Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

A construção do conteúdo jornalístico online em Itajaí

Pesquisa da Nielsen de janeiro de 2009 aponta crescimento de 16% na audiência dos dez maiores sites de notícias na web. O fenômeno já é apontado como tendência no consumo de notícias – as pessoas procuram instantaneidade e velocidade na grande rede mundial de computadores.

Com base nesse fato, o Monitor de Mídia analisou três portais de notícias on-line da cidade de Itajaí – Itajaí News, Itajaí Online e Itajaí Virtual. Para tanto foi considerado o dia 22 de abril de 2009, nas 24 horas de publicação de informações nos sites.

Para a observação do conteúdo, foram considerados os critérios de arquitetura da informação, conteúdo, navegabilidade, visibilidade, objetividade, design e tecnologia, previstos por Rodrigues (2001). O autor afirma que tais pontos são fundamentais na hora de analisar um site.

Além da parte estética, a estrutura do texto e a redação jornalística foram conferidas de acordo com os conceitos de Ward (2006), Ferrari (2003) e Moherdaui (2002) – autores recentes de um fenômeno atual.

Outro critério considerado foi a proximidade dos veículos on-line e sua relação com os acontecimentos locais e o atendimento ao público da cidade – afinal, todos os três endereços levam Itajaí no nome.

Design

Antes do texto, da organização das informações e da navegabilidade de um portal, o que primeiro chama a atenção do internauta e o faz dedicar algum tempo à página na internet é o seu design. Segundo Rodrigues (2001), a programação visual é a porta de entrada de um site. Se o internauta não se agradar com o ambiente, pode não ficar por muito tempo.

A teoria do webdesign define como um dos fatores mais importantes de uma página sua cor dominante. O designer Eduardo Vieira (2004) afirma que falar sobre cores na Web é ainda mais complexo do que nas restantes áreas do design, devido às questões técnicas e de uso inerentes ao meio. Em um portal na Web, a importância das cores ultrapassa o valor estético, podendo determinar o local da página em que o visitante irá focar sua atenção em um primeiro momento e até mesmo a credibilidade que ele dará ao que vê.

Após ser captada pela visão, a cor é processada pelo cérebro, formada, quantificada e avaliada, tornando-se um elemento de significado. Nessa etapa o cérebro identifica qual cor é vista e a relaciona com experiências anteriores para atribuir valores a cor. Desse modo, pode-se considerar que os seres humanos têm uma resposta emocional à cor, fundamentada no contexto cultural em que se insere. (VIEIRA, 2004, s.p)

O portal Itajaí Online apresenta predominância da cor laranja. Segundo a Teoria do Design, tal cor representa intimidade com o internauta, criando um ambiente descontraído e familiar. Contudo, o laranja não transmite seriedade, portanto não é recomendado para portais com conteúdo noticioso. Também não há preocupação estética com a criação de ícones ou de um padrão organizacional da página. O logotipo do portal é de difícil compreensão, formado por muitos elementos e cores.

O azul, que é considerado a cor mais séria na Teoria do Design, predomina no ambiente virtual do Itajaí News. A mesma cor é distribuída pelas páginas em tonalidades diferentes, criando harmonia na estética visual. Nas demais páginas há um padrão na organização dos elementos de página. O mesmo não ocorre na página principal, que – à primeira vista –, parece ter seus elementos distribuídos de maneira aleatória.

O Itajaí Virtual foi o portal que demonstrou maior preocupação com design de suas páginas. A cor cinza, predominante no seu site, além de transmitir seriedade e sobriedade, é considerada uma cor elegante na Teoria do Design. O logotipo do portal é formado pelo contorno de um navio, o que de maneira simples transmite uma das principais características de Itajaí, a de cidade portuária. Além disso, há um padrão organizacional notado em todas as páginas do site, o que amplia a harmonia estética, tornando agradável a visualização do portal.

Para Rodrigues (2001), a programação visual deve apoiar em todos os momentos o texto e demais conteúdos de um portal. Podemos perceber, no Itajaí Online, que a falta de um design agradável prejudica em muito o conteúdo, tornando-o menos interessante, atrativo e, até mesmo, menos confiável. O mesmo não ocorre de maneira tão visível nos demais portais analisados, que demonstraram maior preocupação com a estética de suas páginas. Vale lembrar que ter uma página bonita não é tudo: é preciso ter conteúdo de qualidade, também.

Visibilidade

Assim como uma vitrine de loja, a home page de um site deve conter o que há de mais importante e atrativo nele. Contudo, não é possível colocar todas as roupas da loja na vitrine, e muito menos todo conteúdo do site na home page.

A home page de um site não é uma árvore de Natal’, ou seja, não adianta querer pendurar quilos de conteúdo logo na primeira página. ??…?? Uma home page carregada é um convite para o internauta sair da página e não voltar mais. (RODRIGUES, 2001, p. 23)

Quando falamos da disposição das informações em um site, estamos nos referindo à sua visibilidade. Para uma boa visibilidade, é interessante que as informações mais importantes estejam dispostas em tópicos de fácil acesso.

