Cada vez mais, devido ao enxugamento das redações, do aumento do número de pautas por repórter, entre outros fatores, os jornalistas recorrem sempre às mesmas fontes, tradicionais e muitas vezes oficiosas. Alguns veículos usam e abusam de determinadas fontes que o público, quando lê ou vê a manchete/chamada, já sabe quem é o entrevistado, o especialista que o veículo entrevistou. Nessa vida tão corrida e agitada em que trabalham os jornalistas, como modificar essa rotina, buscar e entrevistar novas fontes?
Uma alternativa é recorrer às diversas Instituições de Ensino Superior (IES). Cada vez mais surgem novas IES, muitas com qualidade duvidosa, mas há algumas a que podemos recorrer na busca de novas fontes e até mesmo de novas informações. Afinal, são as IES, em parceria com o governo e institutos, que promovem boa parte das pesquisas nos mais diversos ramos em nosso país, desenvolvendo projetos muitas vezes revolucionários.
Muitos profissionais já buscam essas instituições, mas sempre recorrem às mesmas IES, o que torna repetitivas e sem diversidade as informações e principalmente a linha de raciocínios e de opinião levantada.
Na busca por especialistas nas IES deve ser levada em consideração um fator: se o profissional especialista tem visão global e de mercado. Muitas vezes o pesquisador segue muito a teoria e se distancia do mercado. O jornalista pode também pedir sugestões a especialistas que estejam no mercado, e não somente na academia, para contrabalançar as informações.
São essas fontes, se bem utilizadas, que darão nova visão, contextualização e credibilidade às reportagens. Esses especialistas podem realmente fazer uma análise dos acontecimentos, e responder a uma pergunta cada vez mais deixada para trás, o por quê. Aprofundar realmente a simples informação. ‘Nenhuma pauta estará completa sem que se desenvolva a relação dos fatos com contextos variados e pertinentes, a fim de oferecer ao leitor os nexos históricos, sociais, estatísticos e culturais da notícia ‘ (Manual de Redação da Folha).
Elo entre saberes
Outra alternativa é ficar atento ao conteúdo dos veículos universitários, como TVs, rádios, informativos impressos e online.
Ressalto que a busca pela assessoria de imprensa das IES também é válida, o que não é válido é fazer Ctrl+C, Ctrl+V de seus releases. O jornalista deve sempre buscar outro profissional além do sugerido pela assessoria, para trazer uma pluralidade de opiniões maior à matéria e possibilitar a dialética entre os entrevistados, e tornaria possível um outro pensar de mundo. Afinal, ‘um maior número de nexos surgirá entre os fatos quanto maior for também o número de fontes de que se dispõe.’ (Manual da Folha).
A busca por novas fontes nas IES é ainda uma possibilidade de aproximação da sociedade com o saber científico, muito restrito em nosso país, já que menos de 10% da nossa população tem ou teve acesso ao ensino superior. Ainda possibilita que esse saber seja confrontado com o saber empírico, popular, ocorrendo uma verdadeira interação sociedade e academia.
Essa interação, se bem construída na reportagem, pode ser um elo entre o saber acadêmico e os marginalizados do ensino superior, fazendo com que, de certa forma, esses marginalizados sejam educados por meio dessas informações. Só assim ‘é possível compartilhar conhecimentos com a sociedade, estabelecer um elo com as comunidades’, como diz o manual.
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Jornalista, pesquisador da área de Educomunicação e diretor de Novos Projetos da Mais Comunicação e Design