O blog Farol Jornalismo na sua edição 97 reúne uma serie de textos para fazer uma análise super interessante sobre o estágio atual do movimento em favor do jornalismo local e hiperlocal. O texto parte de um artigo publicado na Columbia Journalism Review, por Jim Brady, para quem está totalmente errada a estratégia de sustentabilidade financeira adotada pela maioria dos projetos de jornalismo comunitário lançados recentemente nos Estados Unidos.
Reproduzimos a seguir a parte onde é tratado o tema do jornalismo local, mas vale a pena ver os demais textos do blog produzido por Marcela Donini e Moreno Osório :
Adiante!
Volta e meia falo que, com uma imprensa interconectada globalmente, o jornalismo local é ainda mais fundamental. Além de ser vital para o funcionamento das sociedades em que atua, ele será a primeira fonte quando alguma notícia local virar assunto nacional e/ou global. Mas, nos últimos tempos, a coisa não anda muito fácil para quem destina seus esforços jornalísticos às comunidades mais próximas. Por isso este texto da Columbia Journalism Review é interessante. Jim Brady faz uma espécie de diagnóstico-manifesto da situação do jornalismo local. Precisamos parar de matá-lo, diz ele. Pensar no que pode ser feito para fazê-lo crescer, e não ficar lamentando sobre o que não é possível fazer.
Ele prega uma revolução no jornalismo local. Segundo Brady, é preciso deixar para trás o que há de vitimização no discurso sobre as dificuldades enfrentadas pelo setor nas últimas décadas. “Para fazer isso, organizações de notícias precisam voltar a focar em coisas que muitos esqueceram durante a jornada: seus clientes e comunidades”.
Para Brady, a bagunça pode ser resumida em cinco tópicos:
Contínua falta de engajamento com o digital;
Modelo de negócios fadado ao fracasso;
Experiência do usuário é brutal;
Falta de um profundo compromisso com a audiência;
Cultura de redação ultrapassada.
Ele diz que esses cinco fatores combinados culminaram em uma estratégia de crescimento dependente do pageview, o que, consequentemente, exigiu um grande volume de tráfego e transformou os sites em um amontoado de anúncios. O que, por sua vez, afastou os veículos locais da audiência local. Além disso, fez catapultar o uso de ad-blocks. A resposta: os sites estão punindo quem usa esse tipo de recurso.
Tudo errado, segundo Brady:
“Mas será que a filosofia ‘eles vão ver só’ funciona em um mundo em que há centenas de sites de notícias que não cometem os mesmos erros em relação a experiência do usuário? E não caia nem por um segundo na armadilha ‘mas nós somos o único site que possui essa informação’. Essa filosofia funciona apenas se a informação é indispensável para a sua audiência. A maioria dos sites locais não possuem mais o tipo de jornalismo capaz de sustentar um modelo de negócio baseado em anúncios”.
Uma das soluções, segundo ele, é apostar na proximidade geográfica para falar diretamente com a audiência por meio de eventos. Ele diz que, em 2015, 84% da receita do Billy Penn, iniciativa local comandada por ele na Pensilvânia, veio de eventos. Mas esses eventos não são, em geral, protagonizados pelo veiculo, como seria previsível pensar. O Billy Penn, nas palavras de Brady, atua como “provocador”, ou organizador. A natureza dos eventos é variada: desde eu um baile de gala até um festival de cinema, passando por uma sessão de homenagens a cidadãos de destaque na cidade.
Apesar de Brady refletir (e apresentar alternativas) sobre o jornalismo local norte-americano, acredito que seja possível aproveitar principalmente o diagnóstico que ele traça. Se não for pra ler agora, sugiro favoritar o texto para ler depois.