Tuesday, 24 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Bateu na trave! Cobertura esportiva pisa na bola

A editoria de Esportes é uma das mais lidas. Mesmo assim, apresenta uma seleção de bolas foras dos jornais. No espaço de uma semana de leitura, o Monitor de Mídia destaca algumas características do noticiário produzido pelos diários do estado.

Espaço garantido

O esporte ainda mantém lugar cativo nas páginas dos jornais. Levantamento realizado por este Monitor de Mídia – entre 20 e 27 de abril – mostrou que os jornais catarinenses dedicam, em média, seis páginas à editoria. As capas também apontam a atenção dada ao esporte. O menor número de chamadas na capa ocorreu no Jornal de Santa Catarina. E não foram nada menos do que quatro em oito dias. Esporte vende jornal, e o tema é uma das vedetes nas bancas.

Matérias em cima de resultados

Pelo tempo verbal nos títulos – passado –, pode-se notar que a maior parte das matérias esportivas é baseada apenas nos resultados. Não encontramos nos jornais catarinenses previsões, projeções ou maiores detalhes que dêem ao leitor uma visão mais ampla dos acontecimentos. Assim, os jornais pouco se diferenciam de outros meios. Temos como exemplo, ‘Poucos viram a boa estréia do Avaí’ na edição do Santa no dia 25, com informações da vitória do time sobre o Ceará, jogo que não pôde ser acompanhado pela torcida do Avaí. Mas o diário de Blumenau não publicou que medidas foram tomadas com relação ao caso. Assim, relatando apenas resultados, os jornais correm o risco de chegar às bancas com informações velhas, que seus leitores já obtiveram através da TV, do rádio ou da internet.

Fôlego nos fins de semana

Nas edições de sexta-feira, os jornais apresentam quadros dos principais eventos esportivos (servindo como uma programação para o fim de semana). A maior parte das edições apenas aponta os adversários ou traz informações sobre os locais das partidas. Nos sábados e domingos, os jornais reforçam o noticiário dos jogos e competições do período. Já na segunda-feira, apresentam resultados, dando mais destaque a finais e confrontos internacionais. Nas demais edições, fazem um simples acompanhamento da movimentação esportiva.

Opinião, onde?

O que se percebe nas colunas de esporte dos jornais catarinenses é uma tendência a comentários que giram em torno da técnica e da tática de treinadores das equipes. Apresentam ainda o desempenho de atletas na partida e de encontros sociais que envolvam dirigentes ou nomes conhecidos da área. É o que se percebe no trabalho de Roberto Alves, do Diário Catarinense, por exemplo. As notas, muitas vezes, trazem apenas informações superficiais, nem mesmo podendo ser consideradas resultado de uma análise sobre o fato. Exemplo da edição do dia 20, intitulado ‘Compromisso’: ‘O Avaí cumpriu o que havia acordado com o atacante Aílton. A partir do início da série B, sábado, o jogador estará de contrato novo (…)’. A mesma linha é seguida por Cláudio Holzer que assina a ‘Passe Livre’ no Jornal de Santa Catarina.

Aqui, ó!

Maceió, de A Notícia, apesar de também trazer notas meramente informativas, apresenta sua opinião de forma contundente. Pelo menos mais que os concorrentes. Foi o que vimos no dia 22, no texto intitulado ‘Caxias’: ‘Nem o Real Madri, que nada em dinheiro, se daria ao luxo de tamanha extravagância. Não me venham com conversa (…) porque o rendimento nunca será o mesmo’. No dia 26, mais um bom exemplo: ‘o Figueirense está pagando pelos mesmos erros que mostrou no campeonato estadual. O ataque é fraco e sua defesa nunca esteve tão vulnerável’.

Colunistas esportivos ou comentaristas de futebol?

A semelhança entre o trabalho de Roberto Alves, Cláudio Holzer e Maceió é o fato desses colunistas darem um espaço muito maior ao futebol. Assim, outros esportes, em algumas edições, nem aparecem. Será que o catarinense não se interessa por outras modalidades esportivas? Ou os comentaristas preferem guiar seu trabalho por preferências pessoais?

Futebol, futebol, futebol…. e outros esportes

A predisposição dos jornais em enfocar ‘a paixão nacional’ também aparece nas páginas informativas. Em A Notícia, é tema de pouco mais de 62% das matérias da editoria. Em dois dias do período analisado – 21 e 26 -, o futebol nem apareceu na edição, dando espaço para outras modalidades como surf, vôlei, tênis, jet ski e Fórmula 1. Um fato raro, raríssimo!

No Diário Catarinense, quase 72% da editoria de esportes é ocupada por matérias sobre futebol. Além disso, esses textos são os primeiros que o leitor encontra. Já no Jornal de Santa Catarina, esse índice chega a 86%. Nos oito dias do levantamento, o diário de Blumenau publicou apenas seis matérias que não tratavam de futebol.

Bola fora

No sábado, 2 de abril, os leitores dos três principais jornais do estado receberam a confirmação da gravidez da modelo e apresentadora Daniella Cicarelli. De maneira curiosa, as matérias relativas ao assunto estavam na editoria de Esportes. O Santa se ateve a uma pequena matéria, e tentou adaptar o assunto à editoria ao apresentar a cartola: ‘Craque na maternidade’. Já DC e AN trouxeram o fato em meia página e com foto, com foco na gestante. O atacante do Real Madrid ficou pra escanteio…

Apito final

No dia 27, os jornais apresentaram notas curtas do fim da gravidez de Cicarelli. Nada contra noticiar a paternidade de um conhecido jogador de futebol, mas a editoria não deveria ser outra? Afinal de contas, o que interessa aos leitores daquelas páginas são matérias que tratem de esporte e não da vida pessoal dos jogadores. Imagine se a editoria de Esportes fosse abrir espaço para cada gravidez relacionada a craques… sobraria pouco espaço para a cobertura de treinos e jogos…

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Projeto de acompanhamento da imprensa catarinense produzido e editado por alunos e professores da Univali (SC), sob coordenação do professor Rogério Christofoletti.