Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Bolsonaro e a destruição gradativa do Brasil

Foto: Leonardo Marques/ASCOM-MCTI

Faz alguns dias, o governo Bolsonaro cortou da verba destinada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, 600 milhões de reais que deveriam ser destinados às pesquisas já programadas pelos nossos cientistas. Em outras palavras, a verba já era uma merreca, digna de país africano; agora houve um corte de 90%.

Só isso basta para dar uma ideia do que está ocorrendo no Brasil de hoje!

Reduzindo em miúdos, isso significa que o Brasil decidiu ser um país sem ambição e sem futuro. País que não investe na ciência e na tecnologia, de acordo com a UNESCO, só pode estagnar e retroceder.

O presidente Bolsonaro, que é sem dúvida alguém sem um mínimo de formação intelectual e muito menos científica, talvez nem saiba o que significam pesquisas e a importância da alta tecnologia. Já não sabia para que servem as vacinas, tão logo começou a pandemia. Na sua lamentável falta de formação, propunha e ainda propõe ao povo como remédio contra o coronavírus, o kit Covid, uma mistura de remédio contra vermes da barriga e contra malária. E qual é o resultado dessa medicamentação contra a gripezinha, como dizia ele, na sua ignorância? A gripezinha já matou mais de 600 mil pessoas.

O pior é ter sido seguido, na sua ignorância científica e médica, por ministros, por membros de seu governo, e junto ao povo, por pastores evangélicos sem qualquer formação cultural, muitos deles propagadores da mentira e enganação chamada “cura divina”. No Brasil, por ignorância e estupidez, já morreram mais de 600 mil pessoas, quando segundo a média mundial de países que se trataram com vacinas, máscaras, lavagem das mãos e distanciamento entre as pessoas, teriam morrido centenas de milhares a menos. Mas como diria o pastor evangélico Malafaia, não precisamos chorar por eles, foram todos para o céu.

Porém, o Brasil de hoje, pasmem, não ocorre só o abandono ao nível das pesquisas científicas, tecnológicas e de inovação! Bolsonaro e sua equipe praticamente abandonaram o campo da educação. Uns por ignorância, como o presidente, outros por terem outro projeto: o da privatização dos ensinos primário, médio e superior, ligadas ao ensino religioso, atrelando o desenvolvimento da ciência aos dogmas cristãos, o que geralmente provoca entrave e retrocesso. Milton Ribeiro, o ministro da Educação, pensa outra coisa? Qual o nível hoje de nossas escolas primárias públicas?

O mundo contemporâneo avança e vive, em poucos anos, mudanças tecnológicas em todos os setores da vida humana, por isso a importância de uma boa educação básica, seguida de bons cursos médios e de formação profissional, mais excelentes cursos universitários. E para assegurar o desenvolvimento de um país, essa formação cultural, científica, tecnológica, profissional vem junto com o incentivo ao campo das pesquisas.

Ora, enquanto os EUA, Suíça, Alemanha, Japão incentivam e investem milhões na pesquisa, o que faz o governo Bolsonaro? chegou mesmo a cortar as verbas destinadas ao desenvolvimento do ensino online durante a pandemia. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Científico ficou, ou ainda está parado, por problemas nos seus equipamentos. O clima do governo Bolsonaro é o de descaso. Não se pode esquecer que muitas dessas pesquisas são também dedicadas a métodos e processos industriais. Só no governo Bolsonaro, já houve o corte equivalente a 5 bilhões de reais em educação. Sem renovação e atualização nos processos industriais de produção, surge o atraso, encarecimento e o uso de métodos obsoletos.

Segundo a Unesco, a Coréia do Sul, Japão e Israel investem uma média de 4% do seu produto interno bruto em pesquisas, enquanto o Brasil nem chega a 1%.

Se não há verba para os cientistas fazerem pesquisa, o que vai acontecer com o Brasil?

Vai ficar na rabeira de todo mundo, um país onde os idiotas, tontos e imbecis estarão contentes de sua ignorância. Para que serve a ciência? Não devem ter a mínima ideia. Onde está o Brasil de alguns anos, que se distinguia nos congressos científicos internacionais?

A imbecilidade é tanta que o gado apoiador desse governo de incapazes chegou a criticar o atual ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, por ter reclamado do corte de verbas junto ao governo! Será que esses idiotas não têm filhos jovens nas escolas e nas universidades, interessados em aprender e se desenvolver na ciência?

Hoje o Brasil virou um paiseco e perdeu todas as ambições, em tudo. Ouve-se falar no Brasil ou no exterior em música? Não, agora o bom é compor e cantar gospel! Existe alguma peça de teatro rodando o mundo, levando a cultura brasileira? Não, o Brasil não tem mais cultura. Há algum filme brasileiro estourando nos festivais internacionais? Não, não há mais clima. Nem na época da Ditadura militar se viveu tamanha pasmaceira; Bolsonaro não está matando apenas árvores e secando rios, ele está destruindo a cultura brasileira.

E deve estar pensando, ele que diz chorar fechado no banheiro, por que tanta bronca contra mim? Para que serve a ciência? Quando os outros inventarem remédios, vacinas, instrumentos, métodos mais avançados, é mais fácil a gente comprar do que ficar empatando um dinheirão em pesquisas…

Pelo jeito, o país do gado e da agropecuária não quer mais cientistas, só quer boiadeiros. Cerca de 30 mil jovens cientistas brasileiros iam receber ajuda, bolsas para prosseguir suas pesquisas. Agora vão receber merreca, nada!

Todas as pessoas salvas nessa crise do coronavírus foram graças à ciência — são os cientistas que falaram para as pessoas se vacinarem, usarem máscaras, observarem o distanciamento umas das outras, e aconselharam as pessoas a lavarem bem suas mãos e usarem também álcool.

E o que vai acontecer? Nossos jovens cientistas irão procurar outros países. O Brasil exigiria hoje megaprojetos de desenvolvimento. Não há! Não há ambição, não há visão, é a ignorância e a imbecilidade no Poder.

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.