Quality papers, jornais de qualidade, distinguem-se da imprensa popular porque no lugar de escândalos, crimes e celebridades preferem discutir política nacional e internacional, crise econômica, meio ambiente, violência, direitos humanos, combate à corrupção.
No Brasil, a imprensa de qualidade não se distingue da outra e isso talvez explique a atual devoção dos jornalões e semanários aos shows de Madonna e à morte do ex-namorado da atriz Suzana Vieira por overdose de cocaína.
Este nivelamento por baixo, agride o bom gosto, promove a invasão da privacidade e funciona como uma espécie de democratização da banalidade. Não estimula o desenvolvimento intelectual das elites econômicas e mantém as camadas menos favorecidas no eterno limbo cultural.
Ontem e hoje
Como bem observou o jornalista Luiz Weis neste Observatório (ver aqui), esta ditadura do entretenimento impede que a imprensa preste a devida atenção às outras ditaduras, sobretudo à ditadura propriamente dita, a militar, que tantos prejuízos causou ao nosso desenvolvimento político e social.
A prova foi fornecida por uma pesquisa da Folha de S. Paulo publicada no sábado (13/12), justamente no dia em que eram lembrados os 40 anos da promulgação do AI-5.
Segundo a pesquisa, 82% dos entrevistados não sabem o que foi o AI-5. Na Argentina seria possível que um número tão grande de cidadãos desconhecesse o significado da Guerra Suja travada pelas forças armadas contra os grupos que pretendiam o fim da ditadura? Na Espanha de hoje seria possível ignorar a Guerra Civil iniciada há 73 anos?
Uma imprensa que prioriza as amenidades não pode queixar-se das tiragens baixas, do desinteresse pela leitura ou do aumento da abstenção nos pleitos eleitorais. A censura à imprensa imposta por meio do AI-5 pretendia promover o desinteresse da sociedade por assuntos mais sérios. Sem censura e com amenidades é exatamente isso que ocorre hoje.
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