No site Itajaí Online, parte do conteúdo é dividida em canais cujos links formam uma coluna à esquerda da página. Tais tópicos deveriam levar às páginas intermediárias, que segundo Rodrigues (2001), instigariam o visitante a continuar conhecendo o site.

São páginas que seguem a primeira, mas que também priorizam tópicos e funcionam como estímulo para o internauta continuar sua navegação. As home pages intermediárias devem ser simples, sem imagens carregadas ou fundos que impeçam um rápido download. (RODRIGUES, 2001, p. 24)

Isto não ocorre com o Itajaí Online: cada canal leva a uma página final, que não cria novas possibilidades de navegação em um mesmo tema específico. Além disso, há muita informação na primeira página, exigindo do internauta que use a rolagem do seu navegador para poder enxergar todas as informações disponíveis. Imagens, notícias, espaço de debate e entretenimento disputam espaço com a quantidade absurda de anúncios.

No Itajaí News as informações principais também estão dispostas em tópicos, porém de maneira diferente. No site há a preocupação com as home pages intermediárias, citadas por Rodrigues (2001). As informações são dispostas em blocos de diferentes áreas de interesse, de horóscopo a economia. Porém, não há uma sobrecarga de informações, pois todos os blocos são distintos entre si sem sair de um padrão de imagem. A estética no Itajaí News está em conjunto com a informação, o que facilita a visibilidade – aqui usuário usa menos a rolagem do navegador no site. Além disso, não há anúncios na página principal, apenas classificados, que ocupam um dos blocos padronizados, não sobrecarregando de informações o ambiente visual.

O portal Itajaí Virtual é o que mais se aproxima do ideal proposto por Rodrigues (2001). Logo no topo da página, há menus de acesso rápido, além dos canais dispostos em tópicos à esquerda da página. A noção da home page intermediária não é amplamente explorada, porém cada página aberta cria, através de links, a possibilidade de prosseguir com a navegação dentro de um tema específico. Apesar de o Itajaí Virtual apresentar uma grande quantidade de informações na primeira página, há uma boa distribuição do conteúdo. Nesse caso, a estética está aliada ao conteúdo para facilitar, em muito, a visibilidade.

Enquanto o Itajaí News disponibiliza apenas parte do seu conteúdo na página principal, como sugere Rodrigues (2001), o Itajaí Virtual e o Itajaí Online abusam da quantidade de informações na home page. Isso é mais notado no Itajaí Online, que não apresenta preocupação com a estética da informação, aproximando-se mais do conceito ‘árvore de Natal’, já citado.

Nos três sites percebe-se a falta de recursos que facilitariam a visibilidade. Uma solução para a sobrecarga de informações seria a utilização de ferramentas como os menus pull-down (botões de acesso que abrem, sem sair da página, uma lista de links relacionados a um tema específico) ou banners criativos. Tais recursos inexistem nos portais Itajaí News e Itajaí Online e são pouco explorados no portal Itajaí Virtual.

Tecnologia

Tecnologia, na Web, é mais do que o computador potente que usamos ou a nossa conexão veloz com a internet. Rodrigues (2001), quando trata de tecnologia na redação para Web, se refere a recursos que, aliados ao texto, facilitam o acesso do internauta à informação.

(…) na Web, aspectos como tecnologia podem – e devem – ajudar o redator Web. Itens básicos como pop-ups, menus em DHTML (HTML Dinâmico) ou Flash são capazes de ‘acender’ o conteúdo informativo de uma página – além do básico do básico, ou seja, links que sempre funcionam. (RODRIGUES, 2001, p. 32)

No Itajaí Online e no Itajaí News, não há nenhum tipo de recurso tecnológico que facilite a captação do conteúdo. Até mesmo os links, citados por Rodrigues (2001) como o ‘básico do básico’, são raros e de pouca utilidade.

No portal Itajaí Virtual existe a preocupação com a disponibilização de links, porém, os mesmos remetem a conteúdos exclusivos do próprio portal, não criando novas possibilidades de navegação e descobertas dentro de um tema para o internauta. Demais recursos tecnológicos também inexistem neste portal.

Arquitetura da Informação

Rodrigues (2001) define a arquitetura da informação como a arte de pensar, mapear e construir um site. O arquiteto da informação é, antes de tudo, um estrategista. Ele deve planejar onde cada informação estará alocada, de maneira que fique mais fácil ao internauta acessá-la, encontrá-la e voltar a ela quando bem desejar.

O que mais prezo em um site é a inteligência, e as páginas com cérebro sempre são as que mais me orgulham. Um site em que você navega e percebe que foi bem pensado, mapeado e construído merece louvores.’ (RODRIGUES, 2001, p. 31)

O portal Itajaí Online apresenta poucos sinais de planejamento. Apesar de haver colunas com links que remetem a palavras-chave (notícia, fotos, agenda), em todas as páginas há informações distribuídas de maneira desconexa, sem nenhum padrão que facilite a navegação. Podemos encontrar, por exemplo, ao lado da opção ‘Itajaí Empresas’, um link que remeta para Saúde e outro para ‘Desenho-humor’. Além disso, não há links que remetam à ‘página anterior’ ou à ‘página principal’, fazendo com que o visitante precise utilizar as ferramentas de ‘voltar’ e ‘avançar’ do seu navegador constantemente, se quiser voltar ao índice. Encontrar informações específicas no Itajaí Online é difícil e cansativo.

