Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Pensar o campo contemporâneo

Comunicar tem a ver com o entorno fecundo das relações sociais. Trata-se de uma mediação entre os envolvidos, que causa sociabilidade. A natureza humana prescinde da comunicação e sua produção de efeitos de sentidos. Por isso, qualquer sociedade depende dos substratos do ato de comunicar com a troca de ideias e informação. Nessa vertente, o processo comunicacionalutiliza recursos estéticos, técnicos e éticos, a fim de atingir a mediação capaz de incorporar produtos midiáticos e práticas socioculturais, ainda mais entre as ações depublicidade, propaganda ou marketing – a divulgar produto, marca e/ou serviço.

Hoje, a comunicação acena para determinadas tendências comerciais e empresariais que (de)marcam variáveis discursivas. Isso legitima, potencializa e promove o status atrativo para o mercado-mídia e, por conseguinte, o consumo. Também, gera embates, tendências e preferências em torno de interesses dos negócios, principalmente os profissionais.

Na comunicação, as circunstâncias para (re)pensar as coisas no mundo, agora, pondera a manifestação flexível de um evento/acontecimento percebido pela sua apresentação e pelo modo de observar, descrever e discutir. Nesse sentido, a representação está em crise. Há uma ideia plural que se multiplica. Portanto, proliferam diferentes formas (a lógica) de expressar as circunstâncias de determinado objeto/contexto. Das diversas possibilidades de representar esse objeto/contexto, urgem intervalos da dúvida e do conhecimento quando se aborda, efetivamente, o campo contemporâneo da comunicação.

Nacultura, a linguagem instaura-se para sistematizar a expressão do discurso, em sua ambientação de um sistema mutável, deslizante de transformações enunciativas. Esse acordamento de modificações produz um movimento fértil, simultâneo de deslocamentos e flexibilidades na cultura, com os quais o provisório se pauta. E o (re)condicionamento de qualquer temática contemporânea para a produção do conhecimento perpassa um território de fruição constante (VILLAÇA, 2011), na proposição da linguagem.

Esta última ultrapassa a perspectiva da comunicação e da cultura para abarcar outras instâncias discursivas, a alterar a expressão de uma mensagem. Todavia, seria a preparação de um sistema complexo de informação, discurso e estratégia, cuja codificação está armada para ser decodificada pelo público. Nesse caso, há diferentes maneiras de expor uma ideia. Ou seja, a sociedade contemporânea testemunha variantes possíveis e inimagináveis que aferem a criatividade presente no cotidiano tecnológico, por exemplo, entre Arte, Comunicação e Design.

Tecnologizar

As tecnologias emergentes produzem muitas mensagens impactantes. São armadilhas discursivas perante a sofisticação tecnológica. O sujeito – ávido pelas novidades e com o status instigado por essas tecnologias – está bastante disperso, sem concentração. Na velocidade da informação, é preciso tomar iniciativa para pensar e agir na velocidade acelerada da cultura digital. Tal proposição fundamenta-se pela dinâmica atual de fluxos recorrentes na hipermídia, tanto da internet quanto das redes sociais.

Os dispositivos hipermidiáticos atendem a cliente e fornecedores do mercado-mídia, em prol das promoções de publicidade, propaganda ou marketing. A produção e a difusão de conteúdos online utiliza ferramentas e instrumentos tecnológicos que acomodam a demanda crescente do universo virtual. E as peças publicitárias viam a facilitar, cada vez mais, a mediação interativa do consumo. Nessa disposição, o mercado-mídia busca impulso.

Primo (2008, p. 123) afirma que “cada vez mais as empresas reconhecem a necessidade de administrar a imagem que têm diante de seus diversos públicos”. A atmosfera digital que enuncia cidadania e consumo parece ser enfática com seus paradoxos (CANCLINI, 2008), pois ações e imagens (hiper)midiáticas fomentam o incessante faturamento comercial. Pressupõe-se que, na internet, o consumo deve ser uma atitude responsável, longe de descontrole ou excesso.

