O ano de 2021 começou agitado na área de comunicação digital. Redes sociais como Facebook e Twitter, além da plataforma YouTube, removeram conteúdos do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Os principais argumentos foram os riscos de incitação à violência, afirmações falsas e violação de regras das plataformas. Será que estamos vivendo o início da era que pode alterar completamente o comportamento nas ondas dos algoritmos que transformaram a sociedade nos anos 2010?
Se é correto as entidades privadas ficarem com o poder centralizado na decisão do banimento de publicações em suas plataformas é uma discussão muito complexa devido aos conflitos de interesses ou dificuldades de independência nos “julgamentos”, pois questões financeiras e comerciais podem ser priorizadas no lugar do interesse público. Mas, pensando pelo menos a curto prazo, é bom que os gigantes da tecnologia finalmente tiveram atitudes mais rígidas contra os extremismos que eles foram deixando disseminar em nome de engajamentos criados pelos discursos radicalizados a céu aberto, que passavam por pouca moderação ou que simplesmente eram de difícil fiscalização.
Regulação partindo das empresas é o que é possível fazer neste momento, mesmo não sendo o tipo de controle dos sonhos para o futuro.
A realidade é que o modelo favoreceu bolhas de algoritmos que dificultaram o diálogo e aumentaram os debates destrutivos no lugar dos construtivos. Incentivou a exaltação de ideias que eram ativadas no “modo caps loco”. A banalização da opinião a qualquer custo em nome de likes fez determinados grupos de internautas acreditarem que tudo é “opinião”, passando assim a confundirem fatos com opinião ou acreditando que achismos e notícias falsas baseadas nas crenças pessoas é “liberdade de expressão”. Sem contar que as pessoas ficaram mais sensíveis ao contraditório. Sim, expressar ideias é importante. Só que não dá mais para legitimar quando o pensamento visa a destruição do outro por meio de informações errôneas fabricadas pela intolerância. Isto não é questão de simplesmente “opinar” sobre algo e sim de pactos civilizatórios coletivos.
No ambiente virtual, a cultura do confronto, da distorção e imposição de ideias se tornou regra e, consequentemente, corre o risco de virar o espelho do mundo real a ponto de naturalizar ideias fundamentalistas que eram consideradas absurdas em um passado não tão distante. Isso foi estimulado pelo excesso de segmentação e de algoritmos. Atualmente existe um bombardeio de informações e muitas vezes não há preocupação do receptor em filtrar dados e verificar a veracidade daquilo que consomem, já que o importante é sempre afirmar o fanatismo e a crença pessoal.
Chegou o mea-culpa das redes sociais? Difícil responder. Cabe algumas perguntas que talvez sejam respondidas no futuro ou até mesmo no presente da comunicação digital contemporânea:
— Qual será a forma ideal de regulação de conteúdo?
— Quais órgãos devem exercer este poder?
— Como isso deverá ser feito?
— Apenas regulação é o suficiente para tirar a gente do caos informacional ?
— E o papel da sociedade civil nisso tudo?
Por enquanto, é torcer para que as plataformas estejam realmente tentando segurar a porta do inferno que ajudaram a abrir e que está cada vez mais difícil de conseguir fechar.
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Lucas Souza Dorta é jornalista.