Já no portal Itajaí News, a navegação se torna mais simples devido à quantidade reduzida de informações por página. É mais fácil encontrar o que se busca, há tópicos que remetem a temas específicos. O Itajaí News é o único portal que utiliza uma ferramenta de busca, porém não a apresenta na página principal – o que seria o ideal para facilitar a navegação, apenas nas home pages intermediárias.

Também não há ferramenta de busca no site Itajaí Virtual. A busca de informações é facilitada pelo layout do portal, e por links – existentes em todas as páginas –, que remetem aos conteúdos semelhantes, à página anterior ou à página principal.

Um portal precisa considerar que dois tipos de visitantes percorrerão as suas páginas: o que já sabe o que busca e, portanto, quer encontrá-lo com facilidade; e o que não busca informações específicas, apenas navega até encontrar algo que prenda sua atenção e o seduza a ficar. Por isso é tão importante o planejamento de uma página na internet. Segundo Levy (1999), estas diferenças podem ser chamadas de navegação de caçada (quando se procura por um dado específico) ou de pilhagem (quando existe um interesse aleatório pelo assunto: devaneio pelos hiperlinks).

Todos os sites analisados exigem do usuário dedicação na busca de informações. Apesar de os tópicos mais importantes estarem visíveis (como o link para notícias), apenas a visibilidade não basta. Percebemos que houve pouca preocupação com a arquitetura da informação, não há mapeamento e planejamento prévios, citados por Rodrigues (2001), para interferir no modo como o internauta perceberá as páginas e facilitar sua navegação.

Conteúdo jornalístico

O faro da notícia é um sentido fundamental ao jornalista e o relaciona diretamente com a atividade diária de relatar informações ao público. A forma de repassá-las é que faz a diferença quando se trata das diversas ramificações do texto jornalístico. Muitos portais adotaram erroneamente o conceito jornalismo digital como mero repasse e empacotamento das notícias do meio impresso para a Internet, como uma simples transposição. Porém, Ferrari (2003) destaca:

jornalismo digital não pode ser definido apenas como o trabalho de produzir ou colocar reportagens na internet. É preciso pensar na enquete (pesquisa de opinião com o leitor); no tema do chat, o bate-papo digital; nos vídeos e áudios; e reunir o maior número possível de assuntos e serviços correlatos à reportagem. (FERRARI, 2003, p. 45)

Partindo do princípio de que os sites analisados fazem jornalismo digital (e não jornalismo on-line, de acordo com Ferrari) foi analisado também o conteúdo jornalístico disposto nos portais de notícia de Itajaí. O conteúdo não se restringe somente às notícias publicadas no dia 22 de abril, mas ao conjunto de informações jornalísticas e participativas do público no portal. Ferrari (2003, p. 39) salienta que o conteúdo ‘tornou-se a palavra da moda nos tempos da proliferação dos sites. E não é à toa: é em busca de conteúdo – mais até mesmo do que de serviços – que as pessoas acessam a maioria dos sites’.

O acesso às noticias ganha na internet o caráter universal: qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo pode conectar-se aos portais de notícias. Tradicionalmente, os demais meios costumam adotar o critério de proximidade como um dos principais para definir a noticiabilidade de um fato.

Levantamento feito junto a dez autores brasileiros, americanos e europeus coloca a proximidade em primeiro entre setenta critérios citados. São estudos de diferentes épocas e realizados sob variadas matizes metodológicas de pesquisa na tentativa de explicar, por meio de uma sistematização empírica, quais os fatores determinantes na seleção da notícia pelos gatekeepers. (FERNANDES, 2004, p. 5)

Para Sousa (2001), ‘quanto mais próximo ocorrer um acontecimento, mais probabilidades tem de se tornar notícia. A proximidade pode assumir várias formas: geográfica, afectiva, cultural, etc’. A mesma prerrogativa vale para o jornalismo digital. Porém, com o acesso ilimitado, Dube (apud Ferrari, 2003, p. 48) ‘sugere que se pense sobre qual o alcance que se quer dar a ele – local, nacional ou até internacional – e que se escreva com isso em mente’. Assim funcionam os portais de notícias locais, que independente de sua distância geográfica, comunicam para um público com quem compartilham interesses semelhantes – afetivos, culturais e etc. Os três sites analisados, especificam sua área de cobertura – a cidade de Itajaí – e cumprem a proposta em termos de abrangência. Os sites são direcionados ao público local e aos que se interessam pelos assuntos do município. Essa observação vale para tudo o que está em torno da notícia, inclusive seus recursos de interatividade.

