Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

É hora de processar Bolsonaro na Corte Internacional de Justiça

(Foto: Fotos Públicas)

Não vamos esperar que o presidente Bolsonaro, num gesto de desespero, provoque uma fratura nas forças públicas e militares e tente lançar o país numa guerra civil.

Neste momento, reforçado pelas manifestações contra o nazifascista Bolsonaro em todo o país, é importante começar a reunir os elementos para incriminá-lo, tanto ele como sua família com um processo por crime contra humanidade na Corte Internacional de Justiça.

A reação negativa aos atos autoritários e ameaças proferidas por Bolsonaro, que envolvem a estabilidade física da região amazônica com repercussões no equilíbrio de todo o planeta, já criaram uma frente de resistência internacional.

A falta de uma política de proteção da população contra o avanço do Coronavírus no Brasil vem aumentando a cada dia o número de contaminados e mortos. Além de não proteger o povo, Bolsonaro estimula grupos religiosos fanáticos, de mentalidade medieval, contrários à quarentena, contrários ao enfrentamento científico da pandemia, incentivando uma estranha resistência com orações, rezas e fetiches bíblicos, provocadores de contaminações suicidas.

O surto nazifascista, no qual se apoia a família Bolsonaro, não é majoritário. Conta, na verdade, com um grupo minoritário, mas extremamente ativo, de manipuladores religiosos e verdadeiros falsos profetas enganadores, cujo objetivo é o de destruir as bases culturais brasileiras para substituí-las por crenças exportadas pelos Estados Unidos, numa invasão subliminar religiosa, com o objetivo de dominar o maior país da América Latina.

Esse processo de cegueira coletiva usa ao extremo os símbolos patrióticos nacionais, como a bandeira e suas cores, ao mesmo tempo em que procura destruir a nação brasileira, suas origens, suas florestas e suas riquezas. A chamada mensagem do Evangelho é utilizada como pretexto para destruir aldeias e populações indígenas, apossando-se de suas terras, a fim de transformar o Brasil num imenso curral de gado, sem se preocupar com as danosas consequências em termos de desertificação para toda a região amazônica.

Nada justifica a transplantação para o Brasil de um lendário faroeste americano. Nossas terras já foram demarcadas, nossa cultura prevê o respeito aos povos indígenas, aqui existentes antes de Cabral. Nossa literatura e nossa poesia cantam o respeito às nossas riquezas naturais — nossas árvores, nossos pássaros e nossa riqueza natural que deve ser preservada na sua variedade e não sacrificada para dar lugar a fazendas de gados.

Bolsonaro e sua família querem destruir o Brasil, acabar com suas lendas, seus contos, seus Monteiros Lobatos, Josés de Alencar, Castros Alves, Olavos Bilacs, nossa diversidade branca, negra, tupi, indígena, e substituir nossas histórias e lendas pelas histórias míticas do velho e novo testamento, ou de cowboys armados e atirando, mesmo se não temos desertos.

Vamos processar na Corte Internacional de Haia, na Holanda, essa família de bandidos, que demonizou o exercício do poder e mesmo “acafagestou”, vulgarizou e vem reduzindo nossa própria e rica língua portuguesa a alguns vocábulos de palavrões.

Quantos crimes estão sendo permitidos, além deste maior, desse genocídio causado pela má gestão e má proteção do povo diante do ataque do coronavírus, ao qual agora se procura esconder do povo e do mundo o número diário de mortes?

E por que ameaçar sair da OMS? Só porque ela exige clareza no tratamento da pandemia, privilegia a quarentena?

Centenas de milhares de brasileiros estão morrendo por falta de proteção, por falta de tratamento adequado e por falta de ajuda econômica neste momento de crise. A família Bolsonaro é cúmplice desses crimes e deve ser processada por isso.

No Brasil será difícil? Existe o recurso do processo fora do Brasil junto à Corte Internacional de Justiça. É hora de se fazer justiça e de se honrar a memória de tanta gente morta por falta de proteção.

Advogado com registro na OAB, apelo aos meus colegas e à própria OAB, para nos mobilizarmos nessa frente ampla contra esse crime organizado. Existem colegas com muito mais experiência que poderão cuidar do texto base da denúncia. Leitores poderão dar seu apoio nos comentários para reforçar a denúncia junto à Corte Internacional de Justiça.

P.S.: Isso me lembra o Encontro com a Liberdade, no texto Paramount em São Paulo, em janeiro de 1967, contra a Ditadura Militar. Começou assim, num texto convocatório meu e do Ivan de Barros Bela, ambos jovens jornalistas do Estadão. Conquistamos o apoio do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e o ato público reuniu junto com o ex-senador Mario Martins, cerca de quinze grandes lideranças nacionais contra a Ditadura Militar. Teatro repleto, éramos mais de cinco mil. Para muitos de nós, foi o começo de uma longa luta que incluiu o exílio.

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A Rebelião Romântica da Jovem Guarda, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil, e RFI.