Tuesday, 24 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Campanha, anúncio e a atuação na agenda local

Os jornais do Grupo RBS reforçam suas presenças na vida social das comunidades a que se dirigem. A exemplo de outros anos, veiculam a campanha institucional do conglomerado, publicam anúncios da casa e ainda repercutem a exaustão fatos que movimentam a rotina local. Veja o que este Monitor de Mídia observou na última quinzena.

‘Educar é relembrar e contar’

Utilizando-se dos veículos impressos que detém em Santa Catarina, o Grupo RBS, através do Jornal de Santa Catarina e do Diário Catarinense, divulga sua campanha ‘Educar é Tudo’. A partir das edições do dia 29 de abril, os jornais passaram a dar espaço a material que tratava da educação das crianças – que foram também o foco da campanha do ano passado. Através do título ‘Educar é…’, os jornais apresentam matérias que complementam esta idéia, apresentando iniciativas que visam alcançar o público infantil, como projetos de escolas, atividades, acompanhamento especializado. Todos os textos levam um selo com dizeres como do tipo ‘Brincar’, ‘Incentivar’, ‘Ouvir’, ‘Encorajar’. Estes selos, além de completar a frase título, ajudam a firmar a idéia principal de cada matéria. Em seu conjunto uma bela campanha, que além de agradar aos olhos, tem o objetivo de incentivar os leitores a repensar a educação.

Uma tendência?

Mais uma vez, este Monitor de Mídia encontra, no Diário Catarinense, publicidade invadindo o espaço destinado ao material jornalístico. Desta vez, a ‘invasão’ anunciava uma conquista do próprio jornal. Na p.20 da edição de 30 de abril, em meio à matéria ‘Detonação pode se repetir hoje’, o leitor encontrou a frase ‘Já pensou no DC hoje?’. Na p.22, entre as colunas do texto intitulado ‘Trabalhadores são soterrados’, lia-se: ‘Esse jornal não dá pra esquecer’. Já na p.24, entre informações sobre a vacinação de idosos estava o texto: ‘Quem é mais lido é mais lembrado’. Na página seguinte, a explicação em um anúncio tradicional: DC foi o jornal mais lembrado, segundo ‘Pesquisa Marca de Expressão Top of Mind’. Criatividade na publicidade, mas problema para a integridade do jornalismo.

Mais uma vez, novamente

Em análise constante dos três principais jornais do estado, percebe-se o uso contínuo e crescente da publicidade no meio de matérias jornalísticas. No dia 4 de maio, o leitor encontrou em uma das páginas da Editoria de Esportes do DC, matérias sobre natação, mountain bike e iroman. E, de maneira curiosa, no meio destas um bonequinho colorido chutando uma bola de futsal que ocupava boa parte da página. Abaixo, anúncio da Copa Malwee. A pergunta é: o que a ilustração faz ali? A ligação direta do boneco com a Liga de Futsal só fica clara em outras edições onde a ‘mascote’ aparece junto à manchete da campanha, já que nessa edição não tem nenhuma ligação entre o boneco e o anúncio. Esse tipo de dúvida poderia ser evitado se a publicidade ocupasse seu devido lugar.

Malabares no Santa

A proibição de malabaristas nos sinais de Blumenau ganhou muitas páginas no Jornal de Santa Catarina. A primeira matéria relativa ao assunto foi publicada no dia 28 de abril. A cartola – ‘Exclusão Social’ – já mostra o tom tendencioso dos textos. No dia seguinte, o diário de Blumenau trouxe entrevista com a presidente da Fundação Cultural da cidade, que mostrou ao leitor quais eram as alternativas que seriam dadas aos malabaristas. Na edição de fim de semana, pôde-se encontrar o que foi discutido na reunião de quatro malabaristas com a presidente da Fundação. Informações sobre o assunto também apareceram no dia 3. Já no dia 6, ‘O novo palco dos artistas’ ganha a primeira página. A legenda explica: ‘Afastados dos semáforos de Blumenau, malabaristas se apresentam em Itajaí’. No dia 11, mais malabaristas nas páginas do Santa.

Mea-culpa

Uma possível explicação para tamanho interesse do Santa em relação ao malabaristas já aparece na edição de 28 de abril. Na retranca ‘Fomos demitidos da rua’, há declaração de três malabaristas. O jornal traz que ‘O trio credita a reportagem ‘As ruas são um patrão generoso’, publicada pelo Santa em 16 de abril, uma parcela de culpa pela decisão da Secretaria de Planejamento’. Mais adiante, publica: ‘Marcos contestou os altos rendimentos levantados pela reportagem (…) e acha que o texto despertou preconceito na população’. Em box, o jornal explica que ‘o repórter Alex Gruba, do Santa, se passou por andarilho e malabarista de sinaleira e constatou que a renda obtida nas ruas se equipara a um professor universitário em início de carreira (…)’. Assim, a atenção especial ao tema pode ser explicada pela ‘parcela de culpa’ creditada ao jornal pelos malabaristas.