Moherdaui (2000) propõe um outro tipo de planejamento de pauta, necessária para a notícia na web. Essa pauta destaca o uso de ferramentas disponíveis para contextualizar e aprofundar o fato. Para a análise desse diagnóstico, foram utilizados os parâmetros propostos por Moherdaui (2000, p. 104):

** O pano de fundo da reportagem serve de link para uma nova página da Web?

** O pano de fundo ou elementos relacionados devem ser apresentados como uma linha de tempo ou em substituição ao texto?

** Elementos multimídia, como de áudio e vídeo, devem acompanhar a matéria?

** A reportagem presta-se para discussão ou outros elementos interativos que envolvem leitores?

** De quais elementos visuais a matéria necessita: mapas, fotos, etc.?

** Quem deve ser envolvido desde cedo no processo: editores Web, designers e especialistas multimídia?

O Itajaí News apresenta atualizações diárias, seguindo uma periodicidade constante, se comparado aos outros dois. Ao todo são 20 editorias, mais o espaço ‘Entrevistas’. Durante o dia 22 de abril, o site apresentou oito novas notícias na editoria ‘Geral’, seis na ‘Policial’, duas na ‘Educação’, duas na ‘Política’ e uma notícia na editoria de ‘Esportes’, contabilizando 19 atualizações. Além da cidade de Itajaí, o site traz informações sobre os municípios vizinhos do Litoral do Vale do Itajaí. A pauta do Itajaí News é basicamente estabelecida sob o critério de proximidade já citado, evidenciando o município-sede do portal.

O texto do jornalismo digital não foge muito da estética da pirâmide invertida. O lead, conceito tradicional do jornalismo, ganha força neste meio como explica Ferrari (2003). ‘Ao escrever on-line, é essencial dizer ao leitor de forma rápida qual é a notícia e por que ele deve continuar lendo aquele texto – daí a importância de recorrer à velha formula ‘quem fez o quê, quando, onde e por quê’. Porém, a diferença está no corpo do texto que não precisa ser necessariamente na escala tradicional. Dube (apud FERRARI, 2003) sugere que os veículos adotem o modelo ‘T’.

Nessa estrutura, a parte horizontal do T representa o lead e coloca o principal da notícia, ou seja, por que ela esta sendo escrita. A partir daí, o resto da matéria – a parte vertical do T – pode ter qualquer forma. O jornalista pode contar a história de forma narrativa; ou então continuar com o resto da história; ir ponto por ponto; ou simplesmente continuar o texto no formato de pirâmide inversa. Isso permite ao jornalista telegrafar as informações mais importantes e, ainda assim, escrever do jeito que quiser. (DUBE apud FERRARI, 2003, p. 50)

As 19 notícias do dia 22 de abril iniciaram com o formato básico do lead. O estilo release dos textos das assessorias de imprensa predominam, o que acaba por limitar a ‘parte vertical do T’ que dá ao jornalista liberdade de redigir. Somente duas das matérias (Encontro da Abem-Sul debate educação musical em Itajaí; Começa a etapa de BodyBoarding de Balneário Camboriú) apresentaram links que adicionam mais conteúdos às notícias. Nenhuma delas utilizou de recursos de áudio e vídeo e seis matérias usaram fotos, citando suas devidas fontes.

Dentre todas as notícias atualizadas no dia de análise, cinco delas tratavam de assuntos do dia 22. As demais falavam de fatos do dia anterior (terça-feira, 21), da semanacorrente e do mês seguinte (maio). A instantaneidade, característica atrativa dos portais de notícias, não aparece com freqüência nos sites locais analisados. Instantaneidade não se trata de dar o fato primeiro, mas dar a noticia. Ferrari (2003) destaca que não é o furo que garante o sucesso de um portal, mas a qualidade da abordagem.

Achar que o mais importante é oferecer as últimas notícias o mais rápido possível é um grande equívoco do meio. Os leitores raramente percebem que foi o primeiro a dar a notícia – e, na verdade nem se importam com isso. Uma notícia superficial, incompleta ou descontextualizada causa péssima impressão. É sempre melhor colocá-la no ar com qualidade, ainda que dez minutos depois dos concorrentes. (FERRARI, 2003, p. 49)

O furo jornalístico, tão disputado pela imprensa, continua importante jpa que neste meio não há mais limitações – o dead line é constante. Mas, segundo a autora, ele perde certo valor para a contextualização da notícia. Assim os recursos multimídia que são disponíveis na Internet, as fotos, infográficos e outros acessórios informativos são importantes ferramentas para atrair os leitores.

No site Itajaí News o conteúdo jornalístico reforça-se com oito colunas temáticas, que abordam cinema, música, política, esportes, educação, indústria e engenharia naval, negócios e uma dedicada ao Lions Club. Três colunas foram atualizadas, ‘Nos Bastidores do Poder’, ‘Esporte News’ e ‘Pitadas Musicais’. O espaço Entrevistas é atualizado esporadicamente, com material produzido pelo jornal eletrônico com personalidades destaques da cidade itajaiense. A participação dos leitores é realizada pela enquete, que questiona sobre os primeiros cem dias da nova administração pública e através do espaço ‘Fale Conosco’. O site disponibiliza o cadastro de endereços eletrônicos de leitores que desejam receber via e-mail suas atualizações. A previsão do tempo e os demais sites são links para o portal UOL.

