Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Podemos dizer Bom 2022?

(Foto: shiguemoto25/Pixbay)

Enquanto enchíamos a taça de champagne e os sinos começavam a anunciar a meia-noite do 31 de dezembro de 2021, muitos de nós pensávamos se valeria mesmo a pena brindar a chegada desse novo ano, 2022. Existem alguns sinais de que será um Bom Ano Novo para nós brasileiros?

Uma rápida lembrança dos doze meses passados não é nada animadora. O balanço feito pelos jornais foi negativo, crítico e pessimista. Com base nisso, é melhor imitar Cassandra com suas profecias negativas e imaginar não vir muita coisa boa pela frente, baseando-se nas perdas registradas em praticamente todos os setores provocadas por um presidente sem a formação necessária para governar? Crise sanitária, floresta amazônica, empobrecimento da população, descontentamento generalizado, aumento do custo de vida, chegando mesmo a ocorrer a descrença entre os evangélicos, antes a base sólida e quase divina de apoio a Bolsonaro.

Há ainda alguma chance para que 2022 seja um Ano Feliz?

Os otimistas parecem apostar na ilusão porque, exceto as folhas do calendário, nada assinala sinais de mudança.

Mas haverá eleições, alguém tentará me animar. E eu perguntarei, mas quando? No fim do ano? E mesmo que o atual presidente perca, até quando ele irá governar? Até quando?

Até 31 de dezembro de 2022, ou seja, esse presidente considerado o pior, desde a proclamação da República brasileira, irá governar ainda um ano inteiro.

Isso não é nada animador, diante da queda do prestígio internacional do Brasil, com a quase perda do direito de voto na FAO, o órgão da ONU dedicado à agricultura, por não ter pago suas dívidas acumuladas. Depois da mentira apregoada por Bolsonaro em Dubai, nos Emirados Árabes, negando haver desmatamento na Amazônia, ninguém mais leva a sério o capitão. Seu governo não tem nenhum prestígio nas organizações internacionais.

Em síntese, o ano de 2021 foi uma tragédia para o Brasil.

Ainda nos últimos dias de dezembro, foi publicada uma decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Nunes Marques, indicado pelo presidente. O que foi que ele decidiu? Enquanto o presidente gasta milhões com suas viagens de férias, levando consigo sua comitiva acostumada a comer picanha à farta, até estourar a barriga, o ministro Nunes Marques decidiu colocar na prisão uma mulher pobre, que pegou num supermercado uma caixa com chicletes e chocolates, no valor de 50 reais. Ela nem chegou a ficar com os chicletes e os chocolates porque foi presa em flagrante.

Derrubar um pedido de habeas-corpus, impetrado por um advogado de pobres, oito anos depois de ocorrido o delito, confere ao ministro a mesma imagem do inspetor Javert. Essa mesma severidade será usada, se couber ao ministro Nunes Marques julgar ou dar seu voto no caso do roubo chamado “rachadinha”?

Essa notícia, no fim do ano, acabou com minhas poucas esperanças de um Brasil melhor! Não estamos longe do tempo em que se açoitava e matava escravos que roubavam um pedaço de pão. Decisões desse tipo levaram os miseráveis à Revolução Francesa; quem leu “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, viu lá relatos semelhantes.

Foi pensando nesse Brasil do ministro Nunes Marques que terminei o ano 2021. O ministro ganha mais de 39 mil reais por mês e achou que um roubo de 50 reais não é insignificante!

Que num Brasil empobrecido, com um número enorme de desempregados, onde milhares de pessoas correm para disputar o que comer no lixo ou nos caminhões de lixo, sua excelência ministro Nunes Marques, pela prisão de uma mulher pobre, me impede de ver qualquer melhora no ano 2022.

Por isso e por tantas outras coisas acho que 2022 vai ser péssimo e pior que o 2021. Quando se tem um presidente que não se abala com a tragédia dos baianos, preferindo tirar férias na água morna catarinense e ministro que condena gente pobre e miserável, quando vão se gastar milhões na campanha eleitoral e isso com votos dos parlamentares bolsonaristas mas também dos não bolsonaristas, num país assim, existe esperança, existe Feliz Ano Novo?

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.