Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

A distrofia da verdade

Existem apenas dois tipos de pessoas no mundo, os que sonham em transformá-lo e os que querem que ele permaneça exatamente como é. A frase é de Guy Debord, um dos maiores pensadores do século 20 e autor de A Sociedade do Espetáculo. Debord sabia que neste mundo, trabalhar pelo progresso coletivo é estar sujeito a embaraços, resistências e sabotagens de todos os tipos. O egoísmo, mãe de todos os vícios morais, é o combustível que move os agentes do atraso a se esforçarem ignominiosamente para atravancar a marcha do progresso. Manipulação, desfaçatez, demagogia, cinismo… As facetas da mentira e da hipocrisia são empregadas de forma tão covarde, leviana e ardilosa, que os sofistas da antiguidade não imaginariam a que ponto o embuste passaria a ser a regra, e a crítica honesta e sincera exceção em nossa atualidade. Contorcer, retorcer e distorcer um fato com o intuito único e exclusivo de se extrair alguma verossimilhança a preconceitos, ao ódio, a intolerância…

Nietzsche dizia que o que move o homem é a vontade de poder. A busca insaciável e sôfrega desse desejo tem feito uso de uma arma extremamente eficiente nessa expedição. A linguagem.

A linguagem oferece possibilidades para, em comum, descobrir a verdade, e proporciona recursos para tergiversar as coisas e semear a confusão. Basta conhecer tais recursos e manejá-los habilmente, e uma pessoa pouco preparada, mas astuta, pode dominar facilmente as pessoas e povos inteiros se estes não estiverem de sobreaviso’ Alfonso López Quintás

A definição das palavras

Certa vez disse Platão que o maior triunfo de um homem injusto é conseguir parecer justo. Por trás de ternos italianos, em cenários bem iluminados, em grandes veículos de circulação nacional, lá se apresentam os sofistas de nossa era. Agem como malabaristas intelectuais. Realizam movimentos muito rápidos com seus falsos argumentos impossibilitando que o público os perceba. São ilusionistas.

‘O demagogo procede, desse mesmo modo, com estudada precipitação, a fim de que as multidões não percebam seus truques intelectuais e aceitem como possíveis as escamoteações mais inverossímeis de conceitos’ Alfonso López Quintás.

Toda era possui sua palavra talismã. Essa palavra carrega em si todas as expectativas e anseios de uma civilização. A palavra talismã de nossa era é a Liberdade.

Em nome da ‘liberdade’ justificam-se injustiças, em nome da ‘liberdade’ fala-se pela democracia. Pela ‘liberdade’ avalizam-se crimes e a estupidez. Liberdade…

A palavra liberdade é usada por estelionatários semânticos, assim como as cruzadas fizeram com o nome de Jesus Cristo. Um especialista em revoluções e conquista de poder, Stalin, afirmou o seguinte: ‘De todos os monopólios de que desfruta o Estado, nenhum será tão crucial como seu monopólio sobre a definição das palavras. A arma essencial para o controle político será a linguagem.’

Cuidado!

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Jornalista, pós-graduado em Estado e Sociedade brasileira pela UFJF