Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A imprensa está comendo mosca?

O personagem criado pelo ator e escritor mexicano Roberto Gómez Bolaños virou na paródia a salvação dos seus personagens que exclamam: Agora, quem poderá nos salvar? Deixa para a entrada do anti-heróis Chapolim Colorado! Parece que estamos na mesma situação frente a sinais preocupantes vividos na AL e a omissão da mídia.

Hugo Chávez, belicista venezuelano nacional socialista, se arma fortemente comprando equipamento militar moderno e farto da Rússia, maior fornecedor internacional do século 20. Não só isto, mas atrai a Rússia em acordos militares de defesa, com operações aéreas realizadas pela Força Aérea russa de patrulha no nosso continente, e agora, com a vinda do presidente russo Dmitri Medvedev, a realização de manobras navais conjuntas com a marinha de guerra daquele país. Apesar da Rússia hoje não ser teoricamente um país comunista, seu ex-presidente e real detentor do poder político, Vladimir Putin, jurista, integrou o prestigioso ‘Primeiro escritório do KGB’, os serviços de inteligência externa, antes de ser enviado a Dresden, no então satélite República Democrática Alemã (RDA), em 1985.

Foi de lá que ele assistiu à queda do Muro de Berlim em 1989, antes de retornar, um ano depois, a São Petersburgo. A queda da União Soviética foi ‘a maior catástrofe geopolítica do século passado’, afirmou Putin. Imaginemos se um membro da CIA ocupasse o mesmo cargo no ocidente, a grita que seria.

As guerras na Chechênia

Depois de uma carreira na prefeitura de São Petersburgo e na administração presidencial, onde foi notado por suas capacidades e discrição, ele foi designado em 1998 para o comando do FSB, os serviços encarregados da segurança interna. Em agosto de 1999, Boris Ieltsin nomeou-o primeiro-ministro.

A entrada, em 1º de outubro de 1999, das tropas federais russas na Chechênia, depois de uma série de atentados atribuídos aos separatistas chechenos, o ajudou a assentar sua popularidade.

Em 31 de dezembro de 1999, Ieltsin anunciou sua demissão e entregou o poder a Putin, três meses antes de uma eleição presidencial que o mesmo ganhou já no primeiro turno.

Em alguns anos, Putin impôs a ‘ditadura da lei’. Sua primeira vítima foi a imprensa e, principalmente, as redes de televisões independentes ou de oposição, fechadas ou colocadas sob o controle do Estado.

Para os oligarcas, esses barões da indústria que enriqueceram nos anos 90 na época de privatizações às vezes escusas, a mensagem do mestre do Kremlin foi clara: ‘Não se intrometam na política do país.’ Ou, democracia só no nome.

A primeira guerra da Chechênia foi um conflito bélico na República da Chechênia ocorrido entre 1994 a 1996 e que resultou na independência de facto, não de jure, deste território sob controle da Rússia, que adotou o nome de República Chechênia da Ichkeria. Os russos denunciaram que o governo checheno não conseguira controlar as gangues e o crime organizado, nem pusera freio às perseguições étnico-religiosas. A segunda guerra da Chechênia, iniciada em 1999, deu-se em resposta a uma série de explosões de edifícios inteiros na Rússia. Grupos de ação chechenos haviam dinamitado prédios de apartamentos, matando quase 300 civis russos. Entrementes, outros atentados ocorriam, como a ocupação de um hospital russo que provocou a morte de 120 pessoas.Supremacia aérea e terrestre

A resposta de Vladmir Putin, o novo governante russo, foi implacável. Grozny, a capital da Chechênia, foi alvo de bombardeios aéreos que a deixaram totalmente arrasada. E assim, russos e chechenos mergulharam numa guerra sem fim, numa rodada mortal, na qual cada ato agressivo de uma parte a parte. Vale notar que o bombardeio discriminado, a tortura, a morte de civis, as prisões e mortes lá não comovem a nossa esquerda nem um pouco. Não os motivam a denunciar o imperialismo. Antes pelo contrário, estimulam Chávez a fazer acordos. É preocupante a militarização da AL. E principalmente a nossa nova mudança de tipo de fornecedor. E aliado.

Em outubro de 2002, a tomada de reféns do teatro de Dubrovka, em Moscou, terminou com a morte de 130 pessoas, devido a um desastroso uso de gás. Em setembro de 2004, a da escola de Beslan, no Cáucaso russo, acabou com 332 vítimas, entre elas 186 crianças.