Se o critério de avaliação da qualidade dos portais fosse a factualidade, o portal de notícias Itajaí Online ficaria prejudicado. No dia 22, não apresentou nenhuma atualização em seu conteúdo jornalístico. Do dia 1º de abril ao dia analisado o site contabilizou 35 notícias com média de duas a três atualizações diárias. A cobertura é específica da cidade de Itajaí, com algumas contribuições sobre os municípios vizinhos de Navegantes e Balneário Camboriú. Os textos que compõem o espaço ‘Notícias’ podem ser encontrado em outros sites na Internet, caracterizando-os como release de assessorias de imprensa. Estes seguem a estrutura característica do tipo de texto, composta por lead e fontes diretamente ligadas ao fato que se está divulgando. As notícias abordam assuntos diversos, que se relacionam com o público em questão, como esportes, política, saúde, negócios, educação e serviços.

O Itajaí Online também tem espaço para publicações de entrevistas com pessoas conhecidas da cidade. Conta com a participação de colunistas que tratam de política, cinema, economia, saúde e outras colunas dedicadas à poesia, crônicas e fotos sociais. A atualização desses conteúdos é esporádica, sendo ‘Direito e Política’ a última coluna postada no dia 15 de abril. A interação com o público se dá por meio do espaço ‘CARTAS RECEBIDAS’, ‘Fale conosco’ e com a proposta do ‘Debate On Line’, cuja pergunta atual evoca a opinião do leitor em relação aos primeiros cem dias da nova administração pública municipal. A atualização das informações climáticas é feita através do Tempo Agora, com link da previsão do tempo do portal UOL.

A proposta do Portal Itajaí Virtual é cobrir exclusivamente Itajaí, não só jornalisticamente. O site traz também conteúdo histórico, turístico e outras informações do município. Os demais vizinhos, Balneário Camboriú e Camboriú, possuem derivações do mesmo portal para tratar de seus assuntos, como é o caso do site Camboriú Virtual e do Balneário Virtual. Durante o dia 22 de abril, o portal não foi atualizado com conteúdo jornalístico. Neste mesmo mês, foram contabilizadas duas notícias e antes disso, somente constam atualizações de janeiro e fevereiro. O conteúdo jornalístico é dividido em 12 editorias. As duas atualizações de abril são uma nota sobre apreensão de drogas em Itajaí e uma notícia de campanha de vacinação, release que cita como fonte Prefeitura de Itajaí.

Onze colunistas contribuem com colunas sobre política, economia, educação, direito, trabalho, saúde e auto-ajuda. A última atualização das colunas foi feita no dia 1º de fevereiro. As entrevistas são feitas com pessoas que contribuem para o desenvolvimento de Itajaí, sendo a mais recente entrevistada uma professora fundadora da primeira escola de ensino bilíngüe do município. A enquete pergunta aos visitantes do site sobre a auto-avaliação do ano de 2008. O público pode participar do site no espaço ‘Fale Conosco’ e interagir entre si através dos links da categoria ‘Itajaí na Web’. Os leitores podem, assim, trocar informações sobre suas comunidades virtuais, perfis de sites de relacionamento e mensagens instantâneas, espaço que permite troca de opiniões sobre o portal entre seu público. A previsão do tempo também é um link do portal UOL.

O trabalho jornalístico dos sites é muitas vezes deficitário por falta de preparo de sua equipe. O estudo do jornalismo digital ainda é recente e não consta nas grades de muitos cursos de comunicação. Mas, além da falta do profissional capacitado, Ferrari contesta a organização das equipes, que deixam transparecer no trabalho o reflexo do despreparo:

Se analisarmos os principais veículos on-line nacionais, iremos encontrar matérias recheadas de verbos na forma passiva, sentenças muito longas e uma mistura de metáforas com clichês. Isso pode ser conseqüência de equipes enxutas, formadas rapidamente, e da presença de jornalistas inexperientes – que, magicamente, de estagiários passam a editores e, às vezes, comandam, sozinhos, um canal inteiro de noticias. (FERRARI, 2003, p. 49)

Além do corpo profissional, a mesma autora argumenta que ‘os veículos cem por cento digitais são obrigados a ter todos os departamentos de redação: fotografias, editorias, produção net (similar à produção gráfica), financeiro, arte, entre outros’ (FERRARI, 2003, 41). Esse preparo profissional e técnico é a maneira de cumprir sua função jornalística com qualidade e assegurar a sobrevivência do veículo on-line, que têm sido a ameaça moderna ao clássico jornal impresso.

Estrutura do conteúdo no meio on-line

Ward (2006) explica que há diferenças no modelo das reportagens convencionais, em impressos, e das feitas para o meio on-line. Para o autor, a principal está no fato das primeiras serem construídas de forma linear, em que cada parágrafo complementa a informação do anterior, de modo que cada unidade tenha lineariedade própria (é aplicado, no caso das notícias, o esquema da Pirâmide Invertida, com a informação mais importante primeiro). Já o as reportagens on-line são estruturadas de forma não-linear, pois os usuários podem ir aonde quiserem e coletar informações. O texto é dividido em blocos de informações, pois cada parágrafo deve conter informações completas, que permitam ao usuário lê-los na ordem que quiser: ‘Esse padrão de consumo de informações é um ziguezague aleatório, não uma linha, e cada trajetória criada pelos usuários podem ser diferentes’ (WARD, 2006, p. 129).

