Há quatro anos, estava chefiando um plantão morno. Domingo opaco, tempo nublado, temperatura mais ou menos, rádio-escuta da polícia relativamente calado, enfim, não gosto do que o grupo Rappa cantou: “O silêncio que precede o esporro”.
Comigo, dois repórteres, um treiní e um estagiário. Uma fonte dos bombeiros me ligou dizendo que havia um pequeno barco desaparecido perto das ilhas Cagarras, provavelmente com três pessoas à bordo. Chamei o treiní e pedi que apurasse. Rapidamente, em menos de cinco minutos, chegou à tela de meu computador a mensagem dele (que poderia ter dito, falado, enfim, não entendi) dizendo que não havia sumido barco nenhum. Chamei o cara. “Tudo bem? Quem te disse isso?” Ele, num misto de inocência e falência múltipla de responsabilidade, respondeu na cara dura: “Não tem nada no Globo on Line”. O silêncio que precedia o esporro era o meu. Dei-lhe uma enquadrada forte e dias depois, ele me agradeceu. Sei lá por que agradeceu, mas me mandou um e-mail falando de “ensinamento”, essas coisas que ele já deveria conhecer.
Eu já suspeitava. Muitos checam O Globo on Line, a Folha on Line, o Fluminense on Line e, se não tiver nada, “tudo bem”. Só que tanto o Globo, como a Folha, como O Fluminense, também nos consultavam via internet e como não havia nada, nada estava acontecendo. Ou seja, todo mundo cego num deprimente baile de carnaval noticioso.
O tal barco foi achado. Fiz o registro. “Um pequeno barco a motor foi encontrado à deriva…” e mostrei para o treiní. E disse-lhe. “Vá lá na sua fonte, o Globo on Line, e confirme que daqui a cinco minutos essa notícia vai `surgir´ na tela.” Dito e feito. Eu trabalhava numa rádio e todos os jornais ficam escutando rádios. Nós, aqui do Observatório da Imprensa, sabemos, mas parece que em algumas (várias, muitas, zilhões???) faculdades, não.
O bando que sem computador não é nada
E assim cavalga a humanidade. Quando morre um Abdias Nascimento, não vou cobrar de uma jovem jornalista de 22 anos o tipo sanguíneo, lugar onde nasceu, mas ela tem a obrigação de “ter ouvido falar” em Abdias Nascimento. Mesmo que por alto, no ensino médio ou na tal faculdade. Mas, ato-reflexo, ela corre para o computador e acessa o Google. Usa a ferramenta como fonte, e não como índice, cardápio, enfim, site de busca que não vai alertar quem escreve certo ou errado sobre Abdias Nascimento.
Batizaram de “Geração Y” o bando que sem computador não é nada. Sinceramente, nada contra porque muito entre nós eu também ficaria rodando bolsinha se não fossem essas máquinas, mas tudo tem um limite. Já ouvi coisas horríveis como “Capitu é aquela mulher da novela das 8, né?” Pergunta quase afirmativa. Sair da redação sem saber quem é o entrevistado e para que é a entrevista também é outro ingrediente que tenho observado por aí. A culpa? Do ensino médio. Com certeza. Ou você acha que não?