Em artigo publicado na Folha de S.Paulo (em 10/9/2005), o secretário da Educação do município de São Paulo, José Aristodemo Pinotti, depois de apresentar números que reafirmam o caos em que se encontra (e se perde) a educação pública no estado mais rico da nação, concluiu seu texto com as seguintes palavras de efeito: ‘É bom lembrar que a educação não é só responsabilidade da escola, mas da tribo inteira’.
Concordo plenamente. A escola, os professores, as famílias, o governo federal, o governo estadual, a prefeitura, as empresas, as ONGs, as associações, os sindicatos, a tribo inteira tem de batucar ao ritmo da educação urgente, da educação total, pensando nas crianças e jovens – nossos filhos, futuros pais de outros filhos, cidadãos (e futuros eleitores, e futuros contribuintes, futuros trabalhadores, futuros consumidores), o nosso futuro, enfim.
O futuro à educação pertence. Sem educação pública o futuro encolhe, o país desaprende, as pessoas se despersonalizam. Os que freqüentam colégios particulares (ainda que muitos estabelecimentos enfrentem problemas de ordem econômica, pedagógica e comportamental) encontram saídas com um pouco mais de ‘sorte’. Os alunos dessas escolas possuem outros pontos de apoio na própria sociedade. A preocupação maior é mesmo com aqueles que dependem única e exclusivamente da educação gratuita.
Verbo e verbas
Visitei recentemente uma escola municipal em São Paulo. Olhando as paredes nuas, os cadeados em portas de ferro para evitar furtos (parecia um presídio…), vendo a postura um tanto encolhida do corpo docente, ouvindo relatos céticos sobre o presente e o futuro, senti que a maior parte dos líderes da nossa tribo está longe, muito, muito longe dos guerreiros (professores, coordenadores, diretores etc.), heróis anônimos que lutam noite e dia para formar, não a massa manipulável, mas um povo que leia, pense e reescreva a sua história.
Quais são, portanto, as atribuições da tribo inteira? O que cada um deve fazer para que os nossos curumins possam erguer a cabeça e dizer com orgulho que estudam na escola pública e nela se tornam estudantes estudiosos, pessoas humanas, cidadãos éticos e responsáveis, como consta dos documentos oficiais do MEC?
Atribuições concretas exigem protagonistas reais, experientes, preparados. Cada setor da sociedade precisa designar nomes que venham a público, não só discutir, mas discutir e agir. Agir com o verbo, e com verbas. Agir com o apoio incondicional (não demagógico) dos caciques!
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Doutor em Educação pela USP e escritor; (www.perisse.com.br)