O YouTube está crescendo no consumo de vídeo no Brasil e atraindo milhões de usuários a assistirem vídeos em telas conectadas. Segundo os dados internos e divulgados pelo YouTube, 75 milhões de pessoas assiste à plataforma em televisores conectados à internet (https://shorturl.at/6WNtc), por outro lado, a informação não reflete a audiência, mas sim para entender o comportamento do consumidor.
O dado faz parte do Target Group Index, produto da Kantar Ibope Media, e foi feita de forma própria para análise de mercado, e apresentada pelo Google em um evento voltado ao mercado publicitário em outubro. Para audiência, a Kantar Ibope Media utiliza o Painel Nacional de Televisão (PNT) e o Cross Platform View (CPV).
A TV aberta ainda mantém uma posição de destaque no cenário nacional. Em 2023, segundo o Painel Nacional de Televisão (PNT) e o Cross Platform View (CPV), a TV aberta representou 64,5% do consumo de vídeo em residências. O YouTube aparece como o segundo colocado, com 16%. No entanto, quando se analisa apenas o consumo em televisores tradicionais ou conectados, a participação da TV aberta sobe para 73,6%, enquanto o YouTube ocupa a quarta posição, revelando diferenças no consumo por tipo de dispositivo. (Link: https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/daniel-castro/youtube-ja-e-maior-que-redes-abertas-plataforma-bate-record-mas-nao-a-globo-126558)
Por outro lado, o YouTube tem avançado e conquistando espaço no mercado de vídeo. De acordo com os dados divulgados pela Kantar Ibope Media, a plataforma cresceu 22% nos últimos dois anos e, em 2023, subiu 2,5 pontos percentuais em participação, alcançando 18,8% no painel de outubro (link: https://kantaribopemedia.com/audiencia-de-video/). Enquanto a TV aberta apresentava queda ou estagnação.
Esse novo cenário não se resume a uma simples migração do público, mas chama a atenção para um paradigma midiático, onde os próprios criadores de conteúdo estão criando oportunidades para emergir como protagonistas, levando empresas e anunciantes a repensarem suas estratégias. Um contexto de ruptura no modelo de negócios tradicional da mídia, abrindo espaço para a reflexão sobre como as pessoas estão consumindo conteúdos e como a audiência esta sendo moldada no século 21, em um novo comportamento no consumo de vídeo(https://f5.folha.uol.com.br/colunistas/cristina-padiglione/2023/03/youtube-e-netflix-superam-record-e-sbt-somados-em-tvs-conectadas.shtml) na internet.
Na era digital, a audiência deixou de ser mera espectadora e passou a ser uma peça-chave na criação e moldagem do conteúdo que consome. Neste cenário contemporâneo, o YouTube é um exemplo contundente desse novo paradigma (Link: https://shorturl.at/6WNtc). A plataforma se consolida como não apenas um local de entretenimento, mas uma arena de cultura participativa onde o público é ativo na disseminação, curadoria e criação de conteúdos.
Henry Jenkins, pesquisador norte-americano das novas mídias, argumenta que as mídias tradicionais, como a TV, são passivas, pois o espectador apenas recebe a informação, enquanto as novas mídias são participativas e interativas, impulsionadas pelas redes sociais. Essa transformação cultural, chamada de Cultura Participativa, incentiva os consumidores a buscar informações e criar conexões. Jenkins usa o termo para descrever como comunidades de fãs evoluíram para grupos que produzem e compartilham mídia com interesses coletivos.
Transformação cultural
O YouTube surgiu em 2005 nos Estados Unidos e chegou em 2007 no Brasil, consolidando-se como principal espaço de convergência cultural e participação ativa dos usuários, onde o público não apenas consome, mas cria, interage e define tendências. Esse novo comportamento evidencia a transformação cultural impulsionada pela Cultura Participativa, onde o poder midiático está cada vez mais nas mãos do usuário e menos nas grandes corporações de mídia. No Brasil, novos veículos de notícias e produtores de conteúdo independentes surgem na plataforma, enquanto os meios tradicionais também começam a investir para atender suas audiências. No entanto, o formato do YouTube ainda representa um desafio para muitas redações e empresas de comunicação se adaptarem.
Portanto, o que está em jogo é uma nova lógica de consumo e distribuição, potencializada pelo sistema de recomendação do YouTube, que personaliza e direciona o conteúdo diretamente ao interesse do espectador.
O jornalismo adaptado à plataforma do YouTube: concorrência ou oportunidade?
