Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A dura realidade do jornalismo no interior

São de arrepiar os cabelos – e também um bom alerta para a dura realidade do jornalismo paranaense e do interior do país – as palestras do jornalista Osmani Costa. Estes eventos vêm sendo realizados em faculdades isoladas (estive numa delas na Fasul, em Toledo, oeste do Paraná), para alunos de Jornalismo, trazendo para a discussão acadêmica a experiência prática deste profissional. Mais que uma atividade curricular, a palestra tem o mérito de não tergiversar ou esconder dos futuros jornalistas o que acontece antes que o leitor segure o papel cheio de letrinhas ou aperte o botãozinho mágico da TV.

Da dependência e dominação ideológica até o terrorismo econômico que abala as redações do interior, nada escapou da pauta do jornalista.

No que se refere à história da imprensa, Osmani destacou: ‘Tivemos uma boa imprensa nas décadas de 40 e posteriores à Segunda Guerra, até o golpe militar de 64’. Disse também que nos últimos anos, em coberturas como as do debate sobre a Constituinte, das Diretas-Já, da queda de Collor e das eleições de FHC e Lula, evoluímos muito, e a imprensa pôde, até certo ponto, cumprir sua função social de serviço publico que é (ou que deveria ser). Mas, em sua própria expressão, ‘a Argentina faz melhor do que nós’. (Essa doeu…)

A interferência política, a ligação estreita com o Estado e a pressão econômica direta na produção jornalística são, segundo ele, as grandes responsáveis por esta pobreza nas nossas redações.

‘O jornalismo, com raras exceções, virou um tapa-buraco que se coloca entre os comerciais e os programas de diversão’, disse, apontando entre outras causas a própria mídia (leia-se os grandes grupos da comunicação), ‘que não está preocupada com a qualidade do trabalho, mas com a verba pública ou em manter o anunciante mesmo que este tenha poluído o rio que passa na cidade’. O anuncio sai. A notícia, quem sabe… E, embora muito bem-informado e já tendo vivenciado a prática diária do jornalismo do lado de cá do balcão, o mestre mostrou-se assustado com coisas absurdas que ainda acontecem em regiões interioranas, como aqui no Paraná. E, como se viu no artigo ‘Uma saída fácil para driblar a crise’, do estudante Daniel Cóssio Porto, publicado aqui na semana passada [ver remissão abaixo], também em Bagé, RS…

As saídas

Coisas absurdas como o jornalista ter que escrever e vender ao mesmo tempo, ou se sujeitar a receber metade do salário da empresa e metade de um órgão de governo, de um político ou mesmo de um grande empresário. O jornalista cooptado, por necessidade ou por safadeza, realmente é uma praga da qual não nos livraremos tão cedo. Igualmente terrível é a onda de colocar estagiários na redação pagando mixaria, uma prática que cresce e, proporcionalmente, faz desabar a qualidade da imprensa interiorana.

Concordo com o estudante de Bagé. De uns anos para cá nada se aprende na pratica das redações a não ser abrir a net. Dos que poderiam ensinar, metade está contaminada pelos velhos vícios da cooptação econômica e do patrulhamento ideológico. A outra metade, mais nova, coitada, não teve nem chance de aprender para repassar porque já pegou andando o bonde da mediocridade. No Paraná, meu pobre estado, então, a coisa é feia. Não consigo colocar a mão no fogo por 10 nomes de jornalistas.

Mas nem tudo está perdido. Sempre citando as tais ‘raras exceções’, o professor Osmani lembrou que as novas gerações de jornalistas têm no mercado de comunicação a chance de melhorar o padrão de vida e de trabalho; que as novas tecnologias, como a internet, ajudam a criar opções para mídias mais sérias, e que as assessorias de imprensa vêm abrindo vagas para quem ainda insiste em viver o jornalismo diante deste feio quadro.

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Jornalista ‘formado a facão’, publicitário e estudante de Jornalismo da Faculdade Sul Brasil (Fasul) em Toledo, interior do Paraná