Nossa “gerenta” maior, a doutora presidente Dilma Rousseff, cantada (ou será decantada?) em verso e prosa como a personificação da excelência em gestão corporativa pelo ilibado e insuspeito ex-presidente Lula, é mesmo uma gozadora incorrigível. Depois de ludibriar todo o mundo com leriado eleitoral na medonha campanha de 2014, ela agora sinaliza querer assumir o comando de alguma coisa que se possa chamar “gestão” e, com sua credibilidade no fundo do poço, convocou – um ano depois de sua posse – uma reunião do famoso Conselhão, um saco de gatos de múltiplas cores, supostamente uma amostra da “sociedade civil”.
Só que a “gerenta” não estava ali para se aconselhar, mas para barganhar legitimidade para apresentar um pacote maluco, acidental, pontual – como tudo no governo, sem plano e sem planejamento – como foco do estímulo ao consumo. Um pacote com viés meramente financeiro que mexe como fundo de garantia do trabalhador transformando-o em seguro para zerar o risco do crédito consignado para todos os seus inscritos. Seria mais uma farra do consignado. E quem opera o consignado? Os bancos.
Dilma, na verdade, apresentou um pacote que beneficia primariamente os bancos, que hoje nadam de braçada em amplas margens de lucro e sofrem com o excesso de liquidez e a ausência de tomadores. É um pacote de comadre para o sistema bancário em uma operação consignada de risco zero e com taxa de administração. A farra dos consignados é a farra do setor bancário. Uma medida totalmente paliativa que não representa nenhuma ação macroeconômica – é mera enganação.
A ausência de indignação da imprensa
Agora, o mais irônico na circense reunião do Conselhão. Quem foi o grande porta-voz da sociedade civil a falar? Luiz Carlos Trabuco, presidente do poderoso conglomerado Bradesco – um dos bancos brasileiros com rentabilidade acima de qualquer investimento no setor produtivo. Pois foi o senhor Trabuco que nos ensinou que “na recessão, todos somos perdedores”. Trabuco, um grande credor da União e grande beneficiário da escorchante taxa de juros Selic. Trabuco é algo messiânico. Ele diz: “Hoje, temos uma pauta única no Brasil: o que nos angustia é como tirar o país da recessão”. E Trabuco é um dilmista aprendiz, quando tergiversa ao dizer: “Cada um de nós é protagonista do Brasil hoje, no sentido de que todos têm, hoje, parcela de responsabilidade”.
Ora, entenderam? Ele prepara o terreno – como Dilma – para passar a conta para cada um dos brasileiros, através da CPMF. Com esse imposto, todos perdem, exceto os bancos. Os bancos ganham com a taxa de administração mesmo que esta seja um percentual ínfimo. Portanto, quando Trabuco diz que “todos têm parcela de responsabilidade” certamente ele está falando em seu nome e em nome da Dilma. Não está falando em meu nome, nem em nome do contribuinte que, quando compra um quilo de pão carioquinha, paga 31% de imposto para o governo. Nós, o povo brasileiro, fomos ultrajados por essa gente que finge gerenciar esta nau sem rumo. A ausência de indignação da grande imprensa em relação a este porta-voz da sociedade civil, o sr. Trabuco, deve-se a um fato muito simples. Trabuco e o “Bra” de Bradesco é o grande patrocinador da mídia nacional hoje. É patrocinador do jornal em televisão de maior audiência, o Jornal Nacional, da Rede Globo, é patrocinador das Olimpíadas, é patrocinador de dezenas de ações na mídia. O “Bra”, hoje, não é Brasil. O “Bra” é de Bradesco. No país do Trabuco.
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Luís Sérgio Santos é jornalista e professor