Os habitantes de Butão, país que fica nas montanhas do Himalaia entre a Índia e a China, tiveram acesso à televisão pela primeira vez há apenas oito anos, mas a programação dos 40 canais hoje disponíveis já é dominada por filmes hollywoodianos e novelas indianas, noticia Karishma Vyas [AFP, 19/6/07]. A disseminação de novos valores culturais mudou a vida familiar e os costumes locais.
Na vila de Yuwakha, por exemplo, os moradores não costumam mais conversar até tarde da noite, como tinham o hábito de fazer. Assim que anoitece, as ruas ficam desertas, pois todos vão assistir às novelas. ‘Quando não tínhamos TV, ficávamos juntos, as crianças cantavam e conversavam conosco. As crianças também iam brincar no quintal e eu podia fazer minhas preces’, conta Ngyenam Tshering, senhora que vive em uma área rural da cidade. ‘Depois da TV, eu não tenho mais tempo para nada. Ver TV é como ir a lugares que eu gostaria de ir’, resume.
Tradição ameaçada
Por estes motivos, as autoridades de Butão estão começando a se preocupar com o impacto da televisão na vida da população. Por gerações, o governo havia limitado a influência estrangeira para preservar a tradicional e rural nação budista. Para tentar preservar a cultura nacional, o governo passou a incentivar a produção de programas domésticos. ‘O mais importante é ter conteúdo local’, afirma Mingbo Dukpa, diretor do Serviço de Telecomunicações de Butão.
No próximo ano, o país terá as primeiras eleições democráticas de sua história em uma tentativa de transformar Butão em uma monarquia constitucional. O rei Jigme Singye Wangchuck abdicou do trono e entregou a seu filho, o príncipe Jigme Khesar Namgyel Wangchuck, a responsabilidade de governar o país neste período de transição da monarquia absoluta – na qual o rei vem de uma família real e exerce os poderes executivo, legislativo e judiciário – à constitucional – na qual o rei representa o poder executivo, que é exercido através de ministros ou do primeiro-ministro.
Consumismo
Na pequena nação, a renda per capta é de US$ 1.300 ao ano – valor alto, se comparado aos US$ 240 do vizinho Nepal, mas baixo para sustentar luxos como TVs de plasma, carros e outros objetos de desejo divulgados pela televisão. ‘A TV e os anúncios criam desejos. É possível que estes desejos não possam ser satisfeitos, dada a situação econômica do país’, afirma o pesquisador do Centro de Estudos de Butão, Phuntsho Rapten.