Leia abaixo a seleção de quarta-feira para a seção Entre Aspas.
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O Estado de S. Paulo
Quarta-feira, 26 de novembro de 2008
ARAGUAIA
Greenhalgh pede busca e apreensão na casa de repórter
‘O advogado Luiz Eduardo Greenhalgh entrou com pedido na Justiça de recolhimento de documentos obtidos pelo Estado sobre a guerrilha do Araguaia. Greenhalgh pede a intimação do repórter Leonencio Nossa, da Sucursal de Brasília, para que forneça documentos repassados por militares que participaram dos combates entre as Forças Armadas e militantes do PC do B no Pará, nos anos 1970, sob pena de busca e apreensão na casa dele.
Greenhalgh é autor de um processo movido em 1982 em que pede esclarecimentos sobre a guerrilha. Fontes do Judiciário informaram que o pedido de busca e apreensão na casa do repórter chegou ontem à tarde à mesa de um juiz para o despacho. O procurador Rômulo Conrado deu parecer contrário ao pedido do advogado e ex-deputado federal, argumentando que o jornalista ‘não é parte integrante da lide, razão pela qual não pode figurar no pólo passivo do processo’.
O pedido de Greenhalgh, feito no dia 25 de junho, causou surpresa em setores do Ministério Público que trabalham para abrir os arquivos oficiais sobre as mortes no Araguaia. Reconhecido pelo trabalho em defesa das famílias dos mortos no Araguaia, o ex-deputado federal pelo PT foi recriminado por representantes do partido e assessores diretos do presidente Lula, em 2006, por repassar para jornalistas de Brasília documentos militares que supostamente constrangeriam a conduta do atual deputado e ex-guerrilheiro José Genoino durante a guerrilha do Araguaia.
Não havia nada contra Genoino nos documentos, como concluíram jornalistas que tiveram acesso ao material. Um assessor do governo disse ao Estado que o objetivo de Greenhalgh, que em 2006 disputava uma cadeira na Câmara, era tirar votos do colega de partido. Genoino foi preso logo no início dos combates e sofreu tortura.
A investida judicial de Greenhalgh não é a única a atingir jornalistas em tempos recentes. O delegado Protógenes Queiroz, que comandou a Operação Satiagraha, chegou a pedir em julho a prisão temporária da repórter Andréa Michael, da Folha de S.Paulo, a quem acusou de favorecer o banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity. O pedido de prisão – com busca e apreensão na casa da jornalista – foi negado pela Justiça.
Em fevereiro de 2003, o Estado começou uma nova apuração sobre o Araguaia, que ainda está em andamento. De lá para cá, o jornal só decidiu publicar histórias que estavam confirmadas e documentadas. Foi o caso da confirmação da prisão e execução da guerrilheira Dinalva Oliveira Teixeira, morta em 1974. Neste período, o jornal fez uma série de 32 entrevistas com o ex-agente Sebastião Curió Rodrigues de Moura, todas gravadas. Também foram ouvidas dezenas de outras fontes, civis e militares. A polêmica trajetória militar e política de Curió e o destino dos guerrilheiros do Araguaia são os principais focos da pesquisa que está sendo feita.’
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Advogado não foi localizado para comentar iniciativa
‘Luiz Eduardo Greenhalgh não atendeu aos telefonemas realizados pela reportagem para seus celulares de Brasília e São Paulo. O ?Estado? deixou recados em sua caixa postal, mas Greenhalgh não respondeu às ligações. Houve ainda tentativa de contato em seu escritório na Bela Vista, centro de São Paulo, mas ninguém atendeu às chamadas.’
LITERATURA
‘Quem espera por uma história sombria vai ficar bem surpreso’
‘Uma certa fragilidade ainda é aparente, resquício de uma grave enfermidade respiratória que quase o matou. Mas, aos 86 anos, o escritor português José Saramago, Prêmio Nobel de Literatura, enfrenta com rara lucidez e energia renovada seu novo tour pelo Brasil, promovendo agora o lançamento mundial de A Viagem do Elefante (Companhia das Letras, 264 páginas, R$ 42), livro em que narra a aventura verídica de um elefante que rumou, em 1531, de Lisboa a Viena, presente de um rei português. ‘Tive algo semelhante a três pneumonias, perdendo 20 quilos em pouco tempo’, disse o autor de sucessos como Ensaio sobre a Cegueira, A Caverna e O Evangelho Segundo Jesus Cristo, em entrevista ao Estado, na segunda-feira, depois de homenageado por funcionários da editora.