A própria sociedade tecnológica e seus referentes questionam a flexibilidade do sujeito hoje, porque a internet, por exemplo, funciona como canal de denúncia e/ou relato de experiências para aconselhar/incentivar determinadas práticas de consumo. Ao consumir, o sujeito se transpõe do digital para um lugar legitimado pelo mercado-mídia e, por assim dizer, pelo virtual. Aqui se (re)configura o consumo perante algumas adversidades insurgentes que perfazem as mediações entre sujeito, produto, marca e/ou serviço para revigorar as potencialidades de uma gestão tecnológica.

Consumir

O consumo tem intensificado, cada vez mais, e o capitalismo, atrai “novos/outros” debates, a serem retrabalhados em uma revisão de produção do conhecimento, sobretudo no campo contemporâneo da comunicação. Isto é um tipo de produção que necessita refletir acerca da diversidade de situações em que ocorre a condição adaptativa da sociedade. E equaciona a velocidade da informação atualmente, em especial na internet. Verifica-se a preocupação do mercado-mídia atento ao fluxo substancial de atividades de divulgação de produto, marca e/ou serviço, que exploram a produção e a difusão de conteúdos on line.

Nesse contexto, a felicidade pode ser vista/lida como aspiração máxima, quando se direciona ao consumo relacionado ao bem-estar do sujeito contemporâneo. Seria o estabelecimento do prazer ao alcance do consumidor. De modo invitável, a publicidade, a propaganda e o marketing tentam, metaforicamente, construir e fortalecer uma ponte, um elo, entre o produto e o(a) consumidor(a).

Sobretudo via internet, a paisagem inerente ao consumo contemporâneo transversaliza-se no ambiente hipermidiático e implementa uma sinalização de metamorfoses. Transformações. Propõem-se variáveis – de simulacros, simulações e simultaneidades – na tessitura da informatização mercadológico-midiática.

Dessa realidade tecnológica almeja-se a campanha publicitária. De forma simples e eficiente, uma publicidade investe na significação de atributos que se destacam na mensagem a ser transmitida e ajudam na valorização de seu consumo imediato. A mensagem publicitária pretende causar efeitos impactantes, por isso leva às últimas consequências qualquer iniciativa que valorize o consumo. Em larga escala (massificada e/ou) industrial –, o consumo acontece de forma intensa e constante.

Do ponto de vista midiático, produzir/fazer mensagem é diferente de recepcionar/consumir mensagem. Uma mensagem publicitária deve interagir produto e consumidor, ao simular o uso e a função do que está sendo adquirido. Do ponto de vista mercadológico, divulgar produto é diferente de comercializar produto. A divulgação mostra as qualidades do produto, marca e/ou serviço. Seria a publicização. O que torna público e, assim, conhecido.

Reflexões finais

Gostaria de encerrar este texto considerando uma crítica. Atualmente, a sociedade testemunha um crescente número de instrumentos persuasivos para o desenvolvimento e a divulgação de produto, marca e/ou serviço no mercado-mídia com um ideal discursivo (da publicidade, da propaganda e do marketing) direcionado exclusivamente ao consumo. São instrumentos atrativos, sedutores e/ou estimulates que promulgam o consumo em excesso. Talvez, este seria um enorme problema, pois o consumismo desprepara o sujeito e a sociedade para a realidade.

Desse ponto de vista, o campo contemporâneo da comunicação deve estar preparado para rever/reler a lógica do capital. A informação, nesse contexto, serve de parâmetro para combater a desigualdade social quando se tem o compromisso ético no uso da comunicação a favor da cidadania e da responsabilidade social. Nesse caso, a ética deve ser a fortaleça do mercado-mídia. As relações humanas são melhores se são bem vividas!

Referências

CANCLINI, Néstor Garcia. Leitores, espectadores e internautas. São Paulo: Iluminuras, 2008.

GARCIA, Wilton. Feito aos poucos_anotações de blog. São Paulo: Factash/Hagrado Edições, 2013.

PRIMO, Alex (org.). Interações em rede. Porto Alegre: Sulina, 2013.

VILLAÇA, Nizia. A periferia pop na idade mídia. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2011.

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Wilton Garcia é artista visual, doutor em Comunicação pela USP e pós-doutor em Multimeios pela Unicamp. Professor da Fatec-Itaquá/SP e do mestrado em Comunicação e Cultura da Uniso. Autor de Feito aos poucos_anotações de blog (2013), entre outros