O que chama a atenção imediata do público e circula na internet? Como o usuário-interator é fisgado nas redes sociais? Por que disseminar essa ou aquela informação? Quem gera relevância e influência no universo online?
São muitas as perguntas que demonstram a preocupação de buscar respostas para esse sujeito contemporâneo: o influenciador digital. Será, talvez, a criação de uma nova e excêntrica profissão, como os youtubers, por exemplo?
Parece que cada vez mais os profissionais da comunicação têm feito esse tipo de questionamento para examinar e avaliar a realidade. A notícia tornou-se uma moeda forte no âmbito digital, cujo valor atinge direto a eficiência de marcas, produtos e serviços. Ou seja, a expectativa de abastecer a sociedade de informação garante um saldo gordo na conta bancária.
Já faz tempo que o sistema hegemônico atribui uma validação econômica convencional que assegura a dinâmica capitalista. O que está em voga torna-se a pauta do dia, sem grandes surpresas. Hoje, qualquer assessoria de imprensa, agência de notícia e/ou empresa de comunicação, ainda mais no Brasil, procura vestígios que inflamam o cotidiano para que a notícia seja “vendida” com maior impacto.
Se o papel do jornalista na produção da notícia passa a ser disputado pelo influenciador digital, é preciso (re)dimensionar a ética na produção da informação a partir dessa cultura digital. Sendo assim, produzir e distribuir informação torna-se um profundo desempenho de atividades (não) profissionais, que atravessam o âmbito tecnológico da comunicação.
Do influenciar
Nesse caso, pergunto: por que será que as pessoas, atualmente, desejam tanto influenciar outras pessoas, mas quase nunca se consideram influenciadas? É impressionante essa vontade de aparecer no topo da lista, na busca pela fama para estar na crista da onda.
Influenciar pede, de primeira mão, empatia: um envolvimento de se colocar no lugar do outro – embora nem todos possuam esse sentimento. Longe de ostentação, influenciar é impulsionar. Logo, influenciar demanda a habilidade para se comunicar bem e estimular, incentivar, convencer, motivar, manipular ou, até mesmo, persuadir o outro, como a voz imperativa entre aconselhamento ou ordenação. E isso requer diversos parâmetros, como tempo, dinheiro e técnica.
Existe, sim, uma troca entre a produção de sentido e a produção de efeito; a lógica do capital altera o interesse por mais valia da mercadoria (vide Marx) para o escopo do influenciador. Ele pode atingir o “sucesso” e, de modo irônico, não ser bem-sucedido na vida.
Aqui, influenciar seria qualquer atendimento que estabeleça uma condição plausível de ser (per)seguida ao instaurar a falta de privacidade. Sim, é uma perseguição admitir que as pessoas influenciadas passam para o status de afilhado, discípulo ou coisa parecida. É claro que alguém provocou isso!
Portanto, fique atento ao que deseja como influenciador digital, visto que suas decisões deixam rastros. Ou seja, não basta obter potencial discursivo para promover uma capacidade de transformação sem garantir a responsabilidade pelos atos cometidos. A manifestação pública constante produz relacionamento de causa e consequência.
Do conceito
Para o filósofo italiano Quintarelli (2019, p. 99), “chegar primeiro vale mais que ser o melhor”. Isso se aplica às estratégias do marketing online, que aborda o fluxo compartilhado de ideias como negócio. Não se trata de divulgar para determinado público, mas, sim, divulgar com a participação do próprio público.
Para o sociólogo belga Martelllart (2002, p. 168), “a ideologia da sociedade da informação não é outra que a do mercado”. De acordo com o número de seguidores, amplia-se a chance de obter lucro no mercado-mídia. É criar nicho, um recorte específico como segmentação apropriada.