O senhor gosta de dizer que A Viagem do Elefante é mais uma história que um romance. Por quê?
Na verdade, eu prefiro chamá-lo de conto. Não me preocupei com o número de páginas para defini-lo devidamente, mas, nesse livro, não há nenhum ingrediente que se costuma encontrar em um romance, como um conflito complicado ou um problema de família. A própria forma de narrar é a de contar algo, daí eu tê-lo chamado de conto, como apropriadamente consta na edição brasileira. Em Portugal, porém, isso não foi aceito e lá chamam de romance. Como não quis entrar em uma discussão sem sentido, não argumentei, mas preferia que o tratassem então de ‘livro’ e não romance.
O enredo é inspirado em fatos históricos, mas a possibilidade de poder criar personagens fictícios foi o que mais o atraiu?
Sim, pois os fatos históricos preencheriam apenas duas ou três páginas, com todos os pormenores. Não mais que isso. Confesso que não esperava escrever um livro com mais de 250 páginas – acreditava chegar a, no máximo, 120. Mas, como tive de inventar situações, seu tamanho ficou maior. O que me agrada no trabalho final é o fato de o leitor ser conduzido pela linguagem e não apenas pelo enredo. Como autor, acredito que a escrita é ao mesmo tempo atual e referente ao momento em que se passa a história, século 16. Fiz, então, uma simbiose entre o português que falamos hoje e o que se escrevia naquela época. Acho que ficou bem resolvido, pois introduz uma dinâmica diferente: o leitor é constantemente surpreendido (como eu mesmo fiquei) com certas palavras e construções frásicas.
Como foi essa surpresa?
Foi algo que não posso dizer que tenho explicação. Mas vou tentar explicar. À medida que envelhecemos, vamos acumulando aquilo que chamo de segmentos lingüísticos. Hoje, não falo como quando tinha 8 anos nem sequer quando estava com 30. Há uma espécie de camadas que vão se acumulando, do mais antigo ao mais recente. Tenho a impressão de que, durante a doença que me atacou e da qual tive a rara sorte de escapar com vida (ao menos um médico que me atendeu disse isso), camadas antigas voltaram à superfície. Ou seja, palavras que eu não mais usava ali estavam e figuram na história. Não apenas escrevi o livro, mas o livro também escreveu a mim. Não posso dizer que se trata de uma verdade científica, mas algo realmente diferente se passou pela minha cabeça.
O senhor acredita então que, se não tivesse enfrentado a enfermidade, o livro teria sido diferente?
Possivelmente. Eu contaria a mesma história. No essencial, talvez não existiriam grandes diferenças. Mas, justamente o que não é essencial contribui (e muito) para que essa história se torne única.
Um leitor desavisado, que não soubesse o que lhe passou, não desconfiaria de sua doença, pois o livro é recheado de humor e ironia.
De fato, o humor é o que aparece mais. E assim tinha de ser, pois não gosto de pôr a minha intimidade assim a claro. Quem espera por uma história sombria surpreende-se. Não tanto pelo humor, que está presente em minha obra, mas pela forte presença que nunca antes tinha acontecido. O livro começou a ser escrito em fevereiro de 2007 e, até maio, escrevi cerca de 40 páginas. Não avancei porque minha saúde piorou. Mas, como eu já estava determinado a um certo tipo de narrativa, não houve uma quebra no estilo. Tanto que, 24 horas depois de ter saído do hospital, corrigi aquelas 40 páginas e escrevi o que faltava. É como se houvesse outro eu a escrever por mim. Nesse período, aconteceram coisas muito estranhas. Como ter a visão de um fundo escuro com quatro pontos luminosos, que formavam um quadrilátero irregular. Para mim, aqueles quatro pontos eram eu. É um exemplo de como estava minha cabeça naquele momento e de como estava convicto em terminar o livro.
Suas opiniões sempre são muito apreciadas. Assim, o que se pode esperar do presidente americano Barack Obama.
Em condições normais, seria apenas mais um presidente. Mas trata-se de um negro no comando. É uma revolução, porque invadiu o consciente e o inconsciente de um país que sempre enfrentou o racismo e a Ku Klux Klan.
E sobre a atual crise econômica?
É o que me faz repetir que Marx nunca teve tanta razão como agora.’
