/2). Isso é coisa de quem não tem o que fazer. Esses, sim, senhor Guedes, são os parasitas da nação. E falando em cortar despesas, para que precisamos de Forças Armadas? E desse tamanho?” Ademar G. Feiteiro (São Paulo, SP).
“Será que agora vão entender por que Bolsonaro quer introduzir o ensino militar para todas as nossas crianças? Inovará na difusão e normalização da estupidez humana”. Marcio Francisco Colombo (São José do Rio Preto, SP).
“Como é que oficiais que consomem parte significativa do orçamento com salários, aposentadorias e benefícios conseguem produzir tantos devaneios? A França já tirou sarro, saudando a ‘imaginação sem limites dos autores’. Essa gente não tem vergonha?” Luigi Antonioni (João Pessoa, PB).
“É sério isso? Essa tal ‘elite militar’ fez esse relatório e colocou a França como a nossa maior ameaça? Meu Deus, que tipo de tóxico essa gente usa? Gastamos bilhões com esses inúteis para eles ficarem fazendo roteiro de filme B? Que porcaria é essa, meu povo? Bora botá-los para construir hospitais, melhorar a educação e a segurança”. Marcos Oliveira (São Paulo, SP).
“É nisso que dá esse tanto de militar inútil no Brasil. Ganham muito, trabalham pouco e têm tempo de sobra para assistir a filmes de apocalipse na TV. Vamos dar um trabalho para essa gente!”. Renilson Júnior (Valparaíso de Goiás, GO).
Parasitas
“‘Guedes compara servidor a parasita e Estado a hospedeiro’ (Poder, 8/2). (…) Gostaria muito que o ministro Guedes me dissesse onde estão esses parasitas. Desconfio que estejam bem próximos dele”. Beatriz Ferraz Diniz (São Paulo, SP).
“(…) Ministro Guedes, o senhor é um mero servidor público (eu não sou), e não mais um banqueiro. Veja a sua entourage e diga quem muitos dos brasileiros consideram parasitas, imprestáveis e mercenários de aluguel”. Maria Ester de Freitas (São Paulo, SP).
“(…) A fala de Guedes é triste e revela falta de conhecimento para o cargo que ocupa. Que ele se aproxime de funcionários públicos e certamente descobrirá quanta gente competente e abnegada se dedica diariamente à melhoria da qualidade de vida desse mesmo povo que o ministro insufla covardemente contra os servidores”. Gustavo Zorzella Vaz (Bauru, SP).
“O problema não são os parasitas. O problema são esses sanguessugas temporários que, em pouquíssimo tempo, fazem estragos que levam anos para ser sanados”. Dario Thomaz (Novo Hamburgo, RS).
“Guedes deveria disponibilizar o diagnóstico, os textos e as pesquisas em que se baseia para fazer essas afirmações. Como leitor, desconfio que não haja nada disso e que suas afirmações são feitas com base apenas em ideias vagas e preconceitos”. Renato Venâncio (São Paulo, SP).
Um único leitor, Gilberto Alvaro, de Jaboticatubas, MG, saiu em defesa de Guedes: “Quem está na iniciativa privada sabe o quanto é cobrado e fica indignado com a qualidade do atendimento dos servidores públicos. Exceções existem, mas são poucas”.
São leitores de diferentes regiões do país e mostram o alcance nacional do jornal, dando a cada dia o termômetro do sentimento popular.
Se eu fosse editor da Folha, aumentaria o espaço para os leitores e diminuiria os artigos. Eles pensam e escrevem melhor do que o ministro da Educação e o chefe dele.
Todos os leitores ganhariam com isso.
Vida que segue.
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Ricardo Kotscho é jornalista.