Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

As redes de comunicação digital como ferramentas da democracia

O estudo das relações desenvolvidas pelos movimentos sociais na internet, como um meio alternativo de atuação política, é um tema crescente e relevante nos dias atuais. Um fenômeno novo, com inúmeras experiências, desde os movimentos sociais que já consolidaram seus trabalhos de comunicação até aqueles que ainda não possuem organização no trabalho de (contra)informação online. Nesse sentindo, é importante abordar as caracterizações do movimento social face à tendência tecnológica de comunicação com a perspectiva não hegemônica de atuação política e social.

Os movimentos sociais tomam seu caráter à medida que interagem com causas e reivindicações dos vários setores do arranjo social. O desenvolvimento dinâmico da relação entre movimento social e a comunicação faz com que os movimentos sejam consequências e responsáveis pelo processo de contrainformação nos meios de disseminação da informação. Nota-se o caráter da contrainformação em movimentos sociais progressistas que questionam e combatem as hegemonias neoliberais, conservadoras, reacionárias, oligárquicas e capitalistas.

Apresentados ao novo contexto de disseminação das tecnologias de comunicação e ao crescente número de usuários conectados em redes, os movimentos sociais conjecturam inúmeras respostas ao novo fenômeno. Por um lado, a consolidação histórica dos grandes veículos hegemônicos; por outro, os movimentos sociais gerindo atividades de contrainformação e manutenção da luta através do uso da comunicação. Os movimentos ocupam os espaços digitais na tentativa de exercer influência sobre as concepções dos sujeitos relacionados à internet e à vida em rede.

As Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) possibilitaram avanços tecnológicos no contexto da globalização. A circulação de (des)informações assume importante papel dentro desse contexto. As TICs passam a compor um aspecto preponderante para o desenvolvimento pós-Revolução Tecnológica. Também a circulação da informação entre os sujeitos e veículos torna-se uma experiência de cada vez mais curta duração devido às novas tecnologias e liquidez social (visão pós-modernista).

Direitos fundamentais e cidadania

A informação e comunicação são, então, protagonistas na “nova” sociedade, influenciando milhares de pessoas que, consumindo a informação em breves momentos, julgam estar informadas. Não só a informação, mas a desinformação, tem papel destacável na manutenção das hegemonias midiáticas e sócio-políticas.

A internet arranja um conjunto de instituições, pessoas e grupos que, através de conexões, desenvolvem interações e laços relacionais, de tal modo que nessas conexões se desenvolvem as mídias sociais. Com a popularização da internet em meados de 2003, surgem redes sociais como Linkedin e MySpace. Já em 2004, mais redes sociais apareceram, tais como Orkut e Facebook. Hoje são destacáveis o Facebook e o Twitter.

Uma vez que a sociedade constrói relações em rede, estas passam a ser a espinha dorsal da comunicação global mediada por computadores. Nesse sentido, a projeção da internet como instrumento de comunicação e de transformação da realidade faz surgir novas possibilidades e práticas para a comunicação dos movimentos sociais.

Com o crescimento da comunicação em rede, os movimentos sociais começam a ocupar o ciberespaço, tornando-o plural e contra-hegemônico. Pensam, discutem, fazem uma comunicação de dimensão humana; tornam as ferramentas de comunicação na internet em objetos de potencialização das lutas por direitos fundamentais e cidadania.

Conteúdos diferenciados, críticos e criativos

Frente aos (des)caminhos da sociedade contemporânea – as guerras imperialistas, o monopólio da comunicação, a concentração absoluta de riquezas, a desigualdade social, a democracia debilitada e o esvaziamento da reflexão, do pensar, do discutir e do formular –, a comunicação dos movimento sociais nas redes continua (ou passa) a ser uma necessidade urgente.

Infelizmente, a comunicação e práticas desenvolvidas e utilizadas pelos meios tradicionais hegemônicos dificultam a criação de espaços interativos que conduzam a determinadas reflexões imprescindíveis para o desenvolvimento saudável do corpo social.