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‘Podem me xingar de comunista, mas não de fascista’
‘Fazia dois anos que José Saramago não conversava com o Estado. O motivo foi a discordância do escritor em relação a uma reportagem publicada em 2006, a partir do lançamento de As Pequenas Memórias, um ensaio autobiográfico. Mais especificamente sobre um determinado trecho em que Saramago narra como, aos 13 anos, foi incorporado à Mocidade Portuguesa, ou seja, à juventude que apoiava o ditador português Antônio Salazar.
‘Era um garoto e, em um determinado dia, ao chegar à escola, eu e meus colegas fomos informados de que passaríamos a integrar a Mocidade’, disse o escritor, que rechaçou, assim, o título da matéria, ‘Eu fui salazarista’. ‘Eu nunca disse essa frase.’
Segundo o escritor, àquela idade, não seria possível fazer uma adesão consciente (‘foi algo automático’), diferente, aliás, do que se passou com o alemão Günter Grass, também Nobel de Literatura, que confessou na autobiografia Nas Peles da Cebola (Record) ter pertencido à Juventude Hitlerista, causando grande polêmica. ‘Isso aconteceu quando Grass já era um rapaz, portanto, consciente de seus atos. Mesmo assim, depois ele teve uma responsabilidade cívica intocável.’
O episódio está descrito na página 131 da autobiografia de Saramago. Em 1936, quando começava a Guerra Civil Espanhola, ele, jovem estudante de uma escola industrial, leu nos jornais sobre o conflito, acompanhou o desenrolar dos combates e percebeu que estava sendo ludibriado pelos militares reformados que censuravam a imprensa. Essa foi a razão por que, mandado pelos colegas ao Liceu de Camões para apanhar sua farda verde e castanha da Mocidade Portuguesa, deu um jeito de ficar no fim da fila até que se esgotasse o estoque dos malditos barretes e calções de Salazar.
Saramago julgou o foco do texto publicado no Estado como sensacionalista. ‘Minha trajetória mostra que jamais fui oportunista, política ou culturalmente’, disse ele, entendendo que o jornal havia, portanto, não cometido um erro, mas agido intencionalmente em acusá-lo. ‘Uma surpresa vinda de um órgão de comunicação ao qual nunca neguei uma opinião ou uma entrevista, um jornal que, para muitos, é como uma bíblia laica de questões políticas e sociais’, afirmou. ‘Poderiam me chamar de comunista que, para muitas pessoas, soa como xingamento, e não para mim; mas jamais de fascista.’ Para o escritor, não houve erro, mas ‘uma falta intencional’.
Como não recebeu na ocasião a retificação que julgou necessária, especialmente em relação ao título da matéria, Saramago então decidiu não mais conceder entrevistas ao jornal.
O silêncio foi superado nesta segunda-feira, depois de uma reunião do escritor com editores e o diretor de redação, em que se repassaram as circunstâncias da matéria e suas repercussões.
O Estado jamais pretendeu agir com intencionalidade em relação ao escritor José Saramago. Ao contrário, sempre ressaltou sua consciência política e inabalável disposição em defesa dos direitos humanos. Tratou-se de uma edição infeliz, que merecia, de fato, ter tido correção à época. No momento em que Saramago volta ao Brasil para divulgar seu mais recente livro, atraindo o enorme público que o admira, as relações entre escritor e jornal foram restabelecidas, ato selado com a entrevista acima.’
MÚSICA
Guns n?Roses: novo CD cria polêmica na China
‘Com o título de Chinese Democracy, o mais recente CD da banda Guns n?Roses foi classificado de ‘ataque venenoso’ à China por um dos jornais editados pelo Partido Comunista, mas muitos internautas estão mais indignados com a possibilidade de não encontrarem o disco nas lojas do país.
Segundo texto publicado pelo jornal comunista The Global Times, o CD do Guns n?Roses foi visto por ‘internautas não identificados’ como ‘parte de uma conspiração de grupos de Ocidente para ?controlar o mundo usando a democracia como um títere?’. Mas muitos dos autores dos 876 comentários deixados na edição online do mesmo jornal até a noite de ontem diziam não estar ofendidos com o título Chinese Democracy e se declaravam mais preocupados em encontrar o disco.
Isso não significa que a escolha de Guns N?Roses não tenha provocado polêmica e protestos entre os chineses. ‘Eu acho que o GNR tem uma visão desdenhosa e equivocada de nosso país’, escreveu um internauta de Guangzou. A maioria, porém, defendia uma posição mais ponderada. ‘Você está julgando apenas pelo nome do álbum. Você tentou escutar, entender e pensar sobre ele?’, disse outro comentário.
