Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A crise do sujeito na pós-modernidade

As relações interpessoais estão constantemente afetadas pelos pluralismos culturais, obscurecidas, tantas vezes, pela indústria cultural e mesmo pelas posturas sócio-espaciais que uma sociedade assume ao sopro da evolução técnica. Subjacentes a estas questões, identificamos, seguindo a ótica de Baumam (1998), acerca do sujeito na pós-modernidade, que as perdas nas relações humanas estão inseridas no contexto espacial que cada um assume.

Desta feita, o sujeito se torna flexível… Não se identifica como ser individual e chega ao ponto de não compreender quem ele é, qual seu papel na sociedade, de onde ele vem, para onde ele vai. É um sujeito líquido, 70% água – às vezes sólida, às vezes líquida, às vezes vapor. Daí, a falsidade humana (uma ideia alicerçada na complexidade lunática, uma combinações de ideias). Este aprisionamento caracterizado pela perda de um ‘eu’, acaba por interferir nas ações/relações sentimentais, na relação pessoal.

Neste viés, identificamos que o sujeito pós-moderno está em crise. Sua identidade cultural está se tornando fluída, melhor dizendo, diluída. Assim, os conflitos pessoais vão vindo à tona. Ora, se é a nossa construção identitária que desencadeia conceitos e/ou opiniões para com nós mesmos, como reflexo da atuação do ‘outro’ e para com o ‘outro’, quando não nos identificamos com nossas origens, com nossas raízes, com nossos companheiros, nos tornamos perdidos, sem identidade.

Acho que sou invisível

Segundo Bauman (1998), vivemos na era que se caracteriza por evitar que padrões de condutas se congelem em rotinas e tradições. Assim como o líquido, a cultura se torna incapaz de manter a forma diante das novas mídias. E nossas referências e estilos de vida e crença mudam antes de uma solidificação espacial. Nestas perspectivas, os amálgamas que nos particularizam enquanto sujeito individual vão sendo transformados e (re) construídos em novas identidades. Tais conceitos são denominados por Stuart Hall como hibridismo cultural.

Neste mundo de representações, a essência do sujeito se torna ‘invisível’. Cria-se um mal estar fruto das intensas formas de comunicação, daí a necessidade de ser ‘diferente’, de ‘chamar atenção’. Estes sintomas do mal-estar social são reflexos da falta de reconhecimento, por parte do ‘outro’, da singularidade social na perspectiva do ‘bem sucedido’. O sujeito não quer se sentir invisível. Ele precisa ser enxergado, mesmo que tenha que utilizar artifícios do tipo ‘incomum social’. Ele atua ao extremo. Como consequência, ele é substituído por uma fantasia. Por uma vontade simbólica que rege seu imaginário. Ele se torna uma ilusão, uma construção surreal. Suas atitudes são anti-social, explicitamente interpretadas por um ‘olha eu aqui!’

Não obstante, o sujeito pós-moderno pode ainda ser interpretado como um objeto, como diz Carlos Drummond de Andrade em seu texto ‘Eu Etiqueta’: objeto falante, mas objeto. Ele é programado para propagar ideais. Ele é artificializado. Mas cadê o sujeito? Ah, ele não tem características próprias, ele é uma ilusão; é insignificante…

‘Oi, eu estou bem aqui na sua frente. Por que será que você não me vê?’

Cada um enxerga o que quer… Será? Não seria melhor me encontrar? Eu não sou diferente? Ou não sou? Será que sou um monstro? Não, não sou não… Acho mesmo é que sou invisível!

Passamos a ser descartáveis

Enxergar o outro não é sinônimo de relação afetiva, mas pelo menos é uma compreensão humanizada de entender o outro como gente. Sim, este é o termo. Como gente. Nossa construção cultural é que é responsável por nossas especificidades. E por que ‘caricaturizar’ o outro? Somos quase sempre aquilo que vemos no ‘outro’. Acho que temos medo do espelho! Ou talvez seja a regra contraditória que rege nossos discursos. Afinal, como diz Citelli (2007), o discurso é uma das variabilidades discursivas em que a persuasão possui forte presença.

É de práxis que a multiplicação e a rapidez da comunicação estejam modificando as relações identitárias. Entretanto, o sujeito não pode permitir sua diluição ao ponto de não ser reconhecido por si próprio. Mas, isto é compreensível, pois, seguindo a ótica de Baccega (2005, p. 385), o mundo atual nos é trazido pelos relatos […] é um mundo que nos chega editado, ou seja, ele é redesenhado num trajeto que passa por centenas, às vezes milhares de mediações, até que se manifeste no rádio, na televisão, no jornal.

São essas mediações – instituições e pessoas – que selecionam o que vamos ouvir, ver ou ler, e que fazem a construção do mundo que habitamos. Neste viés, estamos sempre construindo novas identidades que se diluem antes de uma solidificação multicultural. Adquirimos novos (pré) conceitos. Perdemos nossa neutralidade e passamos culturalmente a ser aquilo que chamamos de descartáveis. Afinal, como diz Baumam: ‘Tudo que é sólido se desmancha no ar!’

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Geógrafo e bacharelando em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, Gurinhém, PB