O influenciador digital aumenta a autoestima alheia com credibilidade, segundo Guidotti (2019). Já numa redação de jornal ou revista, interessa produzir notícia como atividade comercial, enquanto nas comunidades a intenção é resolver problemas, conforme Castilho (2019). Como contradição, o volume expressivo de visualizações para ser um canal rentável estimula conteúdos sensacionalistas (FONSECA, 2019); o que passa a ser perigoso para dominar/controlar a situação.
Como produção de conhecimento, verificam-se debates e desafios para enfrentar esse protagonismo (hiper)midiático do influenciador digital. Quem pode criar conhecimento, quem monitora, quem o autoriza, quem o divulga, quem influencia e com que efeito? (BURDICK et al, 2012, p. 88)
Nesse contexto, é lamentável que as relações humanas fiquem bem mais superficiais. Mas, afinal, que fenômeno hipermidiático propõe tal produção de efeito?
Do digital
O cenário virtual (re)formula-se do analógico ao digital (e vice-versa), como do comodismo à participação. Cada vez mais, a cultura digital ancora-se por diferentes dispositivos e temas como smartphone, big data, indústria 4.0, algoritmo, internet das coisas, redes sociais, entre outros. De forma paradoxal, a complexidade do virtual intensifica as relações humanas,
sobretudo quando se trata da ordem publicitária do consumo.
De leitor ao escritor (e vice-versa), as tecnologias emergentes convidam as pessoas para sair da passividade, de apenas receber conteúdos, e interagir com comentários, opiniões etc. Porém, isso requer filtrar a qualidade da informação e suas fontes, que compreendem dinâmicas estratégicas do mercado-mídia – na preparação para ativar a agenda do consumo.
Na internet, há distintas maneiras para se alcançar o bom número de influenciáveis, como brincadeiras, conselhos, dicas, sugestões, comentários. Se nas redes sociais esse fenômeno ganhou força, vale a pena indagar a respeito do engajamento ativista-militante para além dos movimentos sociais de cunho político-identitário.
Determinada produção de conteúdo nas redes “mexe” com o outro e provoca mudança de atitude ou comportamento. Ao interferir no cotidiano alheio, o influenciador digital transforma a rotina dos seguidores e dita tendências, sobretudo com insumos informativos.
Agora, importa apenas se o texto consegue ter muitos cliques, independente dos vários comentários, absurdamente positivos ou negativos. Tudo depende do engajamento preciso para enfatizar os algoritmos que influenciam as pessoas comuns com relatos e depoimentos contundentes dos fatos.
Tons finais
Essas inquietações a respeito do consumo tecnológico sobressaltam da pesquisa “Imagem diversidade e cultura: estudos contemporâneos” (2016-2019), desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Uniso. O desafio crítico-reflexivo, dessa forma, evidencia a intensidade da experiência contemporânea.
Por conseguinte, o influenciador digital deve ser o anunciador das boas novas; é quem tem o acesso privilegiado da informação para trazer a novidade. Sabe-se que, quanto maior a transparência, melhor é a confiança, visto que uma mensagem positiva, altruísta, movimenta montanhas. Na verdade, você está preparado para influenciar o mundo?
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Wilton Garcia é artista visual, doutor em Comunicação (USP), pós-doutor em Multimeios (Unicamp), professor da Fatec Itaquaquecetuba/SP e do PPG em Comunicação e Cultura da Uniso.
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REFERÊNCIAS
BURDICK, A. et al. Digital_humanities. Massachusetts: MIT, 2012.
CASTILHO, C. O futuro do jornalismo está no lado de fora das redações. Observatório da Imprensa, ed. 1040, 04/06/2019.
FONSECA, A. A. Youtubers já são mais influentes do que jornalistas. Observatório da Imprensa, ed. 1033, 16/04/2019.
GUIDOTTI, G. B. O mundo mágico dos influenciadores digitais. Observatório da Imprensa, ed. 1022, 29/01/2019.
MATTELART, A. Historia de la sociedade de la información. Barcelona: Paidós, 2002.
QUINTARELLI, S. Instruções para um futuro imaterial. São Paulo: Elefante, 2019.