Ainda não está claro se o disco será comercializado na China, mas é pouco provável que isso ocorra em razão do título polêmico no país. Ontem, era possível escutar as músicas do álbum em sites chineses e acessar o site oficial da banda. Mas o site do CD, www.chinesedemocracy.com, era inacessível. Certamente, isso não era conseqüência de seu conteúdo, mas da conjugação de duas palavras bloqueadas automaticamente pela ‘muralha de fogo’ da internet chinesa.
O CD foi lançado no domingo nos Estados Unidos e é o primeiro trabalho da banda em 17 anos.’
FOTOGRAFIA
A vida de Machado só com imagens
‘Raras ou inexistentes são as imagens de infância e adolescência de um dos maiores romancistas brasileiros, Joaquim Maria Machado de Assis. A explicação para isso é o fato de o escritor ter praticamente nascido junto com a disseminação da fotografia pelo País – o autor de Dom Casmurro chegou à vida em 21 de junho de 1839 na quinta do Livramento, no Rio, quase duas décadas anteriores ao alcance da popularidade da atividade imagética, na mesma cidade.
Hélio de Seixas Guimarães, professor de Literatura Brasileira da USP, se dedica há mais de dez anos exclusivamente ao estudo de Machado de Assis. Durante as suas pesquisas acadêmicas, notou um encorpado volume de imagens e retratos do fundador da Academia Brasileira de Letras (ABL) nunca antes tornado público, muito menos reunidos. Embora incompleto se a intenção fosse montar uma cronologia iconográfica pela razão já citada, o extenso material encontrado consegue ilustrar o caráter determinado do escritor a partir de seus 20 anos, a austeridade alcançada aos 40 e um certo olhar melancólico adquirido por volta dos 60.
Além disso, é também notável a ascensão social repentina: de origem modesta, o rapaz mulato de cabelos revoltos foi fotografado aos 25 anos por Joaquim Insley Pacheco, profissional contratado da ‘Casa Imperial’. A justificativa de Guimarães está na apresentação da obra que será lançada hoje, A Olhos Vistos – Uma Iconografia de Machado de Assis (IMS), organizada por ele e pelo jornalista e produtor cultural Vladimir Sacchetta. ‘Como o jovem escritor, de recursos modestos, teria conseguido chegar a um dos estúdios de fotografia mais disputados da corte? Muito provavelmente pelos laços de amizade.’
Para preencher as lacunas de algumas fases da vida do escritor – o que tornou impossível a produção de uma fotobiografia machadiana -, Guimarães e Sacchetta tiveram a feliz idéia de completá-las com fotos do Rio do século 19, legendadas com trechos dos clássicos do autor. Dividido por décadas, o livro também apresenta, no início de cada capítulo, a cronologia de Machado, tanto pessoal quanto profissional. ‘Machado acompanha a mudança do Rio de Janeiro imperial para o Rio de Janeiro republicano moderno. Na produção da obra tivemos em mente essa sua relação com a cidade, que vai se transformando durante o período de vida do Machado. A cidade que viveu (e de onde nunca saiu) e que é cenário de sua obra ficcional’, diz Guimarães.
O capítulo 22 de Esaú e Jacó (1904) serve como legenda da foto ilustrada nesta página (e evidencia sua percepção sobre as transformações na então capital do Brasil): ‘Também a cidade não lhe pareceu que houvesse mudado muito. Achou algum movimento mais, alguma ópera menos, cabeças brancas, pessoas defuntas; mas a velha cidade era a mesma.’’
