Ninguém duvida de que estamos decidindo as eleições presidenciais de 2018 nesse início de primavera que embala as insossas campanhas municipais de 35 partidos em 26 capitais. Desde já as pesquisas prenunciam desestímulo, desinteresse, desconfiança, intenção de votos nulos e brancos, juventude transviada das urnas, ausência de liderança e programas, dissociação entre política e sociedade.
Nenhum candidato até agora convenceu , nenhum provou que política é um ato desinteressado e guiado pelo bem da nação. Ainda está para se consolidar aquele que pode desafiar o carisma de Lula se o ex-presidente disputar a parada em 2018, mesmo como cabo eleitoral.
Mas Lula agora é réu , a ex-Primeira Dama ,Marisa Letícia , foi indiciada , eles respondem por corrupção e lavagem de dinheiro numa corajosa e rara aceitação de denúncia por um juiz, no caso Sergio Moro.
Ato que o presidente do Senado, Renan Calheiros , insiste em qualificar de excesso de exibicionismo . O que nem faria mal num país onde a omissão de punição ao primeiro escalão dura séculos. Mas a ombudsman da Folha de S. Paulo denunciou a teatralização da denúncia de Lula, o embate discursivo, “como se leitores e espectadores fossem membros de um imenso tribunal do júri a serem conquistados antes no coração do que na mente”. Ela ainda denuncia a sensação de que o marketing está vencendo o jornalismo na cobertura da Lava-Jato. E tem razão.
Lula , por exemplo, diz que, se provarem a corrupção, vai a pé ser preso . Também afirma que ” por mais ladrão que seja” o político, sempre será mais honesto do que o ” concursado”, atirando certeiro no Ministério Público Federal que o denunciou. “Estão com medo que eu volte “, discursou está semana em campanha pelo Ceará.” Minha vida foi futucada por uns meninos do Ministério Público Federal”
Seja lá qual for o desfecho, o discurso de Lula é sempre mais temperado ao gosto do povo do que o de Michel Temer na Assembleia Geral das Nações Unidas . Esse é um defeito dos políticos atuais. Ao contrário de Lula, eles conversam e se digladiam entre si, não falam com as ruas.
Em educação e economia, somos uma máquina de gerar pobres. Duro admitir, somos atrasados, ficamos para trás. Isso se reflete tanto em quem joga o voto nas urnas como no perfil dos próprios candidatos.
Os líderes das eleições para as prefeituras de Rio e São Paulo misturam política e religião num país laico. O peso do voto pende mais para Deus do que para os habitantes da cidade. Buracos nas ruas, falta de escolas e creches, a indecente condição dos hospitais, o descaso com o cidadão, isso conta pouco na prática . Estas eleições estão forradas por outro vocabulário, criação de institutos fantasmas, abastecimento de doleiros, ocultação de patrimônio, pedaladas fiscais, empréstimos fraudulentos, doações de campanha no valor de R$16 milhões por 16 mil pessoas que recebem Bolsa Família.
A incógnita eleitoral
O ex-ministro da Fazenda foi parar quinta feira passada no xilindró. Embora não tenha permanecido mais do que cinco horas — por uma decisão humanitária de Sérgio Moro em atenção à mulher hospitalizada de Guido Mantega– abriu-se um novo capítulo nesta 34a. fase da operação Lava-Jato . Envolve mais propina do Petrolão em doações milionárias do empresário Eike Batista ,que também afirmou ter sido coagido por Mantega a doar R$5 milhões de reais ao caixa 2 do PT.
Nada animador, nada atraente, nada dignificante. O único artista que ousou dar a cara nessa campanha foi Chico Buarque, primeiro ao lado de Lula no impeachment de Dilma, agora nas ruas cariocas ao lado de Marcelo Freixo ( PSOL), o segundo nas intenções de voto no Rio , com 10%, abaixo de Marcelo Crivela (PRB) com 31%. Em São Paulo, onde os rumos de 2018 devem se definir, o prefeito Fernando Haddad (PT) está na 4a. posição abaixo de Russomano (22%), Joao Doria (PSDB, 25%), Celso Russomano (PRB, 22%) e Marta Suplicy (PMDB,20%).
O único personagem que arrisca de verdade é o juiz , como acontecia com Joaquim Barbosa . É o único que sobe nas pesquisas. Suas palestras tem ingressos que valem de R$60,00 a R$90,00 por pessoa e se esgotam em 72 horas como aconteceu esta semana em Nova Hamburgo, no Rio Grande do Sul. O tema nada apelativo “Enfrentamento da Corrupção Sistêmica”, atraiu 1500 pessoas.
Hoje, se Sérgio Moro se candidatar , pode virar o jogo. Não há ainda um vencedor dessas eleições mirando 2018. Por enquanto o maior perdedor está claro, é o PT.
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Alberto Dines é jornalista, escritor e cofundador do Observatório da Imprensa