Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A psicopolítica da pós-verdade: ilusão, convicção e mentira

O psicanalista, escritor e professor universitário Tales Ab’Sáber esteve, no final de setembro, na UFSCar, Universidade Federal de São Carlos, para realizar a conferência “Ilusão, convicção e mentira: a psicopolítica da pós-verdade”. A fala de Tales marcou o encerramento do V CIAD (Congresso Internacional de Análise do Discurso) cujo tema “Discurso e pós-verdade: efeitos do real e sentidos da convicção” reuniu algumas centenas de pesquisadores de várias partes do Brasil, Europa e América Latina.

A visita de Tales coincidiu com o lançamento de seu livro: “Michel Temer e o Fascismo Comum” (Editora Hedra) que fecha a trilogia do autor sobre a política brasileira a partir da matriz teórica da psicanálise. As outras duas obras são “Lulismo, carisma pop e cultura anticrítica”(2012) e “Dilma Rousseff e o ódio político” (2015). Juntas elas retratam os anos de turbulência da política nacional e discutem temas como os discursos midiáticos, o carisma (ou sua falta) e os movimentos populares recentes.Tales também dirigiu junto com Rubens Rewald e Gustavo Aranda o filme “Intervenção – amor não quer dizer grande coisa” que trata da relação entre política e violência no Brasil.

Durante a visita a São Carlos, o psicanalista concedeu uma entrevista a um grupo de estudantes de linguística da Universidade , sob coordenação da Professora Luzmara Curcino Ferreira. Na entrevista gravada em vídeo e publicada nesta edição do Observatório da Imprensa, Tales discute a emergência da noção de pós-verdade relacionando-a ao contexto político internacional cuja marca é o rompimento com o antigo pacto progressista e democrático. O efeito dessas mudanças se dá de maneira particular nas eleições brasileiras de de 2018.

As verdades são sempre acordadas, resultantes de consensos sociais sobre os sentidos e, portanto, históricas, enfatiza o psicanalista. Ao se debruçar sobre o Brasil recente, Tales busca as raízes da intolerância a partir de uma abordagem psicanalítica que concebe também a dimensão social do inconsciente — já presente na obra de Freud — criando uma dissociação entre ação e racionalidade.

O seu objeto de análise é o crescimento da extrema direita no Brasil diante de uma fantasia do anticomunismo dos tempos da guerra fria, sem nenhuma relação com a vida contemporânea. Essa nova ordem simbólica se funde às mudanças tecnológicas e produz uma onda neoconservadora de regressão psíquica dos grupos sociais.

Veja a entrevista na íntegra.