Nos últimos anos, um neologismo tem chamado bastante a atenção da sociedade de maneira geral, e dos usuários da Internet, em particular. Trata-se do termo “haters”: palavra de origem inglesa que, em livre tradução para a língua portuguesa, significaria algo como “os que odeiam” ou “odiadores”. Nas redes sociais, os haters são conhecidos pelos comentários de ódio feitos em postagens alheias ou nas páginas virtuais de personalidades públicas associadas a pautas progressistas.
Embora represente um grupo social bastante heterogêneo, e ainda pouco estudado pelas diferentes ciências humanas, podemos encontrar alguns pontos em comum entre os haters. Independentemente de variáveis como classe social, escolaridade ou faixa etária, geralmente eles são indivíduos extremamente conservadores, defensores das “tradições” e dos “bons costumes”, temerários a qualquer modificação no status quo vigente e totalmente favoráveis a manutenção das hierarquias econômicas, raciais e entre gêneros. Não por acaso, as reivindicações das minorias por maior igualdade são uma das pautas mais atacadas pelos haters.
Para eles, abordar nas instituições escolares questões como desigualdades sociais, sexualidade e respeito à diversidade são práticas pedagógicas classificadas como “doutrinação comunista”, “ideologia de gênero” ou “kit gay”; cotas raciais não seriam necessárias, pois representam um “preconceito às avessas”; as mulheres que defendem seus direitos de não se submeterem à dominação masculina são rotuladas como “feminazis” e qualquer tentativa de um grupo social excluído em se levantar contra a opressão é “mimimi” e “vitimismo”. Dificilmente os haters tecem algum comentário nas redes sociais sem citar os clichês anteriormente mencionados. Para eles, “o mundo hoje está muito chato”, pois não se pode mais fazer “piadas” ou “comentários irônicos” sobre negros, gays, mulheres e nordestinos.
Os haters orgulhosamente se intitulam “cidadãos de bem”, “defensores da família tradicional” e “pró-vida”, mas basta entrarem em contato com alguma notícia sobre a prática de linchamento ou que relate a morte de um “delinquente” em ações policiais para logo bradarem uma de suas máximas: “bandido bom é bandido morto”. Seguindo a chamada “dialética erística”, nas discussões virtuais, os haters se destacam por atacarem o argumentador em vez de refutarem o argumento. Além do mais, dificilmente lemos algum comentário de um hater sem que recorra a uma palavra de baixo calão.
Os haters também são hábeis difusores de fake news. Se entrarem em contato com alguma informação que exalte aqueles com quem simpatizam ou difame os seus inimigos, logo eles irão compartilhá-las exaustivamente no Facebook ou no WhatsApp. A veracidade de uma notícia é o que menos importa, pois eles têm as suas próprias certezas.
Como o hater abomina opiniões contrárias, o fato de uma determinada página virtual compartilhar algum texto que entre em choque com as suas convicções já é o suficiente para “descurtir” e deixar de segui-la. Ele prefere viver em sua própria bolha ideológica, onde está mais seguro e não precisa se abrir ao debate com o contraditório.
Em suma, os haters odeiam, acima de tudo, a inteligência. Por isso os discursos de ódio e os ataques a quem pensa diferente são utilizados, sobretudo, para escamotear a sua maior fraqueza: o baixo nível intelectual. Essa é a grande (e inaceitável) frustração de um hater.
**
Francisco Fernandes Ladeira é mestre em Geografia pela UFSJ. Autor (em parceria com Vicente de Paula Leão) do livro A influência dos discursos geopolíticos da mídia no ensino de Geografia: práticas pedagógicas e imaginários discentes, publicado pela editora CRV.