Além dos blocos, há os recursos multimídia, que podem interromper ou mesmo completar a cadência de leitura, os hiperlinks, que podem tirar o leitor da página da notícia. Ward (2006) sugere o uso do material multimídia não como um complemento, mas como parte efetiva do total da reportagem on-line. Quanto aos hiperlinks, Rodrigues (2001) afirma que, quando bem utilizadas, as ligações com outras páginas são responsáveis pela navegabilidade de um site. Porém, o autor afirma que se deve tomar cuidado com o excesso, pois oferecer vários caminhos para o leitor pode deixá-lo perdido.

O Itajaí On-line não publicou matérias no dia analisado. O último registro de notícias no site foi no dia anterior, com duas matérias. Atletas de Itajaí e Balneário Camboriú vencem etapa… e ACII realiza palestra sobre Perspectivas da Economia… apresentaram estrutura linear, em que cada parágrafo dependia da leitura do anterior para a compreensão do texto – ficou a impressão de ler uma história convencional, não nos padrões jornalísticos da pirâmide invertida. A primeira foi dividida em oito parágrafos e mais 22 linhas da classificação dos atletas, material extenso para a leitura na tela do computador. Já a segunda apresentou três parágrafos, divididos por um intertítulo que descreveu a palestrante. A falta de complementos multimídia e links deu a impressão de simples transposição de conteúdo, sem o devido planejamento do conteúdo para o meio on-line. Além disso, o tom formal e promocional dos textos lembrou material de assessoria de imprensa.

O Itajaí Virtual apresentou duas notícias, datadas de 21/04. Apreensão de Crack no São Vicente e Tarde dançante marca início da campanha de vacinação contra gripe Influenza apresentaram textos curtos, o primeiro com apenas um parágrafo e o segundo com três. Ambos apresentaram a informação de forma sucinta, com aspecto de notas, o que agiliza a leitura na tela. Os parágrafos da segunda nota seguiram o esquema de blocos de informações, pois cada um deles poderia ser lido de forma isolada – além de terem sido apresentados na seqüencia da pirâmide invertida. Porém, o conteúdo não foi produzido, apenas replicado da Polícia Militar e da Prefeitura de Itajaí – o que manteve o tom formal de releases. Somente a primeira matéria apresentou complemento multimídia (uma foto) e nenhuma utilizou hiperlinks para expandir o conteúdo.

As 20 matérias publicadas pelo site Itajaí News, entre 7 da manhã e 7 da noite no dia 22/04, apresentaram a estrutura de blocos de informação, com uma média de cinco parágrafos. Estado lança Programa de Gerenciamento Costeiro foi o texto mais extenso, com nove unidades de informação. Seis matérias apresentaram complemento multimídia de foto, junto com o corpo de texto. Encontro da Abem-Sul debate a música em Itajaí e Começa a etapa de Bodyboarding de Balneário Camboriú continham hiperlinks para textos do próprio site, como forma de fazer uma retrospectiva dos temas. Uma espécie de substituição da velha suíte do jornalismo impresso.

Os três portais de notícia não aproveitaram o potencial multimídia da internet, pois utilizaram poucos recursos. Somente fotos constaram e apenas um dos sites utilizou hiperlinks. Todos basearam seu conteúdo no textual, o que deu o aspecto de transposição de material impresso, e não produção própria direcionada para o meio.

O cientista em informática Jakob Nielsen, uma das referências mundiais em design e interação homem-máquina, pontua em seu site algumas dicas de como melhor estruturar o texto para o meio on-line e melhorar os blocos de informação:

** vá direto ao ponto, seja sucinto – não utilize mais de 50% do texto que escreveria para a mesma reportagem em um jornal impresso;

** enfatize o que é novo ou diferente em cada bloco;

** escreva para passar os olhos: use parágrafos curtos, subtítulos e listas com marcadores em vez de grandes blocos de texto;

** use hipertexto para dividir longos blocos de informações em múltiplas páginas;

** evite a síndrome do ‘como visto acima’ – você não deve escrever sua matéria como se o usuário fosse ler todas as partes dela, mas sim fornecer links e o contexto de cada página.

Ward (2006, p. 126-127) apresenta cinco regras básicas que ajudam a construir as reportagens no meio on-line:

** Regra 1: siga as diretrizes do bom jornalismo. Os métodos tradicionais de reportagem cuidadosa e imparcial, utilizando texto convincente, fotografia, áudio e vídeo, traduzirão bem a nova mídia.

** Regra 2: ‘alavancar os poderes da mídia’. Essa expressão me marcou desde a primeira vez em que ouvir Leah Gentry falar sobre isso em uma conferência em 1997. Ela define esses poderes como vínculo (link), instantaneidade, interatividade, multimídia e profundidade. Esses fatores, especialmente quando combinados, são o que torna o jornalismo on-line diferente.