Dentro da comunicação em rede, os movimentos sociais tornam públicas suas causas influenciando e convencendo o público-alvo de legitimidade. Têm à disposição, blogs, Twitters, e-mails, sites oficiais ou petições – entre outros – para contrapor as percepções, os paradigmas, as representações e as ideias repassadas à esfera pública pelas mídias hegemônicas.

O repertório adotado pelo movimento é, em primeiro caso, o conceito cultural e estrutural da comunicação e envolve como outros sujeitos pensam e agem diante de determinados contextos. São traçadas ações que sobreponham dialeticamente a pluralidade de ideias e ações a respeito da discussão central. Por exemplo, o repertório de ações de comunicação adotado por movimentos pela reforma urbana tende a apontar para o eixo central do movimento – nesse caso, a reforma urbana.

Aprofundando o aspecto da comunicação, é possível perceber que os movimentos buscam elevar o crivo para suas publicações e produção de informação. Pelo caráter da contrainformação, o cuidado em produzir bons conteúdos, com fontes dignas, bons aspectos técnicos da produção textual e um bom arranjo das ideias é redobrado. Com a produção de conteúdos diferenciados, críticos e criativos, os movimentos sociais garantem a comunicação realmente alternativa. Mesmo diante desse contexto, a comunicação gerida por alguns movimentos sociais ainda encara uma série de desafios para alcançar consideráveis níveis de qualidade na comunicação.

Democratização da comunicação

Os movimentos devem ficar atentos aos acontecimentos em alta velocidade e num curto período de tempo. O resultado desses rápidos acontecimentos é a potencialização da má interação com a informação produzindo um jornalismo por jornalismo ou conteúdo por conteúdo, ambos nocivos à comunicação social. Ao propor uma comunicação alternativa nas redes, alertam-se para o potencial de transformação que a informação tem. Procuram – alguns – evitar que o conteúdo produzido caia nos mesmos erros financiados pelos grandes grupos midiáticos, como, por exemplo, o sensacionalismo.

Logo, se por um lado os hegemônicos da comunicação fazem jornalismo por jornalismo intencionalmente, mantendo uma massa de audiência na inerte alienação, por outro, alguns movimentos progressistas também produzem jornalismo por jornalismo, baseado na polêmica e em manchetes sensacionalistas e textos frágeis, mantendo outra massa de audiência em uma alienação cada vez mais hostil ao pensar e à transformação.

Os movimentos dispostos a construir uma comunicação alternativa e de qualidade têm se fortalecido, mas o quantitativo ainda é pífio se comparado aos inúmeros veículos de baixa qualidade jornalística. Ao aprofundar a comunicação alternativa na internet, os movimentos sociais deparam com o empoderamento dos sujeitos protagonistas e a democratização da produção de conteúdo. É marcada a existência de meios de comunicação que atualizem, organizem e fortaleçam os laços de luta e mobilização dos movimentos.

São muitos os desafios presentes na comunicação gerida pelos movimentos sociais e a internet é um fenômeno relativamente novo. Se antes (século 20) os movimentos se desenvolveram com seus boletins, panfletos, comícios presenciais, jornais e revistas impressas, hoje eles precisam lidar com mais um elemento de comunicação: a internet. Mesmo que grande parcela da população não tenha acesso à internet ou a um computador, a tendência é que cada vez mais pessoas estejam conectadas. Logo, desenvolver a participação dos sujeitos envolvidos nos desafios da luta social através da comunicação é construir as mudanças na realidade a partir da (inform)ação.

Por conseguinte, estudar e compreender os movimentos sociais frente à tendência tecnológica da comunicação contemporânea aponta nada menos que o esforço para alcançar de forma eficiente na atuação digital o fortalecimento da luta por uma nova sociedade. Os desafios surgem à medida que as condições materiais avançam e a superação desses desafios é de essencial importância para todas as experiências dos movimentos sociais na internet.

Uma vez alicerçada a criação e o fortalecimento de redes de comunicação coesas, consequentes, democráticas, participativas, populares e emancipadoras, refletiremos sobre que conteúdo, quais informações e a qualidade e os critérios que difundimos. Todo exercício há de fazer parte do processo maior de democratização da comunicação e consolidação de um novo projeto moderno e justo de sociedade.

***

Gabriel Lopo é estudante