O jornalismo do século 21 tem convergido para novas mídias e formatos diferenciados, configurando outras possibilidades de consumo da notícia. Nesse contexto, o YouTube conta com mais de 2,51 bilhões de usuários ativos e mais de 1 bilhão de horas de vídeos visualizados diariamente.
Em 2009, Jean Burgess e Joshua Green investigaram como o YouTube era utilizado por indústrias de mídia, públicos e comunidades, mostrando que esses usos desafiavam as ideias tradicionais de produção e consumo cultural. Eles concluíram que a plataforma era uma inovação tecnológica por eliminar barreiras técnicas, permitindo que qualquer pessoa compartilhasse e consumisse vídeos online diretamente no site.
Segundo Cristos Goodrow, vice-presidente de engenharia do YouTube, o sistema inicial da plataforma, criado em 2008, classificava vídeos pela popularidade para formar a página de Tendências. Desde então, o YouTube evoluiu para uma curadoria de conteúdos personalizados, com aprendizado contínuo baseado em mais de 80 bilhões de dados.
Para oferecer esta curadoria personalizada de conteúdos, o YouTube coleta diariamente 80 bilhões de pontos de dados sobre o comportamento dos usuários, utilizando algoritmos para prever preferências e maximizar o engajamento e a satisfação de longo prazo dos espectadores.
Em resumo, o YouTube utiliza um sistema de recomendação baseado no interesse dos usuários. Na Consumer Electronics Show (CES) de 2018, o diretor de produtos do YouTube revelou que esse mecanismo de recomendação é responsável por mais de 70% do tempo assistido na plataforma, visando atrair os espectadores para conteúdos mais relevantes, aumentando o tempo de permanência no site.
O telejornalismo e a adaptação ao formato: repositório ou propósito?
O alcance do jornalismo no YouTube coloca a plataforma de vídeos como sendo mais popular no consumo de notícias, especialmente no Brasil. Neste panorama, é relevante compreender o atual potencial das notícias digitais e como as redações e os jornalistas podem evoluir para satisfazer essa necessidade.
Para adaptar-se às regras do YouTube e melhorar o desempenho, é essencial entender as métricas que medem essa performance e analisar o funcionamento das recomendações e dos vídeos na plataforma. Adotar uma postura proativa e aprender sobre o papel do YouTube é fundamental para construir uma presença eficiente. E quanto ao formato e consumo de notícias, os desafios vão além das estruturas tradicionais do roteiro de TV.
Isso implica considerar elementos como a verificação de métricas de desempenho, que determinam impreterivelmente o engajamento, retenção, audiência e distribuição do conteúdo. Mesmo os roteiros tradicionais de TV estruturam o telejornal, definindo a sequência das notícias, duração de reportagens, ordem de entrevistas e inclusão de elementos visuais e sonoros, guiando a produção e execução do programa. A adaptação do conteúdo às métricas de desempenho influenciam na classificação, recomendação e a distribuição. Sendo assim, o roteiro de telejornal, embora mantenha semelhanças na sua construção e sua importância na organização, deve ser adaptado para incorporar as características e demandas do ambiente digital.
Jornalistas com novas mentalidades e redações com processos definidos para a tomada de decisões em dados
Destaca-se a importância de cultivar conhecimentos direcionados ao universo digital, com ênfase na tomada de decisões embasada em dados. Isso implica a necessidade de profissionais capacitados e processos bem definidos, com fluxos de trabalho orientados a métodos e equipes dedicadas que avaliam essas informações.
Neste cenário dinâmico, a relevância do YouTube vai além de ser uma mera plataforma de compartilhamento de vídeos; ela se tornou um epicentro onde a informação se encontra com a audiência. Assim, ao considerar as métricas que regem o desempenho do conteúdo, fica claro que a plataforma não apenas responde às expectativas da audiência, mas também modela ativamente a forma como as notícias são buscadas, consumidas e compartilhadas.
Essa abordagem não apenas promove a competitividade em meio às diversas fontes de notícias e redes sociais, mas também desempenha um papel vital no fortalecimento da democracia. Ao garantir o acesso a informações de qualidade e confiáveis, os profissionais capacitados para tomar decisões baseadas em dados contribuem significativamente para a promoção de uma sociedade informada. Dessa maneira, o benefício se estende além da mera competitividade no ambiente digital, alcançando um impacto mais amplo e positivo na vida dos cidadãos.
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Ricardo Missão é jornalista e Mestre em Mídia e Tecnologia pela Unesp Bauru. Acumula experiência em jornalismo impresso, TV e online.