Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Simpósio do Projor na Unicamp debate cenário do jornalismo

O primeiro Simpósio de Jornalismo do Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo realizado no dia 26 de abril na Unicamp, em Campinas, foi uma oportunidade de debate sobre temas que estão na ordem do dia na relação entre imprensa e democracia. A cobertura das eleições, os ecossistemas de desinformação, novas questões éticas no atual contexto da comunicação e a importância da imprensa local foram temas abordados nos quatro painéis do evento.

Na abertura do Simpósio, o Reitor da Unicamp, Marcelo Knobel, destacou a importância da imprensa e do Labjor (Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo) diante da proliferação de notícias fraudulentas em todos os ambientes da vida pública, não poupando nem mesmo a Universidade. Angela Pimenta, Presidente do Projor, lembrou a relação entre a criação do Labjor, do Projor e do Observatório da Imprensa na segunda metade dos anos 1990 a partir do fértil diálogo entre entre Alberto Dines e o Professor Carlos Vogt, à época reitor da Universidade.

O primeiro painel “Uma visão retrospectiva do Observatório da Imprensa e da produção jornalística” resultou num misto de memórias afetivas e reflexões éticas sobre o papel da imprensa na ordem narcísica das redes sociais. A primeira fala foi do Professor Carlos Vogt que descreveu o contexto de criação do Observatório da Imprensa nos anos 1990 em torno da convivência entre ele, Alberto Dines e Norma Couri. O professor Eugênio Bucci dividiu sua fala entre os dilemas éticos da imprensa na sociedade contemporânea brasileira e o gesto ético de criação do Observatório da Imprensa a partir da parceria entre Alberto Dines e a Unicamp. Celestino Vivian fez uma síntese dos resultados de um dos grandes projetos desenvolvidos pelo Observatório há uma década, o projeto GPI – Grande Pequena Imprensa sobre a situação dos jornais impressos no interior do país. O moderador do painel foi o jornalista Pedro Varoni que anunciou o lançamento da antologia de textos do Observatório (ver post nesta edição).

No segundo painel da manhã, o tema de debate foi “A campanha eleitoral de 2018 – os desafios para a imprensa em termos de polarização e confiança”, mediada por Carlos Eduardo Lins da Silva. Michael Shudson, professor de jornalismo na Universidade de Columbia, falou, em videoconferência, sobre a campanha anti-imprensa movida pelo governo Trump e as reações da sociedade. Caio Túlio Costa abordou o cenário da desinformação que tem provocado uma disrupção do negócio do jornalismo na sociedade pós industrial e lembrou episódios das eleições de 2014 envolvendo o uso de robôs para potencializar postagens de candidatos nas redes sociais, algo que deve ser determinante nas próximas eleições. O jornalista da revista piauí José Roberto de Toledo, encerrou o painel enfatizando a importância do jornalista escolher a história que pretende contar para instaurar maior diversidade numa cobertura condicionada por declarações das autoridades ou dependente de estudos e relatórios de terceiros.

O primeiro painel da tarde, “Desafios tecnológicos e de gestão enfrentados pelo jornalismo, especialmente para veículos locais e de pequena escala” foi mediado pela jornalista Adriana Garcia. Paula Melani Rocha, da Universidade Estadual de Ponta Grossa, apresentou o resultado de pesquisas demonstrando as dificuldades de sobrevivência dos pequenos jornais, sobretudo em função da concentração das propriedades dos veículos pelos grandes grupos econômicos de mídia. A jornalista Raquel Almeida demonstrou os desafios enfrentados pelas startups noticiosas brasileiras, numa abordagem sobre o novo perfil profissional num cenário de demissões nas grandes redações e necessidade de reinvenção das práticas.

O último painel foi destinado a apresentação de três projetos desenvolvidos neste momento pelo Projor. Sob a moderação da jornalista do Labjor, Simone Pallone, Angela Pimenta e Francisco Belda falaram sobre o projeto Credibilidade que procura estimular boas práticas de apuração e transparência com a informação na imprensa brasileira. Pedro Varoni apresentou a websérie Cartas na Mesa — produzida em parceira com a ESPM, a ser veiculada no portal do Observatório a partir do dia 09.05. O Atlas da Notícia, levantamento com base em jornalismo de dados sobre os desertos de notícia no Brasil, regiões que não dispõem de um único veículo para cobrir os poderes municipais, foi apresentado por Sérgio Spagnuolo do Volt Data Lab.

O público, formado por estudantes da Universidade e alguns profissionais da imprensa, participou do debate com questões sobre a crise do mercado de jornalismo no interior do país, o desafio da credibilidade e da ética profissional. O Simpósio aprofundou o momento de transição entre antigas formas deontológicas da profissão e a emergência potencial de uma nova realidade em que caberá à imprensa dar respostas para questões que afligem hoje toda a sociedade, como a desinformação em rede. A descrição dos vazios de notícia no interior do país são um indicativo de mercados a serem ocupados com uma prática comprometida com a cidadania. Avanços que estão condicionados ao fortalecimento da democracia no país.

Assista abaixo as reportagens da TV Unicamp sobre o encontro: