A Nova República não caiu , sequer começou. O temperamento de Dilma Roussef mostrou que ela é ingovernável, incapaz de controlar seus maus bofes. Caiu quando já não tinha mais nada a oferecer ao país. Caiu clamando vingança. No último minuto , enquanto Temer oferecia pacificação e união, ela levantou o sabre. Conseguiu fracionar o país novamente.
Quem garante é um filósofo, Renato Janine Ribeiro, com uma curta experiência como ministro da Educação no governo Dilma Rousseff: “Acabou o Fla-Flu”.Para Janine, PT e PSDB já não servem para a política, esgotaram-se de tanto vociferar. O coadjuvante (PMDB), como nas piores peladas , levou a bola para casa.
“Partidos rachados conseguem propor um futuro?” Partidos rachados conseguem ao menos montar um simulacro de sustentabilidade e confiança? Os dois , PT e PSDB saem de língua de fora.
Mudar foi bom, mas não o suficiente, não foi legitimado por um voto e sim por um golpe. Renato Janine Ribeiro pergunta, que horizonte temos hoje? Ninguém ganhou com a destruição dos dois partidos social-democratas que não conseguiram dialogar enquanto o Brasil naufragava nos últimos anos. O filósofo sabe que ambos não perceberam o tamanho do desastre. Nós , brasileiros, vamos descobrir na pele, nos próximos penosos meses.
O último capítulo do julgamento mais importante deste século XXI mostrou a face obscura e rasa do Brasil levando o país a extremos de vergonha e orgulho , dúvida e certeza. Traição, golpe, farsa, acusações, ofensas, Deus no meio de tudo, até Jesus Cristo baixou no Congresso.
O day after
No final , a imensa tristeza sobre o que o futuro nos reserva. Qualquer que fosse o resultado nos deixaria num beco penoso. Nem Chico Buarque ali presente nos deu a certeza de seu canto , ” apesar de você, amanhã há de ser outro dia…”– no caso de Chico, o alvo seria Temer. Não há nada a comemorar.
Palavras, mentiras, dúvidas, suspeições, o capítulo final terminou sem nenhuma grandeza, talvez só o suicídio de Getúlio ou a cicuta de Sócrates salvaria esta semana para a História.
Este “day after” é ainda mais árido do que o vivido pelos brasileiros no final das Olimpíadas.
A reconstrução do gigante adormecido vai levar tempo e custar muitas ilusões, ceifando parte dos sonhos imaginados quando o Brasil era grande e beirava o Primeiro Mundo.
Caímos, julgamos, acusamos, este capítulo final não teve vencedores nem heróis, não temos líderes nem carismas, acordamos no ponto morto, cansados de tentar arrancar durante tanto tempo.
Encolhemos, vai ter trabalho, muito trabalho, para voltarmos ao ponto zero.
Aquele Brasil grande que sonhamos é apenas um retrato na parede e nas capas das revistas estrangeiras. E como dói.
***
Alberto Dines é jornalista, escritor e co-fundador do Observatório da Imprensa