Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

2004, um ano perdido


Salvador – O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal-arcebispo de Salvador dom Geraldo Majella Agnelo, acha que 2004 foi um ano perdido em termos de ação social de parte do governo e da sociedade. Ele também não observou ‘avanços’ no combate á corrupção. ‘Estou muito inclinado a ver que ainda é um ano perdido, contudo não quero culpar unicamente o governo, mas também os setores que procuram influenciar o governo a não fazer, a não se preocupar (com a área social)’, disse.

Para o cardeal, esses ‘setores’ não querem o crescimento e o desenvolvimento do Brasil, o que se daria ‘com uma boa educação e trabalho para todos e não com esmola’, numa crítica velada ao programa Fome Zero. ‘Não vou dizer que é um paliativo, mas tenho medo que as pessoas acham que se resolva o problema dando esmola desse jeito’.

Ele respondeu com um firme ‘ainda não’ ao ser indagado a respeito da queda dos níveis de corrupção no Brasil este ano. ‘Estamos preocupados com isso há muitos anos e surgiu até a lei de combate à corrupção eleitoral’, citou, informando que ao invés de se criarem outros mecanismos nesse campo para coibir o roubo, observou-se uma tentativa de mudar a lei anticorrupção. ‘Houve várias tentativas de esvaziá-la e ainda há’.

Dom Geraldo se diz preocupado também com o resultado da pesquisa do IBGE que constatou a obesidade como um problema maior no Brasil que a desnutrição. O cardeal duvidou dos dados e teme que se explore o resultado de uma forma que afaste ainda mais as políticas governamentais dos problemas sociais. ‘Ela (a pesquisa) não corresponde à realidade, pois fome e miséria existem, é só ir as favelas para constatar’, disse. ‘Não se pode dizer que essas pessoas não sabem comer’, declarou. O presidente da CNBB interpreta que esses dados tenham sido ‘jogados à opinião pública para arrefecer a preocupação com a pobreza e a miséria’.

Perguntado que nota daria ao governo do presidente Lula, dom Geraldo preferiu ser cauteloso. ‘Eu diria que nas intenções, se é que se pode julgá-las, daria uma nota bem alta já que ele não pode deixar de desejar o melhor para o País’, disse, ressalvando: ‘Na ordem da execução ele ainda não tem conseguido realizar (as intenções)’. O cardeal recomendou educação de qualidade em todos os níveis para começar a resolver os problemas do Brasil.