Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O blefe Gabriel Monteiro

(Foto: Wikimedia Commons)

O hipertatuado Gabriel Monteiro, musculado, influencer de mais de 5 milhões de seguidores no Instagram, vereador eleito com mais de 60 mil votos há dois anos pelo Movimento Brasil Livre, bolsonarista que já transitou entre os MBL, os PL e os sem partido, tem ótimas chances de ser cancelado no mundo mágico da Internet se o Conselho de Ética da Câmara de Vereadores do Rio aceitar a denúncia do PSOL contra ele.

Depois de virar matéria importante em diversos jornais e virar assunto de proa no Fantástico em duas edições, o vereador Chico Alencar e o advogado Lucas Mourão apresentaram a denúncia e aguardam que a representação seja aberta contra o ex-policial militar e youtuber de 27 anos. Caso contrário continuarão a colher mais 10 assinaturas para somar às 12 de vereadores cariocas que demonstraram repulsa ao colega.

O tema é o que a imprensa situa na rubrica “modernidade”. Estrela do mundo virtual, Gabriel é o tal ganhando até R$ 400 mil por mês. A mídia ajudou várias mulheres a desmascará-lo no mundo real por estupro, assédio moral, importunação sexual e agressão com arma de fogo para conseguir a garota que queria, no caso uma adolescente de 16 anos. Algumas dessas vítimas eram suas assessoras particulares no trabalho onde ele reinava no cantinho dourado da política.

Uma coisa servindo de trampolim para outra, Gabriel forjava vídeos escandalosos para atrair mais visualizações, seja filmando meninas durante o ato sexual ou explorando a pobreza de forma escandalosa ao “mudar a estética” e ensinar frases feitas às vítimas para provocar compaixão do tipo “meu pai é alcoolatra”; tô cum fome”; “num sei quando vou comer outra vez”… Tudo rendendo mais likes e mais dinheiro.

Gabriel Monteiro é fruto da mistura mal-feita de Youtuber com Polícia Militar e político. Vem sendo investigado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público, as vítimas torcendo para que ele se torne alvo certeiro do Conselho de Ética da Câmara do Rio, mas sempre se optava por aguardar provas mais contundentes. Aí a mídia entrou.

Escancarou provas evidentes para as mulheres que desde sempre vêm sofrendo essa humilhação de homens poderosos e sempre vencedores nos tribunais quando a denúncia é o estupro. As mulheres não denunciam ou não se identificam por medo ou vergonha, mas os vídeos de Gabriel Monteiro vazados por ele mesmo na poderosa Internet estão tipificados no Código Penal. Também na Vara da Infância e da Juventude que já obrigou Gabriel e retirar um vídeo onde mantinha relações sexuais com uma adolescente de 15 anos, com multa de R$ 30 mil por dia.

Se o PSOL conseguir que a representação seja aberta no Conselho de Ética, será não só um ponto a favor das mulheres. Ao sofrer denúncia o caso Gabriel aumentará o poder das mulheres-vítimas, mas, na mesma proporção, vai diminuir a superioridade de usurpadores de fama tanto no Instagram como na política. Servirá de alerta tanto a seguidores incautos da Internet como às meninas deslumbradas pelos tatuados, musculados, exagerados influencers que ascenderam à política por conta de nada.

A repulsa concorrerá para que a Justiça consiga desmonetizar o canal do chamado influencer e exponha a falta de decoro parlamentar. E viva a imprensa séria.

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Norma Couri é jornalista