A Primavera de Praga, realizada em 1968 na Tchecoslováquia, foi o movimento liderado por intelectuais reformistas do Partido Comunista Tcheco interessados em promover grandes mudanças na estrutura política, econômica e social do país. A União Soviética mandou tanques do Pacto de Varsóvia invadir a capital, Praga, em 20 de agosto de 1968. Dubcek foi detido por soldados soviéticos e levado a Moscou. O pacto não foi cumprido.

Na guerra da Coréia, os F-86F Sabre da USAAF mantiveram a supremacia aérea contra o seu grande inimigo nos céus da Coréia: os Mig-15 soviéticos, no que se transformou o primeiro grande conflito da era do jacto. O tanque Cadillac Cage M41 Walter Bulldog foi desenvolvido para atender os requisitos do exército norte-americano, que necessitava de um novo blindado para substituir os M24 Chaffee durante a guerra da Coréia devido a sua inferioridade frente aos tanques T34/85 empregados pela China e Coréia do Norte neste conflito. O que foi um sucesso.

Armamentos russos

Na guerra do Vietnã, os Migs 17, 19 e 21, de fabricação soviética, foram superados pelos jatos americanos Republic Thunderchief F-105, o cavalo de batalha da USAF, mais tarde, substituído como aeronave de ataque no Vietnã do Norte pelo F-4 Phantom II e pelo F-111.

Na Guerra dos Seis Dias, os egípcios contatavam com mais de 300 aviões, entre os quais os mais perigosos MiG-21, 1000 tanques de fabrico soviético, principalmente T-55, Carro de combate médio – T-62. Os israelenses possuíam o carro de combate médio Sherman-M51 (Super Sherman). Ao fim do dia 5, mais de 300 aviões egípcios, entre os quais os mais perigosos MiG-21, estavam reduzidos a cinzas. Durante o dia 6 de junho, à medida que os ataques se sucediam, contabilizavam-se também mais de 100 aeronaves destruídas das forças aéreas da Síria, da Jordânia e do Iraque.

O que voltou a se repetir na Guerra do Yom Kippur. Voltando-se ainda mais para o apoio soviético, Nasser negociou a aquisição de enormes quantidades de armamentos russos, dentre os quais se destacam, apenas no período 1967-1973:

60 – Tanques pesados IS-3 (122mm)

1900 – Tanques T-54 e T-55 (100mm)

750 – Tanques T-62 (115mm)

200 – Caça-bombardeiro Su-7B ‘Fitter’

100 – Caças MiG-17

80 – Caças interceptores Mig-19

413 – Caças MiG-21 e MiG-21MF

80 – Helicópteros Mi-8

O pacto Molotov-Ribbentrop

Com 150 A-4 Skyhawk, 140 F-4 Phantom, 50 Mirage e 27 Mistere-IV-A, a força aérea israelense era bastante poderosa, embora a força aérea do Egito tivesse um número de aeronaves superior. Um piloto de Israel tinha em média 200 horas de vôo por ano, enquanto que um egípcio voava apenas 70 horas, por razões relacionadas com o rápido desgaste dos caças russos. A superioridade da força aérea e a superioridade dos tanques Centurion, M-48 e M-60 sobre os IS-3, T-55 e T-62 sírios foi esmagadora.

Na guerra dos nove anos do Afeganistão, ou melhor dito invasão soviética do Afeganistão, o equipamento não foi suficiente para determinar a supremacia soviética. As primeiras tropas soviéticas a entrar no Afeganistão chegaram em 25 de dezembro de 1979. A retirada final começou em 15 de maio de 1988 e foi concluída em 15 de fevereiro de 1989. Helicópteros soviéticos completamente neutralizados na guerra do Afeganistão pelos FIM-92 Stinger, míssil terra-ar, muito mais baratos e eficientes. Tanto que o equipamento foi um fracasso, como a ‘defesa’ proporcionada pela Rússia na época foi de oprimir e atacar aquele que deveria ser seu aliado, mas virou sua vítima. O que caracteriza no relacionamento do seu entorno da Rússia, em que o mesmo é fator de opressão e guerra, e não defesa e garantia de liberdade para os seus ex-satélites.

Tanto a primeira guerra mundial, como a segunda, ocorreram por causa destes sistemas de tratados. Em 28 de junho de 1914, o arquiduque Francisco Ferdinando, sobrinho do imperador Francisco José e herdeiro do trono austro-húngaro, e sua esposa Sofia, duquesa de Hohenburg, foram assassinados em Sarajevo, então parte do Império Austro-Húngaro. Devido ao sistema de tratados, o conflito se generalizou pela Europa. Assim como na segunda, os países do Eixo se juntaram em tratados. Sendo que a URSS, de Stalin, se aliou ao socialismo de Hitler na luta anti-capitalista, pelo pacto Molotov-Ribbentrop, garantindo a divisão da Polônia com a invasão nazi-soviética da Polônia (massacre de Katyn), e seguiu-se à invasão soviética na Finlândia ainda em 1939, garantia da retaguarda para o Reich para iniciar a invasão da Holanda e da França, preparando o trampolim para a Batalha da Inglaterra.