TELEVISÃO
Brasil concorre ao Emmy, mas não leva nenhum
‘O otimismo era grande entre os 27 brasileiros presentes no 36º Prêmio Emmy Internacional na noite de segunda-feira. Os favoritos eram Irene Ravache, com seus 43 anos de televisão, Pedro Cardoso, que interpreta Agostinho Carrara há 8 anos na série A Grande Família, e a novela Paraíso Tropical que estreava a nova categoria Telenovelas. Mas no final da cerimônia, o Brasil levou apenas um abraço do vencedor de minisséries da Argentina, Claudio Villarruel, que dedicou o prêmio ao povo argentino e aos indicados peruanos e brasileiros. ‘Quando anunciaram meu nome, achei que fosse um erro porque não falo inglês e não trabalho para a BBC ou Channel 4’, brinca. ‘Na América Latina, não temos o mesmo orçamento das produtoras européias. Contamos apenas com a nossa criatividade.’ A barreira da língua e a diferença de orçamento foram os pontos mais citados para justificar o fato de a Inglaterra ter levado para casa sete dos dez prêmios oferecidos pelo Emmy. A sensação é que o júri, na maioria americano,inglês e alemão, fica com preguiça de ler legendas e acaba votando nos ingleses. ‘Português é uma língua belíssima, mas fica isolada na própria América Latina. Estamos começando a conhecer mais a cultura latino-americana, se enxergar dentro dela, e o trabalho da HBO, que passa produções hispânicas ao lado de brasileiras, por exemplo, facilita essa integração’, explica André Barros, co-diretor de Mandrake, que concorreu pela segunda vez na categoria de melhor série dramática. ‘A gente só gosta do código que conhece e o código da América Latina já está começando a ser apreciado em outros países. Um dia a gente ganha.’ José Henrique Fonseca, que também dirigiu Mandrake, além ter produzido e escrito a série, diz que o prêmio ‘tem um lado de concorrência desleal porque os orçamentos variam muito’. O orçamento para cada capítulo de Mandrake é de cerca de R$ 900 mil enquanto Life on Mars, produzido para a BBC Wales, é de 800 mil pounds, quase R$ 3 milhões por episódio. A vencedora da categoria mostra as aventuras de um viajante do tempo que acaba ficando preso em 1973. ‘Mas é isso aí mesmo, não estou choramingando não. O orçamento de Home Affairs, da África do Sul, é ainda menor que o do Brasil. O bacana é estar aqui’, diz.
A atriz Malu Mader acabou sendo a única brasileira a subir ao palco. Ela apresentou o prêmio de entretenimento, sem roteiro, ao lado do modelo sueco Marcus Schenkenberg. ‘Eu estava um pouco nervosa, mas sou o que a Clarice Lispector chamava de tímida ousada.’ Ela estava torcendo para Irene Ravache com quem participou da novela Eterna Magia. Pedro Cardoso, ainda arisco com a imprensa desde seu manifesto contra a nudez no cinema nacional, concedeu uma entrevista breve dizendo que o Brasil precisa ficar conhecido no exterior por sua produção cultural.
Para o diretor José Luiz Villamarim, Paraíso Tropical era um forte concorrente na categoria telenovela, ‘uma mega-produção que representava a sociedade atual’. A Jordânia acabou levando o prêmio com uma produção de apenas 30 capítulos sobre a vida de um palestino durante a invasão dos israelenses em 2002.’
Gustavo Miller
O canal do Kajuru
‘‘Agora que eu não saio mais do ar.’ Essa é a frase que o jornalista Jorge Kajuru mais gosta de dizer quando explica como será a TV Kajuru, seu canal de televisão na internet. Estréia no dia 1º de dezembro no endereço www.tvkajuru.com.
A ‘webemissora’ já tem sete atrações confirmadas. Dessas, Kajuru apresenta quatro. A principal é a Kajuru Virou TV, que será exibida ao vivo de segunda a sexta-feira, das 17 às 20 horas. Ele também terá o talk-show Cadeia Elétrica e o Show do Milzinho, em que o internauta deverá acertar 11 perguntas para faturar R$ 1 mil.
Também está confirmada a mesa-redonda TV Kajuru Pós-Globo, que entrará ao vivo após os jogos da rodada.
Semanais: o ex-jogador Sócrates comandará o programa Papo com o Doutor (já foram gravadas entrevistas com Chico Buarque e Ciro Gomes), a ex-panicat Tânia Oliveira apresentará o feminino Bom te Ver, e Joel Datena terá o Coração de Pescador, sobre pescaria.
Kajuru diz que a TV é como um filho. Para colocá-la na web, ele diz ter contado com a ajuda financeira de três patrocinadores e dos seus amigos Adriane Galisteu, José Luiz Datena e Ratinho.’
Thaís Pinheiro
Íris quer meio ibope de Pantanal
‘Otimista para o lançamento de sua primeira telenovela, Revelação (com estréia anunciada para o dia 8, no SBT), Íris Abravanel tentou negar, mas admitiu que ser mulher de Silvio Santos é, sim, uma vantagem. ‘Abriu algumas portas, com certeza’, disse a primeira-dama do SBT ao Estado.