** Regra 3 e 4: desconstrua, reconstrua e roteirize. Divida sua reportagem em partes, procure similaridades ou tendências entre elas, agrupe-as em categorias lógicas, reconstrua a sua reportagem seção a qual será o núcleo linear – a essência da reportagem. Adicione outras partes que fornecerão informações adicionais, fontes e explicações.

** Regra 5: não use tecnologia fora do contexto. Qualquer coisa que não acrescente nada à reportagem é ‘barulho visual’.

Todas as formas de melhorar e dinamizar a leitura em tela são importantes, pois como evidencia Ward (2006, p. 125):

Junte o fato do compromisso necessário para que o leitor permaneça diante da tela e a liberdade que ele tem para navegar pela página e poderá perceber que jornalistas on-line e provedores de conteúdo devem pensar muito em como construir e apresentar suas reportagens.

Ou seja, mais importante do que seguir teorias, é apresentar um produtor que os leitores possam navegar de forma plena e se sentirem motivados a ler o conteúdo.

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A velocidade é a uma das principais características do meio on-line. Ela exige da equipe responsável pelo portal uma rotina sistemática e sincronia com o tempo de atualização. A pressa pode ser uma grande inimiga no processo de produção de notícias, no sentido de perder originalidade e obrigar os sites a copiar informações. Nesse sentido, Ferrari (2003) explica o fenômeno do ‘empacotamento’:

No caso especifico das redações on-line, a produção de reportagens deixou de ser um item do exercício do jornalismo. Adotou-se apenas a produção de noticias, ou, como se diz no jargão jornalístico, de empacotamento da noticia. Empacotar significa receber um material produzido, na maioria das vezes, por uma agência de notícias conveniada, e mudar o titulo a abertura, transformar alguns parágrafos em outra matéria para ser usada como link correlato, adicionar vídeo ou foto e por aí afora. (FERRARI, 2003, p. 44)

A autora afirma que as funções de editor se misturam com a de ‘empacotador’ nesse novo cenário on-line. O empacotador acaba tendo a função de codificador, capaz de traduzir uma matéria para uma linguagem aceita na Web. Nesse sentido, vale a diferença do profissional responsável pela alimentação dos sites feita por Ferrari (2003, p. 40).

Profissionais que trabalham com transposição das mídias, ou seja, traduzem as noticias da linguagem impressa para a Web, em sites de jornais e revistas, são classificados como jornalistas on-line. Já o jornalismo digital, por sua vez, compreende noticiários e produtos que nasceram diretamente na Web.

O Itajaí Online replicou de forma total a matéria ACII realiza palestra sobre Perspectivas da Economia Globalizada e Momento de Crise, que foi publicada no dia 20/04 no site da Revista Portuária. Nenhum tratamento ou edição foi aplicado no texto, que manteve a mesma estrutura em ambas as situações.

O Itajaí Virtual deu crédito a sua matéria Apreensão de Crack no São Vicente para a Polícia Militar. O texto foi adaptado e resumido, mas mesmo assim contém as principais informações. Somente a foto foi replicada. Já a matéria Tarde dançante marca início da campanha de vacinação contra gripe Influenza foi a reprodução exata do conteúdo publicado em 17/04 no site da Prefeitura Municipal de Itajaí.

Nenhuma das matérias do Itajaí News foi copiada ou transposta totalmente de outro endereço. O site condensa e reestrutura as notícias, como em MPSC solicita Adin contra dispositivos do Código Ambiental que apresentou o mesmo conteúdo, escrito de forma diferente (menos no último parágrafo) da notícia publicada no site do Ministério Público de Santa Catarina, em 20/04.

Os portais de notícias na internet têm a intenção de apresentar informações na maior velocidade possível. Porém, a equipe de redação pode enfrentar o dilema da quantidade x qualidade da informação produzida: equipes pequenas, que precisam atender uma demanda e sem tempo para trabalhar em produções próprias. Esse é um dos fatores que pode levar os sites a simplesmente replicar o conteúdo, para preencher a lacuna da atualização.

Porém, quando o site não mantém atualizações constantes, como o Itajaí Online e o Itajaí Virtual, a falta de conteúdo próprio e original prejudica a imagem e a credibilidade do endereço e levanta a questão: por que o leitor continuaria a visitar um site que demora para copiar a informação de outros?

Conclusão

Não é apenas a teoria que vai definir a qualidade de um meio na web. O diálogo e a interação que a grande rede mundial de computadores permite são fatores a ser considerados por quem produz nesse meio. A resposta para o material publicado e a própria aceitação que define se a matéria foi bem sucedida em seus objetivos – o chamado feedback do conteúdo – é quem vai diagnosticar a sobrevida do produto jornalístico. Moherdaui (2000, p.99) explica que ‘nenhum estudo pôde comprovar estatisticamente para quem produzimos conteúdo jornalístico no ciberespaço’. Portanto, ao se pensar a notícia na internet, deve-se ter em mente que uma diversidade de público infinita pode acessar o conteúdo.