Sinal aberto para opinião

O problema dos malabaristas também apareceu em textos opinativos. Foram publicados dois artigos: ‘Cadê os malabares?’, no dia 3, e ‘Malabarismo’ no dia 6. Mas posições sobre o assunto apareceram também nas páginas em que as matérias foram publicadas, um recurso pouco usado pelo jornal. Foi o que ocorreu nas edições de 28 e 29 de abril. No primeiro dia, o texto ‘Expulsaram a alegria das ruas’ é assinado Alex Gruba, repórter responsável pela matéria ‘As ruas são um patrão generoso’. Gruba defende o trabalho dos malabaristas: ‘Qual o problema em termos malabaristas nas esquinas? Quem gosta do espetáculo pode colaborar com o artista não só com dinheiro, mas com palmas, sorrisos e palavras de agradecimento. Estes gestos foram a maior recompensa que senti quando fiquei três horas como malabarista para produzir uma reportagem para o Santa’.

Editor-chefe também participa

O texto de opinião que acompanha a entrevista da presidente da Fundação Cultural é assinado pelo editor-chefe do jornal. Edgar Gonçalves Jr. explica que ‘Quando o Santa mostrou que malabares rendem mais que a indústria têxtil, a construção civil e o comércio, imaginava-se uma reflexão sobre o baixo salário dos trabalhadores (…). não se cogitava desalojar os malabaristas’. Continua em defesa dos malabaristas e refuta os argumentos levantados pela prefeitura: ‘O argumento de que eles atrapalham o trânsito é, no mínimo, questionável. Que se saiba, nunca provocaram acidentes’. A publicação de textos de opinião junto às matérias é interessante, uma vez que deixa clara a (dis) posição do jornal em relação ao assunto. Sem eles, o leitor poderia não entender a defesa ao trabalho dos malabaristas pelo jornal em outros textos.

Uma pauta leva à outra

O Santa publicou durante dias o problema dos malabaristas de Blumenau, apresentando também os argumentos que usaram para não aceitar a idéia da prefeitura de apresentarem-se nas praças. É provável que daí tenha surgido matéria que ganha chamada de capa no dia 11. ‘De costas para as praças’ é o título do texto que apresenta ao leitor ‘teste feito pelo Santa’ que constatou ‘discreta procura pelo espaço público como forma de lazer’. Além das visitas a praças e parques da cidade, o repórter utilizou dados de uma pesquisa realizada pela Furb em 2004. Pode interessar ao blumenauense conhecer o estado de suas praças e é importante ver que o jornal, atendo-se a um detalhe de assunto já publicado, conseguiu perceber uma pauta que tem relação com seu público. O problema, nesse caso, é a possibilidade dessa matéria ter sido publicada para comprovar os argumentos dos malabaristas.

Uma publicidade leva a uma pauta

O Diário Catarinense trouxe em sua edição de segunda-feira, dia 2 de maio, um anúncio colorido na p.11 se referindo a uma gratificação de cinco mil reais para quem encontrasse um casal de papagaios (com foto no anúncio) furtado no mês passado na localidade de Treze de Maio (SC). Na edição seguinte, a história ganhou a capa do jornal como sub-manchete e ocupou praticamente toda a página 22, com a matéria que relatou a importância dos papagaios para a família e como ocorreu o furto. O leitor ainda encontrou um mapa com a localidade da cidade e os telefones para possíveis contatos, além de box com curiosidades sobre a espécie. Afinal, o assunto chamou a atenção dos editores pela recompensa, pela comoção ou apenas pela ausência de assunto?

Monet ilustrando o AN?

As fotos que ilustravam a primeira das matérias de turismo de A Notícia em 4 de maio tinham tudo para ter enchido os olhos do leitor, não fosse a grave distorção das imagens. A trilha do Pitoco, que conta com cinco cascatas e fica na região de Chapecó, mais parecia uma tela de Monet ou uma daquelas pinturas abstratas que tem sempre algo de subliminar. O fato é que principalmente para os impressos e mais especificamente na Editoria de Turismo, as imagens são importantes tanto para ilustrar como para facilitar o entendimento do leitor. Nesse caso, entretanto, o erro de registro comprometeu toda essa intenção.

Pior que gol contra ou tropeço na passarela

Como as más línguas – e elas eram a maioria– já esperava, Ronaldo e Daniella se separaram, movimentando toda a imprensa mundial com o mesmo ritmo de seu casamento. E os periódicos catarinenses não ficaram de fora: as edições do dia 12 de AN, Santa e DC trouxeram chamadas de capa relacionadas ao assunto. Um ponto em comum nos jornais foi que esta informação estava na parte esportiva, assim como todos os demais assuntos vinculados sobre o casal fenomenal. As cifras que fizeram parte dessa novela e as especulações sobre possíveis causas do fim do relacionamento foram o destaque das matérias. A dupla ganhou espaço considerável na editoria, uma página, digna de uma final de campeonato. Assim, pode-se dizer tanto para o casal quanto para os jornais: que não seja imortal posto que chama a atenção, mas que seja lucrativo enquanto dure.

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Projeto acadêmico (Univali) de acompanhamento da imprensa catarinense coordenado pelo prof. Rogério Christofoletti (http://www.univali.br/monitor)