Publicado originalmente pelo Balaio do Kotscho
“Em uma democracia, governantes que conclamam a população a festejar uma ditadura de assassinos, de corruptos e de torturadores que tomou o seu próprio país por 20 anos seriam objetos imediato de destituição”. (Vladimir Safatle, em “O dia da infâmia, na Folha)
O que estão esperando ainda para destituir o pândego colombiano Vélez Rodriguez do Ministério da Educação?
Deveria ter sido demitido sumariamente na quarta-feira, quando foi desmoralizado na Câmara pela jovem deputada Tabata Amaral, de 25 anos, que revelou toda a incompetência e desconhecimento dele para comandar o principal ministério de qualquer país civilizado.
Para mim, não foi nenhuma surpresa. Fui o primeiro repórter a escrever, na Folha, no início da campanha eleitoral, sobre a heroica trajetória de vida de Tabata, da periferia de São Paulo até Harvard, onde ela se formou — o exato oposto deste desclassificado professor levado para o MEC pelo doidivanas guru Olavo de Carvalho, com a ajuda dos filhos de Bolsonaro.
Se Tabata fosse a ministra, estaríamos melhor servidos, mas isso é inimaginável neste governo paramilitar que coloca em risco o futuro da nossa democracia.
Era uma tragédia anunciada, mas levou menos de três meses para o Brasil descobrir com quem estamos lidando.
Com o Ministério da Educação conflagrado pela disputa de poder entre grupos de militares, olavistas e cristãos, temos aí um perfeito retrato deste desgoverno em marcha batida para o caos.
Como era de se esperar, nesta sexta-feira o capitão Bolsonaro desempatou o jogo, ao nomear o tenente-brigadeiro Ricardo Machado Vieira para secretário-executivo do ministério, com a missão de tutelar o ex-ministro ainda em exercício do cargo.
Nem mesmo no auge da ditadura militar propriamente dita, que Jair Bolsonaro está comemorando estes dias, tivemos tantos militares no Palácio do Planalto e nos ministérios.
Agora não basta apenas trocar o ministro porque toda a estrutura do ministério foi demolida pelo colombiano ensandecido.
Tribos de evangélicos da “escola sem partido”, de olavistas combatentes do “marxismo cultural” e de militares que querem militarizar o ensino já ratearam entre eles os principais cargos técnicos do ministério que está em colapso, completamente paralisado.
Tudo isso aconteceu à luz do dia, sem que as entidades representativas do setor e da sociedade civil dessem o alarme para denunciar o que estavam fazendo com a Educação brasileira.
A guerra no MEC começou ainda antes da posse, quando Vélez Rodriguez escanteou o tenente-coronel Paulo Roberto, coordenador da área no governo de transição, que contava também com o general Oswaldo Ferrreira.
Cada grupo agora tem seu próprio candidato à sucessão de Vélez Rodriguez e esta guerra não tem hora para acabar.
Se fazem isso com o Ministério da Educação, não é difícil imaginar o que acontece nos subterrâneos de outros ministérios num país assolado pelo desemprego crescente, como mostrou ainda hoje novo levantamento do IBGE.
Está tudo virado de pernas para o ar, à espera da salvação da reforma da Previdência, como se isso pudesse resolver todos os nossos problemas, enquanto o capitão viaja pelo mundo para combater o “comunismo” na Venezuela e bajular seus aliados da extrema-direita como um Napoleão do Twitter.
Assim como abri este texto com a epígrafe do filósofo Vladimir Safatle, reproduzo abaixo, para encerrar, o último parágrafo da sua coluna:
“O dia 31 de março sempre será na história deste país, o dia da infâmia e da vergonha. Se alguém esqueceu, nós podemos lembrá-lo”.
***
Ricardo Kotscho é jornalista