Para Íris, se o folhetim atingir metade da audiência de Pantanal, que tem chegado aos 12 pontos, estará ótimo. Já o diretor de teledramaturgia do SBT, David Grinberg, aposta no mesmo sucesso de Pantanal.’
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Folha de S. Paulo
Quarta-feira, 26 de novembro de 2008
TODA MÍDIA
Bombeando dinheiro
‘No meio do dia, Matt Drudge acionou o alerta e anunciou que o Banco Central americano iria ‘bombear’ mais US$ 800 bilhões, com despacho da Reuters que descrevia ‘nova intervenção massiva’. Fim do dia e estava nas manchetes on-line do ‘New York Times’ e do ‘Financial Times’, como ‘novos programas para facilitar’ e ‘estimular crédito ao consumidor’, sobretudo em habitação. Na BBC, depois, o analista comentava que ainda nem é o plano de Barack Obama, ele que deve elevar para mais de US$ 2 trilhões a injeção na economia.
UM POR VEZ
‘NYT’ e ‘Washington Post’ deram nas manchetes de papel que Obama e George W. Bush já ‘trabalharam em conjunto’ no resgate ao Citigroup. Ato contínuo, a Fox News bateu ontem que o tal ‘Escritório do Presidente Eleito’ (esq.) simplesmente ‘não tem autoridade’
PACOTE PARA A TV?
O ‘Variety’, semanário da indústria cultural dos EUA, já se pergunta, em título, se as ‘Redes precisam de resgate?’. Sublinha que ABC, NBC e CBS já não vinham bem, com queda de audiência, e a crise financeira, atingindo ‘três dos maiores anunciantes’, GM, Ford e Chrysler, formou ‘tempestade perfeita’.
A FOX CONTINUA
O canal de notícias Fox News segue líder de audiência na faixa -e com pesquisa Zogby dizendo ter a confiança de 39,3% contra 16% da CNN. E seu diretor admitiu ao ‘Los Angeles Times’ que ‘todo presidente precisa de tempo’, comentando a notícia de que ele instruiu a redação a conter os ataques a Obama.
ÀS COMPRAS, POR AQUI
Em meio à crise, o site social Facebook quer investir. O ‘FT’ destacou ontem que a empresa negocia a compra do Twitter por US$ 500 milhões. E a ‘Business Week’ deu, com eco no Blue Bus, que o Facebook busca negócio em Brasil e Índia, onde impera o Orkut.
A VOLTA DO CRÉDITO?
Na manchete do Terra, no meio do dia, ‘Crédito volta a aumentar’. Foi o que informou o Banco Central, dizendo que a elevação em outubro põe a oferta ‘quase no mesmo patamar do cenário anterior à crise’.
Já a Bloomberg deu ontem a longa reportagem ‘Crédito agrícola brasileiro seca’. Cita exemplos do café ao milho. Um fazendeiro afirma que ‘muitos estão deixando de plantar, as pessoas perderam a esperança’. A questão foi parar na NPR, a rede pública de rádio dos EUA, que fez entrevista com especialista para ressaltar que a falta de crédito para o trigo no Brasil, terceiro maior produtor, vai afetar a crise anterior, de alimentos.
SEM ESTRATÉGIA
O ‘Wall Street Journal’ publicou ontem a reportagem ‘Recessão global põe em questão o aumento de juros como forma de sustentar a moeda’. Destaca que o BC do Brasil é dos poucos, junto com Egito em setembro e Islândia em outubro, a recorrer à ‘estratégia tradicional’ -que ‘não está funcionando, pela aversão ao risco’.
APOSTA CHINESA
Em meio à crise, ‘Brasil aposta na China para investir em portos e estradas para exportação’, noticiou a Bloomberg. De Cingapura, um membro do Ministério da Agricultura defendeu que o país está à frente da África, outro alvo de investimentos chineses, por já ter grande produção de insumos que Pequim demanda.
G8 EM RUÍNAS
O colunista-chefe de política externa do ‘FT’, Gideon Rachman, se pergunta se o G8, dos países desenvolvidos, vai acabar agora que enfrenta ‘um verdadeiro adversário’ no G20 -que tem ‘muito em seu favor’, por exemplo, ‘inclui China, Índia e Brasil’. Mas o que deve derrubar o G8, ironiza, é que o italiano Silvio Berlusconi preside o grupo em 2009 e vai deixá-lo ‘em ruínas’.
