Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

O salvo-conduto da mídia

A Operação Lava-Jato, considerada a maior investigação sobre corrupção da história brasileira, afeta empresários, políticos, mas também a imprensa. Pelo menos neste momento. É certo que a dinâmica do trabalho dos procuradores da República e da Polícia Federal quase não permite pontuar algo, já que constantemente há novidades e deflagrações na operação.

Contudo, abre-se uma janela para algo que se pode considerar como um tipo de salvo-conduto da imprensa. Não é raro a mídia brasileira ser julgada e condenada como golpista e complacente, às vezes vista como cúmplice de personagens políticos de caráter duvidoso. Porém, o jornalismo brasileiro de hoje, que atua já há um tempo fazendo a cobertura da política polarizada do país, colhe frutos de ambos os lados. Até quem inconscientemente ataca, demonstra em postura certo reconhecimento. Explico melhor.

Neste final de maio, o início dos trabalhos do novo governo foi abalado com a publicação na imprensa de um vazamento de áudio de Romero Jucá, que sugere um “pacto” para estancar a sangria que advém da Lava-Jato. O diálogo do escolhido por Temer como Ministro do Planejamento é com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Com mais de uma hora de gravação, a conversa é registro de março do ano passado deste ano e está em posse da PGR (Procuradoria Geral da República).

Daí, o que se percebe como repercussão não apenas destaca o trabalho do quarto poder como se registra um reconhecimento. Nas redes sociais, salas de universidades, ou nas ruas, o que se viu foi a manifestação daqueles que outrora questionaram o grampo vazado entre Lula e Dilma, mas que agora veem também em áudios vazados a oportunidade de atacar opositores políticos.

“Pau que bate em Chico…”

Os que bradaram nominando a mídia como parcial e golpista compartilham matérias, reportagens e artigos trazidos a público pela própria mídia. A ironia vai além ao fazerem manifestações – em blogs ou redes sociais, contra a imprensa, que teria sido cúmplice de um golpe – que se sustentam e se alimentam com o trabalho realizado pela própria imprensa. O jornalismo brasileiro, diverso e plural e que carrega, sim, muitos conflitos, sofre por vezes críticas de que é omisso e encobre muita coisa. Todavia, em muitos casos, essas críticas vêm acompanhadas de uma reportagem em anexo, ou link sugerido para outro texto.

A Operação Lava-Jato, que tem cerca de 500 investigados, entre empresários, políticos, e empreiteiras, traz a oportunidade à imprensa brasileira de demonstrar que, independentemente de cor, legenda ou instância, será manchete todo aquele considerado como alguém que lesou os cofres públicos e/ou a pátria.

Com isso o mundo se torna cor de rosa? O fim será que todos serão felizes para sempre? Não. Mas hoje a imprensa tem a chance de demonstrar o que sabiamente ensina o dito popular – “pau que bate em Chico, bate em Francisco”. É algo que vale a pena observar.

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Leonardo Rodrigues é jornalista e chargista