Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Governo deixou a fiscalização com as empresas e deu no que deu

Alguns meses atrás o ministro da agricultura, Blairo Maggi, anunciou medidas que chamou de “desburocratização do agronegócio”. Um dos pontos fundamentais foi a redução da fiscalização sanitária.  De novo: redução da fiscalização sanitária.

Falou mais: “Temos de confiar mais nas empresas que fazem. Quem vai penalizar as empresas, uma vez erradas, pegas numa infração, é o sistema de fiscalização, mas é principalmente o mercado que tem de punir aquele que faz as coisas erradas. ”

Isso foi em setembro do ano passado. Seis meses depois as consequências estão aí, nos jornais e no seu prato.

Nas redes sociais, com sua capacidade de desfocar a centralidade dos problemas, a tônica foi a briga descabida e infantil entre veganos/vegetarianos e aqueles que comem carne.

Eu não como carne. Mas se você também não como carne, por quê se importar com isso?

Porque a indústria de carne movimenta 7 milhões de empregos. Como não se trata de uma opção ou mudança no perfil da alimentação da população, a queda abrupta do consumo interno e da exportação da carne de forma artificial e suas consequências  não é e nem nunca foi solução para os problemas causados pela alta produção e consumo da carne, quer sejam eles quanto aos problemas causados ao meio ambiente ou aqueles oriundos de natureza ética. O corte vai sangrar não só parcela desses trabalhadores, mas também todos aqueles que deles dependem e sua cadeia produtiva. De uma maneira ou de outra, seja de forma direta ou através de suas consequências, chegará em você (por enquanto em forma de memes, mas vai ficar mais sério).

Talvez, se contássemos com uma imprensa séria e investigativa e uma polícia federal mais afeita aos critérios de investigação e menos à exposição midiática, esse assunto poderia estar sendo tratado de forma mais eficiente e menos espalhafatosa, com mais resultados e menos prováveis malefícios aos trabalhadores e à sociedade. Mas já que não é e não foi assim, fica a pergunta: num país sério, esse ministro já não teria sido convidado a sair pela porta dos fundos?

Como ele mesmo predisse, com menos fiscalização será o mercado que irá punir. O mercado externo já está punindo. E quanto ao ministro?

Veja a entrevista do Ministro Blairo Maggi no lançamento do programa Agro+

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Alexandre Marini é sociólogo e professor