A TRAGÉDIA
O ‘Jornal da Record’ deu Roberto Cabrini nas águas, na escalada. O ‘Jornal da Band’ abriu com ‘Governo mobiliza Forças Armadas’. O ‘Jornal Nacional’, com ‘Cidadãos e empresas sem luz e sem gás’. Em todos, relatos da ‘tragédia que só faz crescer’.
No exterior, a BBC abriu uma página para as imagens enviadas por brasileiros. E tanto Wikipedia em inglês quanto Wikinews lançaram cobertura.’
TELEVISÃO
Daniel Castro
Depois da Sky, Net muda grade de canais
‘Segunda maior operadora do país, a Sky acaba de fazer uma reformulação em sua grade de canais, agrupando-os por gênero de programação. A Net, líder do mercado, fará o mesmo no primeiro trimestre de 2009.
As reformas são necessárias porque novos canais surgiram e ficaram ‘perdidos’. Na Net, o infanto-juvenil Disney fica ao lado do Canal Brasil, que exibe pornografia de madrugada.
Nas reformas, vários canais mudaram ou mudarão de lugar, menos os da Globosat, que pertence à Globo, sócia de Sky e Net. A Globo News continua sendo o 40, ao lado do GNT.
No caso da Sky, a proteção aos canais da Globo gerou distorções. Há seis canais de ‘variedades’ (E!, People+Arts) entre o último do bloco esportivo, a ESPN Brasil (30), e o SporTV 2 (38). Entre a Globo News e a Band News (98), primeiro do grupo de notícias, há 52 canais.
Fernando Magalhães, diretor de programação da Net, defende a manutenção dos canais da Globosat onde estão. ‘Eles são do mesmo grupo e estão no mesmo nível de empacotamento. Não são multigêneros. São complementares’, afirma.
Magalhães confirma que os canais ‘brigam’ para ter numeração mais baixa (para ficarem mais próximos da TV aberta). Admite que a mudança tem de ser criteriosa e negociada: ‘Você pode ajudar ou prejudicar alguém nesse movimento’.
A Sky informa que a mudança facilitou o zapeamento.
INTERPRETAÇÃO
O cantor Lenine participará de ‘O Natal do Pequeno Imperador’, especial de fim de ano da Globo inspirado na infância de dom Pedro 2º. Interpretará um artista de circo.
TITITI 1
Tem gente espalhando nos bastidores da Globo que Ivete Sangalo teria vetado Wanessa Camargo em um dos ‘Estação Globo’, programa de fim de ano que ela apresenta, porque a filha de Zezé Di Camargo não está fazendo sucesso atualmente.
TITITI 2
A Globo nega. Diz que a participação de Wanessa foi cancelada porque um dos integrantes da banda mexicana com a qual se apresentaria passou por cirurgia na garganta. E argumenta que Ivete e o pai da cantora são muito amigos.
NÃO DEU
A Globo ficará mais um ano na fila do Emmy Internacional. Não ganhou nada na premiação de anteontem, em que concorria a melhor novela (‘Paraíso Tropical’, que perdeu para ‘Al-Igtiyah’, da Jordânia), ator, atriz e programa de arte.
EXPLICAÇÃO
Um jornalista-figurante de ‘O Paulistano’, fictícia publicação em que o super Zé Bob (Carmo Dalla Vecchia) trabalha em ‘A Favorita’, apareceu jogando paciência em seu computador na semana passada. Então é por isso que o periódico é tão ruim. Só Zé Bob trabalha.
CORDAS
O especial ‘As 10 Mais Sertanejas’, exibido anteontem à noite, derrubou a audiência da Record. Deu 8,8 pontos, contra os 9,8 habituais.’
INTERNET
Folha de S. Paulo
Pela rede, jovem mostra suicídio
‘Um jovem de 19 anos da cidade de Pembroke Pines, em Miami (EUA), se suicidou por ingestão de medicamentos diante de sua webcam, enquanto outras pessoas assistiam a tudo ao vivo pela internet.
Abraham Biggs consumiu uma mistura letal de três tipos de remédios na última quarta-feira, segundo a polícia.
Segundo o site Valleywag, Biggs tomou as pílulas enquanto era visto por meio do portal Justin.tv.
O pai do estudante afirmou que ficou estarrecido pela audiência virtual que encorajou seu filho.’
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12,7 mil usam sites pedófilos na Alemanha
‘Uma operação contra distribuidores de material pedófilo na internet, realizada na Alemanha na semana passada, revelou a existência de 12,7 mil usuários de sites com pornografia infantil, segundo a polícia do país.
