O Brasil não passa por um momento de normalidade democrática, as instituições fingem que estão funcionando com naturalidade, mas os bastidores são de muita pressão e tensionamento por conta da instabilidade política.
Instabilidade crescente desde o golpe de 2016, quando um Ministério Público sem transparência, um Supremo Tribunal Federal acovardado e a famigerada Operação Lava Jato destruíram os meios de produção, levando o país a números recordes de mão-de-obra desempregada.
Desgovernado, o Brasil fez a transição do vampiro para o inominável, afundando de vez na barbárie, na desconstrução de valores culturais e éticos, atingindo e exportando os maiores índices de vergonha da história.
Vergonha institucionalizada como já foi a escravidão que promoveu, durante mais de trezentos anos a relação social de produção, que consistia no rapto de homens e mulheres africanos para serem vendidos no mercado em outros continentes.
Toda essa desestabilização, com gente em treinamento fascista o tempo todo e com demonstrações de racismo, vão se tornando cada vez mais públicas e empoderadas, por definição e conceito, pelo governo federal.
O ex-Ministro da Educação nos governos progressistas do Partido dos Trabalhadores, Fernando Haddad, em entrevista à TV 247 acredita que vai acontecer uma transformação social no Brasil no século XXI, fruto do investimento que foi feito em educação superior para pobre, para preto, que não tinham lugar na universidade brasileira, a não ser na limpeza e na segurança: “Prevejo que o racismo, que sempre foi negado nesse país, vai recrudescer em um certo sentido por uma razão: justamente porque ele está sendo superado materialmente. Racismo se supera materialmente, não é só idealmente. É o negro na universidade, é o negro empreendedor, é o negro médico, é o negro advogado, é o negro desembargador, é o negro presidente da República; o negro e a negra. Então tem que se superar materialmente, se não é o quê? Que superação é essa? É uma superação real, em que a gente possa pensar em um Judiciário com outra cor, em um Executivo com outra cor, em um Legislativo com outra cor, a nacionalidade representada”.
O racismo no Brasil existe, não foi importado, a pessoa negra é vista como suspeita e invisibilizada como cidadã. Não à toa os casos de racismo acontecem com maior incidência em locais de consumo, que é o templo simbólico dos nordicistas que se consideram pertencentes a um grupo etnicamente superior.
A democracia racial só será possível quando mais homens e mulheres negros forem seus próprios representantes nas bancadas legislativas e no executivo para que, de maneira homogênea e progressista lutem contra o sistema de desigualdades.
Transcrição de alguns anúncios publicados nos jornais no século XIX, que são a raiz do racismo que vem sendo replantada pela sociedade brasileira desde sempre:
“Compro um escravo de 20 a 30 anos de idade, que seja fiel e entenda alguma cousa de cozinha”; “Preciso alugar uma escrava que saiba engoumar bem e fazer algum serviço de casa, como também uma ama de leite sem cria”.
Muito mais do que reparos sociais, o brasileiro e brasileira negros precisam da própria voz para quebrar o racismo institucional, afastar a pobreza, violência e a discriminação que são um reflexo direto de um país que normalizou o preconceito.
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Ricardo Mezavila é cientista político com atuação nos movimentos sociais no Rio de Janeiro.