O relato de uma mãe por e-mail chama a atenção. Uma mãe disse que, pelo fato de ela e a filha agirem com a ‘seleção’ diante da programação audiovisual, as duas são rotuladas de extraterrestres. E ser extraterrestre não é ruim. Na verdade, todos são extraterrestres. Estão para além do terrestre, do físico. Com base na narrativa da mãe, é preciso considerar que agir com ‘selecionalidade’ (neologismo proposital) é a saída, rumo a motivar construções melhores, mas com consciência das inúmeras exceções.
Quem está na contracultura, na contramão do modus vivendi ‘enlatado’, geralmente é tido como extraterrestre, outsider, mas o bom é nos colocarmos como e aonde queremos e nos desvincularmos de qualquer rotulação. Hic et nunc, aqui e agora.
Dentre as leituras em debate, considera-se aqui que – a título de crítica – o caso do Rio demonstra que a mídia e a escola pública, infelizmente, estão mal preparadas, e que faltam projetos que incluam perspectivas terapêuticas dentro dos planejamentos internos. Para entender melhor a proposição, vale ressaltar que, na redação, no dia-a-dia do jornalista, geralmente não há um planejamento eficaz.
O jornalista acompanha os outros veículos, lê a pauta (quando tem), mas não há um planejamento mensal, com um foco construtivista, que se desenvolva a partir da reflexão de conteúdo. Os jornalistas não refletem, de modo geral, sobre os efeitos e influências do conteúdo que produzem, a não ser em mídias alternativas e segmentadas e/ou universidades. A redação precisa ter um espaço chamado ‘laboratório’, em que sejam feitas pesquisas sobre produção de sentidos e propostas terapêuticas, educacionais.
Ao encontro de outros valores
Assim como na música, há ensaios, no jornalismo e na comunicação como um todo também precisam ocorrer. A comunicação precisa de experimentação e pesquisa qualitativa não só na universidade, mas nos próprios espaços de produção. As equipes transdisciplinares em contato com o jornalista (dentro de uma perspectiva de dedicação ao laboratório comunicacional) podem repensar a prática de produção audiovisual, de modo a se colocar em debate a práxis da absorção do conteúdo e de geração de serviço ou desserviço por parte dos espaços de veiculação.
Uma comunicação laboratorial que contemple a pré e a pós-produção, com avaliação dos resultados, aplicação de questionário, entre outros fatores, se faz urgente. Para tanto, é preciso ocorrer transformações, quebra de paradigmas, e investimentos por parte dos complexos comunicacionais. E a necessidade de tal proposta é reforçada em alguns casos, principalmente quando perguntamos a um jornalista (principalmente iniciante) sobre os aspectos inconscientes que uma determinada informação contém.
O jornalista precisa tomar posse da práxis de ferramentas dialógicas e dialéticas. E, para tanto, cabe a construção de planejamentos transdisciplinares nas redações. Os aspectos do inconsciente (projeção, transferência, recalque, entre outros) precisam ser melhor estudados pelos jornalistas. As redações precisam assumir os períodos pós-imparcial, pós-objetivo, pós-neutro.
A proposta agora é outra. É o momento de vincular a comunicação às relações humanas tal como ocorrem, o que inclui trazer a subjetividade para a superfície.
Nós somos as escolas, os terapeutas, as mídias. O trabalho todo começa em nós. Precisamos ir ao encontro de outros valores, ainda mais revestidos de potência: ecologias mentais, ecologias sociais, ecosofias, ecologias cosmológicas, ecologias ciberespaciais.
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Jornalista, Campinas, SP