Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Nuvens negras no horizonte

“Fatores domésticos manjados e deplorados concorrem para a crise econômica brasileira. Mas não se pode ignorar, também, a circunstância de que a crise mundial afeta a vida nacional” (Antônio Luiz da Costa, educador)

Ao nos louvarmos no que as manchetes e as colunas econômicas habitualmente propalam, o Brasil anda mal o tempo todo em matéria econômica. Em contraste, por sinal, com a relativamente bem-sucedida performance econômica dos países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Não existiriam lá fora, ao contrário do que estaria acontecendo aqui dentro, sinais tão pronunciados de fragilidade econômico-financeira com riscos de impacto negativo na economia geral.

As revelações de que nas primeiras seis semanas do ano em curso, em tudo quanto é canto do planeta, as bolsas despencaram, acusando o pior desempenho de um início de ano de todos os tempos (incluído aí o próprio período da chamada “grande depressão”) não são de molde a alterar em nada as doutas avaliações circulantes na mídia. A crise brasileira seria um fenômeno quase isolado no contexto mundial. Não estaria sujeita a qualquer fator de influência externa…

A circunstância de que, inesperadamente, da noite pro dia, como resultado do frenético e enigmático jogo das bolsas, evaporou-se soma equivalente a 24 trilhões de reais, praticamente duas vezes a riqueza bruta nacional, não estimulou analistas conceituados a reverem os conceitos – a admitirem a ligeiríssima possibilidade de que a conjuntura internacional possa estar, de alguma maneira, acrescida das manjadíssimas distorções comportamentais domésticas, afetando as atividades econômicas brasileiras neste momento. Difícil supor que um esquema desses, com tais características de informação incompleta ou de desinformação, não decorra de uma disposição clara, sabe-se lá com que propósitos, de má vontade rematada com relação às coisas nossas.

Órgãos de comunicação são omissos

Há no ar indícios sólidos de enfraquecimento das estruturas financeiras internacionais. Inevitável associar alguns perturbadores dados da atualidade a situações vividas na crise de 2008 que tantos estragos deixou. Naquela ocasião, como se recorda, os governos norte-americano e europeus viram-se obrigados a injetar recursos astronômicos nas instituições financeiras envolvidas nas ações fraudulentas detectadas, impedindo com essa emergencial ajuda que a débacle econômica se tornasse ainda mais contundente.

Alguns dos indícios das fragilidades presentes do sistema econômico podem ser colhidos nos números constantes de estudos divulgados por organismos internacionais que acompanham a atuação das instituições bancárias. Num quadro demonstrativo do comportamento recente das 21 maiores organizações bancárias norte-americanas e europeias é assinalado que todas essas organizações, sem exceção alguma, sofreram quedas acionárias vertiginosas nas bolsas de todo o mundo em apenas um mês. Ativos fabulosos foram reduzidos quase à metade em curtíssimo período. Alinhamos na sequência alguns exemplos. O Unicredit, da Itália, sofreu desvalorização assustadora: 41,6%. A desvalorização das ações do Deutsche Bank, da Alemanha, o maior banco da Europa, foi de 39,1%. A do Crédit Suisse foi de 37,4%. No tocante aos demais bancos listados, as quedas de ativos andaram bem próximas dos índices acima apontados.

Alguma coisa bastante grave anda, na verdade, rolando no cenário econômico mundial. Nem tudo que acontece vem sendo, entretanto, trazido ao conhecimento da opinião pública brasileira pelos órgãos de comunicação social.

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Cesar Vanucci é jornalista