Minha mãe Merquinha, uma sinhazinha mineira da roça, chamava fofoca de futrica, uma informação inventada com o objetivo de atacar alguém. Sempre de caráter pejorativo e destrutivo, fofoca, futrica, calúnia, infâmia ou difamação encontram terreno fértil em períodos eleitorais.
E isso não tem nada a ver com notícias falsas, norteamericanizando: “fake news”.
Primeiro, porque, para ser notícia — acadêmica e profissionalmente dizendo — e ser verificável pelo público-alvo enquanto retrato da realidade, o produto informativo tem, necessariamente de passar por várias mãos, em um processo que envolve uma estrutura formal reconhecida e legitimada pela sociedade, com CNPJ e inscrição nas juntas comerciais.
Segundo Marcondes Filho, no livro “O Capital da Notícia” (1986), “notícia é a informação transformada em mercadoria com todos os seus apelos estéticos, emocionais e sensacionais; para isso a informação sofre um tratamento que a adapta às normas mercadológicas de generalização, padronização, simplificação e negação do subjetivismo”.
Notícia falsa, portanto, é quando alguém publica alguma informação errada num veículo de comunicação legitimamente reconhecido e responsável juridicamente.
O que estamos vendo neste admirável novo mundo de redes sociais via internet é, simplesmente, a má e velha fofoca. E todos os lados e cores ideológicas da disputa espalham informações inventadas, às vezes até com alguma conexão com algo verdadeiro, a torto e a direito, querendo, menos que informar as pessoas sobre fragmentos da realidade, deturpar a realidade, em favor dos seus interesses eleitoreiros e político-partidários.
Por seu lado, as mídias comerciais tradicionais, vendo quase perdido seu trono como protagonistas no controle do fluxo da informação política ao alcance das pessoas, insistem em chamar de notícias, mesmo que falsas, a essa enxurrada de futricas nos nossos grupos virtuais. Acabam dando valor a uma fraude.
Isso é como chamar a ou o amante de “fake cônjuge”. São coisas de naturezas diferentes. Como diz a sabedoria popular, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
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Luiz Carlos Santana de Freitas é jornalista, mestre em comunicação e especialista em Direito Legislativo.