Acidente por falhas tecnológicas e humanas

Em 1937, a Alemanha bombardeara a cidade de Guernica, traída pela Rússia na falta de apoio aos seus antigos aliados. Olga Benario (1908-1942), agente da GRU (Exército Vermelho), comunista de carteirinha, estava presa na Alemanha de 1936 a 1942. Mas não foi feito nada pelos sovéticos para salvar-lhe a vida. O que se repete na história russa de traições. Como a escravização dos países ‘libertados’ pela segunda guerra, anexados, e libertados 50 anos depois, alguns apenas, com a queda do muro de Berlim.

A cidade mais poluída do mundo não é Cubatão, é Dzerzhinsk, uma cidade industrial a 400 quilômetros de Moscou, apontada pela organização ambientalista Greenpeace como a mais poluída do mundo. A expectativa de vida é de apenas 42 anos para os homens e 47 para mulheres.

Na madrugada de 26 de abril de 1986, o reator número 4 da usina de nuclear de Chernobyl, Ucrânia, na antiga União Soviética (URSS), explodiu, gerando chamas que chegaram a mil metros de altura. Durante os oito meses que se seguiram à explosão da central nuclear de Chernobyl, cerca de 800 mil jovens soldados, mineiros, bombeiros e civis de todas as regiões da URSS trabalharam quase sem descanso para tentar moderar os efeitos da radioatividade, construir um sarcófago ao redor do reator acidentado e salvar o mundo de uma tragédia.

A explosão de Chernobyl, o pior acidente ambiental da história, produziu uma chuva radioativa detectada em todo o território da União Soviética, na Europa Oriental, na Escandinávia, na Inglaterra e ao leste dos Estados Unidos. Grandes áreas da Ucrânia, Bielorrússia e a atual Rússia foram contaminadas. Como resultado, 200 mil pessoas foram evacuadas. E 60% do pó radioativo ficaram concentrados no território da Bielorrússia. O acidente de Chernobyl foi o mais grave já ocorrido no mundo por falhas tecnológicas e humanas.

Guevara não suportava a mentira

Uma explosão similar aconteceu em Tomsk, na Sibéria, em abril de 1993. A maior usina de reprocessamento fica em Krasnoyark, 600 km a oeste de Tomsk. Várias toneladas de urânio e plutônio se espalharam pelos campos. Tomsk ficou conhecido como o pior acidente pós-Chernobyl, somente superado pelo acidente em Tokaimura, no Japão. As duas usinas contaminaram os dois maiores rios da Sibéria, o Ob e o Yenissei, que correm para o Mar de Kara, ao norte.

No dia 12 de agosto de 2000, um acidente com o submarino nuclear russo Kursk chocou o mundo. Com uma tripulação de 118 pessoas, a explosão do submarino ocorreu por má manutenção e tecnologia obsoleta na propulsão de torpedos. Consubstanciado pela ausência de meios de resgate de homens em submarinos da maior frota do mundo deste tipo de vaso de guerra, pois não era preocupação dos comunistas resgatarem vítimas. Um país sem tradição democrática, com forte ranço autoritário e imperialista, onde dificulta a imprensa livre e ainda persegue jornalistas independentes. Assim, além de ser um equipamento, uma opção militar de pouca serventia no campo de batalha, não é a Rússia um estado que defenda os seus tratados e a liberdade dos outros. Claramente os seus interesses na AL são expansionistas e imperialistas. Um jogo perigoso para o país.

Um dos fatores atribuídos ao fracasso da tentativa de industrialização de Cuba é atribuído à péssima qualidade dos bens de capital doados pela ex-URSS, que quebraram e se sucataram com uma velocidade acima do esperado. A desilusão do Che com os soviéticos começou com a Crise dos Mísseis, em 1962, principalmente porque se sentiu ‘traído’ pela União Soviética, que retirou seu armamento de Cuba sem avisar o governo da ilha, capitulando aos Estados Unidos. Em seguida, decepcionou-se com o equipamento industrial adquirido por Cuba do bloco socialista. Para ele, era um material ruim, ultrapassado e de péssima qualidade, que considerava uma ‘mierda’.