Um site na internet precisa ser o mais intuitivo possível, fácil de ser lido por seus usuários e assim, conquistar a simpatia do público. O texto da web deve ter uma simbiose com a estrutura que é publicada, no sentido de seduzir o leitor para permanecer e navegar ao longo do conteúdo. Moreton (apud Moherdaui, 2002) detalha o fenômeno.

O leitor deve encontrar com facilidade os conteúdos que procura quando se conecta à pagina. E muito importante não frustrar as expectativas do internauta. Um usuário insatisfeito é um leitor que não voltará mais a nossa página. A premissa da atualização periódica é essencial para o trabalho da internet. Uma pagina que não se atualiza é uma pagina morta. (MORETON apud MOHERDAUI, 2002, p. 99)

Para uma cidade de poucas dimensões – tanto em área quanto em população – é louvável que o público possa contar com três produtos do meio de comunicação que se nasceu com a promessa de ser o mais democrático possível. Porém, economicamente falando, Itajaí contribui consideravelmente com o PIB estadual e tem grande número de instituições de ensino superior. Fica difícil de aceitar que seu conteúdo não acompanhe o padrão da exigência local.

Referências bibliográficas

FERNANDES, Mário Luiz. A força da notícia local: a proximidade como critério de noticiabilidade. In: IX Colóquio Internacional de Comunicação para o Desenvolvimento Regional, 2004, Araçatuba. IX Colóquio Internacional de Comunicação para o Desenvolvimento Regional – Anais 2004. São Paulo : Cátedra Unesco/Umesp, 2004. v. 01. p. 01-17.

FERRARI, Pollyana. Jornalismo Digital. São Paulo: Contexto, 2003.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: 35, 1999.

MOHERDAUI, Luciana. Guia de Estilo Web: Produção e edição de notícias on-line. São Paulo: Senac, 2000.

RODRIGUES, Bruno. Webwriting: pensando o texto para a mídia digital. Berkeley, São Paulo. 2001.

SOUSA, Jorge Pedro. Elementos de jornalismo impresso. Biblioteca On-line de Comunicação. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro-elementos-de-jornalismo-impresso.pdf. Acesso: 27/04/2009.

VIEIRA, Eduardo. Teoria das cores: Arte ou Ciência? Rio de Janeiro, 09 de outubro de 2004. Sobre Sites: Design. Disponível em: http://www.sobresites.com/design/artigos/teoriadascores.htm. Acesso em: 22 de abril de 2009.

WARD, Mike. Jornalismo On-line. São Paulo: Roca, 2006.

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O leitor comum e a qualidade na imprensa

Qualquer leitor – mesmo o mais distraído – tem uma noção mínima de qualidade do jornal em que está lendo. Esta noção pode ser baseada em impressões ou conceitos mais genéricos, de senso comum. O leitor pode considerar como bom um jornal que apenas satisfaça as suas expectativas de informação. Ou em outros casos, o leitor pode ser mais crítico e exigente e esperar que seu jornal o surpreenda a cada edição, que apóie o seu trabalho em valores mais transparentes e definidos. Mas independente do leitor, do jornal e da exigência que se tenha, o que está em discussão é a qualidade do produto jornalístico.

É claro que este assunto interessa a jornalistas, a pesquisadores e estudantes da área. Mas não apenas. A qualidade do produto jornalístico interessa também a quem se serve dele, como em qualquer outra atividade. Basta lembrar que a qualidade de alimentos é do interesse não só de quem os produz e de quem disputa a preferência do mercado. Com o jornalismo, a qualidade do produto tem implicações sérias, que afetam o nível de informação dos consumidores, a compreensão da realidade contada, conceitos e julgamentos.

Nem todos os critérios de avaliação das redações coincidem com os julgados pelos leitores. Profissionais tendem a apoiar seus trabalhos em valores-notícia; os consumidores não têm esse compromisso, nem o mesmo preparo técnico. O que pode aproximar esses lados da equação? Diálogo entre produtores e consumidores de informação.

Neste sentido, as empresas jornalísticas podem ser mais transparentes e abertas à participação do público no processo de produção. O público, por sua vez, pode deixar uma posição passiva de recepção das informações, adotando uma postura mais ativa e colaborativa. Entre o início e o fim da cadeia informativa, outros atores podem intervir, facilitando esse diálogo. Com este objetivo, a Rede Nacional de Observatórios de Imprensa (Renoi) e a UNESCO no Brasil promovem este ano uma série de seminários discutindo a qualidade da informação jornalística. Esses eventos tornam públicos os primeiros resultados de uma pesquisa desenvolvida pelas duas organizações e que pretende resultar num instrumento de avaliação de jornais e revistas brasileiros.

O primeiro seminário de qualidade da informação jornalística acontece na Univali na noite de 13 de maio, com organização do MONITOR DE MÍDIA. Para um observatório regional de imprensa, esta atividade é muito importante na medida em que incentiva não só uma cultura de consumo crítico da mídia, mas também o saudável debate sobre o jornalismo na vida contemporânea.

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Monitor de Mídia