Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Populismo de esquerda com culto à personalidade

Ser hoje de esquerda no Brasil e não acreditar nas verdades que o PT vai impondo, pouco a pouco, mesmo no Exterior, torna-se difícil. Mas, como nos querem impor um pensamento único, é bom lembrar não haver um monopólio da esquerda por intelectuais que, ainda ontem, justificavam governos de submissão econômica e aliança com banqueiros, empresários e pecuaristas do agrotóxico, governos exportadores de matéria prima sem se preocupar em criar infraestruturas, coniventes com desmatadores das nossas florestas, defensores das sementes geneticamente modificadas da Monsanto, fazendo vista grossa aos assassinatos de índios e negros. Sem se esquecer que antes de Temer, já aplicavam a partilha do petróleo.

Esta coluna é para criticar o populismo de esquerda, a criação de um perigoso culto de personalidade, a mentira institucionalizada e a intenção de provocar o caos jurídico no país, desvios que poderão levar o país ao fascismo nas próximas eleições.

Fui um dos defensores do presidente Lula e escrevi mesmo colunas enaltecendo sua figura e muitas de suas iniciativas, responsáveis pela emergência da comunidade negra e pela melhora econômica de milhões de pessoas, principalmente com o Bolsa família, na verdade nem um décimo do que deveriam receber, segundo a lei Renda de Cidadania, proposta pelo senador Eduardo Suplicy, aprovada pelo Congresso mas nunca regulamentada e nem posta em execução por Lula e Dilma.

Mas Lula não é um deus para mim e nem o considero insubstituível. Acho estranho e nada de esquerda essa deificação atual do Lula, típica de um populismo destinado às “massas”, e isso não é minha praia.

Até hoje não entendi essa história de que não há provas contra Lula, imagino que também não há contra Gleisi, nem contra Dirceu, tudo gente inocente e presa ou ameaçada pela maldade de alguns juízes.

Isso me lembra o livro que escrevi para a Geração Editorial, Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre o Maluf, dedurado por um procurador suíço que estranhou o movimento nos bancos suíços de seus duzentos e tantos milhões de dólares.
Quando dei por telefone para o Heródoto Barbeiro, naquela época âncora da CBN, o número do processo penal na Justiça suíça contra Maluf por ter contas secretas nos bancos suíços que cheiravam desvio do dinheiro público, minha mãe, que ainda era viva, ouviu o Maluf gritar (tinham deixado o microfone aberto) Mentiroso!

Sim, porque Maluf negava e ainda nega até hoje ter contas bancárias na Suíça. Em síntese, ele é inocente! Tão inocente quanto o Lula.

Você poderá dizer que as delações contra o Lula, inclusive de seus antigos amigos do peito, são falsas, mas tem gente que já devolveu centenas de milhões de dólares, em consequência dessas delações.

Eu nunca soube de casos na Justiça de devolução de dinheiro não subtraído. Só um cara muito maluco iria devolver dinheiro que nunca pegou.

Existem dezenas de pessoas envolvidas nas propinas da Petrobras, muitas delas já julgadas e presas, só que são “inocentes”, os extratos bancários enviados daqui da Suíça são “falsos”!

Vivemos num regime de exceção? Mas porque o Lula e a Dilma aceitaram jogar o jogo da Justiça brasileira e não pediram asilo num país amigo para denunciar a ditadura brasileira?

Por que denunciam a Justiça e depois tentam obter dessa mesma Justiça um habeas-corpus com um juiz desembargador amigo, dos bons, que recebe salário da “ditadura” mas é contra a “ditadura”?

Imagine se eu, que não acredito nem em Papai Noel e nem em Deus todo-poderoso, posso beijar o catecismo de uma história da carochinha de que existe um país onde o presidente não sabia e nem tinha a mínima suspeita de que seus auxiliares andavam levando para seus amigos a prata da casa.

Mas é claro que com esse tipo de brincadeira feito no domingo, por um desembargador plantonista, a Justiça acabaria se descredibilizando se a jogada não tivesse sido interceptada.

E fico arrepiado ao ver que até a revista Carta Capital decidiu defender o desembargador Rogério Favreto! (bom ela já defendeu a extradição do Cesare Battisti!). Quem se desmoraliza com isso? O petismo e por redundância a esquerda brasileira. E o resultado dessa esculhambação do Judiciário? A ascenção do nazifascista Bolsonaro. Mas dizem que ele não é o perigo, é um mito.

Então, peço para o leitor ler o artigo do Vladimir Safatle, que é de esquerda (ou não é?) publicado na Folha e transcrito pelo Celso Lungaretti (esquerda ou não?) no seu site Naufrago da Utopia, antes que morramos todos afogados.

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro Sujo da Corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A Rebelião Romântica da Jovem Guarda, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil, e RFI. Editor do Direto da Redação.