Guevara certamente ia perdendo aos poucos sua fé na burocracia da União Soviética. Para Alberto Granado, o Che ficara empolgado por Stalin por causa dos livros que lera, mas depois, já como dirigente do governo cubano, ‘começou a encontrar um mundo que não era só de slogans e manifestos – um mundo importante – e acho que isso o deixou inebriado e fez com que achasse que na União Soviética estava a solução para a vida, acreditando que lá se aplicaria tudo o que lera. Porém, em 1963 e 1964, quando se deu conta de que o tinham andado enganando (você sabe que Che não suportava que mentissem para ele), então veio uma reação violenta’.

Acordos comerciais e militares

A segunda traição veio com a queda do Muro de Berlim, em 1989, que fez a Rússia abandonar completamente a ilha ao seu destino isolada.

Na primeira e na segunda Guerra do Golfo, os milhares de blindados russos vendidos ao ditador Saddam Hussein foram aniquilados sem conseguirem infligir nenhuma vítima ao inimigo. Os modernos MIG foram enterrados na areia do deserto para escaparem da total destruição que sofreram na primeira guerra do Golfo, tal a sua inferioridade em combate. O Iraque foi um grande palco de armas do século 20 e 21. E nela, esta opção de armas foi desabonadora para a tecnologia russa.

Na guerra Irã-Iraque, entre os sunitas e xiitas, foi incapaz de ser decisiva para Saddam Hussein, frente a um Irã com apenas as sucatas compradas dos americanos herdadas pela queda do Xá Mohammed Reza Pahlevi. Seus blindados foram destruídos na primeira e na segunda Guerra do Golfo com extrema facilidade. E a força aérea, a que estamos a ponto e comprar, foram mantidos em terra nas duas ocasiões, por incapacidade total de fazer frente a sua necessidade de exercer defesa do território.

Estes são apenas alguns das lembranças que me ocorrem da falta de confiabilidade da Rússia como parceiro e deficiência tecnológica. A não ser por uma política subjugada a Chávez, a opção pessoal do presidente Lula é completamente provocativa e inadequada para um país que deseja manter a harmonia e a paz no continente nos próximos anos imediatos.

Mas o preocupante, frente à falta de discussão da oposição (quem lembra a CPI pela compra do Sistema de Vigilância da Amazônia – Sivam no governo FHC?), e a falta de crítica e notícia da imprensa nacional, é que os membros do Fórum de São Paulo, organização política de esquerda que traça a estratégica política para a tomada do poder na AL, articula este entranho apoio na força da ex-União Soviética. Lula acaba de assinar acordos comerciais e militares com a nova nação expansionista russa, comandada por este ex-agente talhado pela KGB. O presidente russo Dmitry Medvedev visitou o Brasil, a Venezuela e Cuba entre 24 e 27 de novembro. Um dos méritos deste atual governo é fazer o povo se despreocupar com a lisura destas coisas.

Questões não discutidas

Lula uma hora aparece na imprensa se irritando (?) com a presença Russa: Insatisfação

Aproximação entre Venezuela e Rússia irrita Lula 20/09/2008 | 01:06 | Agência Estado (http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/mundo/conteudo.phtml?tl=1&id=810053&tit=Aproximacao-entre-Venezuela-e-Russia-irrita-Lula)

E no fim acaba fazendo acordo militar sem consultar a população. Folha Online – Brasil 26/11/2008 – 13h51 Lula e Medvedev assinam acordo para isenção de visto e cooperação espacial e militar Luisa Belchior colaboração para a Folha Online, no Rio (http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u471894.shtml )

A intenção é defesa contra quem? Quem são os nossos potenciais inimigos? O que adianta comprar armas baratas, mas que não proporcionem uma real capacidade de defesa, como associarmos-nos a parcerias pouco confiáveis?

Jânio de Freitas comenta em: Às armas

(http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0412200807.htm ) Atribui a idéia ao Lula e seu governo de entregam-se a uma mentalidade belicista, de concepções apanhadas na matriz norte-americana. Como se a ex-URSS e a China não estejam abarrotadas de contratos de fornecimento e de reaparelhamento militar do mundo.

Para aonde nos leva o líder daquele do partido que nunca foi refundado eticamente, nos seus sonhos de poder e aventura com esta aliança? Pelo menos os equipamentos fornecidos aos nossos soldados deveriam ser os mais confiáveis do que apenas alinhados.

Pode ser que eu esteja equivocado na minha análise, mas certamente a imprensa não está levando ao povo discutir estas coisas, para onde desejamos ir, para onde estão nos levando sem nos consultar.

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Médico, Porto Alegre, RS