A operação foi realizada em 16 estados. As investigações foram iniciadas em maio de 2006.
Em Berlim, foram apreendidos 2.700 aparelhos de vídeo analógico, 17 mil digitais e 250 computadores.’
Bruno Romani
Crise econômica chega ao Vale do Silício
‘Na manhã do dia 14 de novembro, Jing Hua Wu, engenheiro de testes de 47 anos, era mais um trabalhador a perder o emprego em uma empresa em Santa Clara, cidade ao sul de San Francisco onde muitas empresas de tecnologia estão instaladas.
Às três da tarde do mesmo dia, Hua Wu voltou ao ex-local de trabalho e convocou uma reunião com três de seus superiores para discutir o seu futuro. Menos de uma hora depois, ele executou a tiros à queima-roupa, com uma pistola 9 mm, os dois homens e a mulher que participavam da reunião.
Com os sinais de que a crise econômica mundial já afeta as empresas do Vale do Silício, os assassinatos revelam a tensão pela qual a região tem passado nas últimas semanas.
O crime ocorreu no mesmo dia em que a Sun Microsystems, fabricante de computadores que tem como grandes clientes empresas em Wall Street, anunciou que vai eliminar entre 5.000 e 6.000 empregos no próximo ano. Alguns dias antes, duas empresas de chips haviam anunciado demissões que afetarão entre 330 e 1.800 trabalhadores.
Yahoo! e eBay revelaram planos de demissão em massa que devem afetar 10% de seus trabalhadores. Já a HP anunciou, em setembro, que deve demitir 24.600 pessoas em todo o mundo nos próximos três anos.
‘As pessoas estão começando a pensar em como vão arcar com as despesas do Natal, como vão pagar as parcelas do financiamento de suas casas ano que vem’, diz Lou McKellar, 47, ex-funcionário de uma empresa de semicondutores que está oficialmente desempregado há três meses, após 12 anos de casa. Ele atuava em um segmento que deve sofrer bastante, segundo indicam alguns números.
Números e esperança
No dia 12, a Intel anunciou que suas vendas podem cair 19% no último trimestre do ano. A Applied Material, uma das empresas de chips com planos de demissão em massa, revelou queda de 45% nos lucros no quarto trimestre do ano. A AMD anunciou um plano para demitir 500 funcionários. A Cisco Systems, grande produtora de roteadores, projeta quedas de 10% em suas vendas.
A queda também é esperada nas compras feitas pelo consumidor comum. Dados preliminares de agências de pesquisa de mercado apontam recuo nas vendas de PCs no último trimestre deste ano e no início de 2009. E as vendas do comércio on-line dos EUA também devem ser menores.
Apesar das evidências, as empresas tentam acalmar clientes, trabalhadores e investidores. No último dia 17, Shantanu Narayen, diretor-executivo da Adobe, disse ao jornal ‘San Francisco Chronicle’ que sua empresa está ‘forte’, apesar da recessão.
De fato, até mesmo a SiPort, empresa onde ocorreram os assassinatos, foi rápida em declarar que não tem planos para realizar demissões em massa e que o atirador havia perdido o emprego devido ao seu fraco desempenho no trabalho.’
Felipe Maia
Saída do Yahoo! é ‘tacada de mestre’ de Jerry Yang, de acordo com analista
‘A mudança na diretoria do Yahoo! representa uma ‘tacada de mestre’ de Jerry Yang na busca por alternativas para impulsionar os negócios da empresa.
A avaliação é de José Calazans, analista de mídia do Ibope/NetRatings. Para outros especialistas, no entanto, a medida era inevitável em razão dos resultados financeiros da companhia.
Co-fundador do Yahoo!, Yang deixa o cargo de executivo-chefe da empresa poucos meses após rejeitar uma proposta de compra de US$ 33 por ação feita pela Microsoft -o triplo do atual valor de mercado da companhia. Ele vai assumir um posto no conselho de administração assim que a diretoria indicar seu sucessor.
Para Calazans, a saída do executivo deve abrir as portas para um acordo -negócio que ele considera positivo para as duas empresas e para o fortalecimento do mercado de internet, que ganha uma empresa capaz de fazer frente ao Google.
‘O Jerry, como líder que foi, muito respeitado dentro do Yahoo!, deve ter percebido que esse é o momento. Essa é mais uma tacada’, afirma o analista. Para Calazans, o mérito de Yang foi ter percebido as vantagens de passar o posto para outro executivo em melhores condições de negociar.’
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