Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Campanha morna; cobertura gelada

As eleições 2006 já têm alguns vencedores e perdedores ao longo do país. Com os processos de votação e apuração altamente informatizados, os eleitores puderam conhecer os resultados de suas escolhas muito rapidamente. Entretanto, o pleito deste ano vai além das listagens divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A campanha foi marcada por denúncias e escândalos que pareciam não abalar certas candidaturas, um clima de já-ganhou que foi por água abaixo não apenas na disputa pela presidência da República e governo de Santa Catarina. As ‘surpresas’ ficaram para a última hora, provocando segundo turno em dez estados. Mas se as campanhas foram mornas na maior parte do tempo, as coberturas jornalísticas também não alcançaram temperaturas maiores. Não só isso. Pouco ou quase nada mudou no trabalho dos jornais catarinenses das eleições de 2002 para cá. Mais uma vez, a imprensa se pautou pela televisão, as eleições proporcionais ficaram em segundo plano e pouca análise e opinião desfilaram pelas páginas dos jornais.


Mais do mesmo


Parecia filme repetido. Em 2002, os maiores jornais de Santa Catarina também orientaram parte de suas coberturas pelo Horário Eleitoral Gratuito e pelos debates e entrevistas na TV. Antes disso, o acompanhamento das evoluções dos candidatos se restringiu aos bastidores das coligações e às plataformas eleitorais. Agora em 2006, essa dependência dos jornais pela TV voltou a fragilizou a cobertura, tornando reféns as redações dos veículos impressos em Santa Catarina. O comportamento revela pouca segurança na identificação de cenários nas disputas e quase nenhuma ousadia na proposição de pautas mais investigativas. Sinal de que os jornais – não só os catarinenses, é verdade – ainda não encontraram seus tons e seus papéis no processo de informação dos cidadãos, frente à força da televisão e a expansão da internet (leia nosso Editorial).


Um aspecto que reforça essa conclusão é o fato de que os jornais ainda não descobriram uma forma de acompanhar a briga pelos cargos do Legislativo, sempre disputados no atacado. Candidatos a deputado estadual e federal – e em certa parte ao Senado – ficaram mais uma vez em segundo plano, e pouco espaço tiveram no dia-a-dia da campanha.


A monotonia só foi ligeiramente abalada na reta final, na última semana da campanha. Este Monitor de Mídia acompanhou as edições de 24 a 29 de setembro, quando o chamado ‘Dossiê Vedoin’ começou a produzir estragos na campanha de Lula.


Xerox?


A operação criminosa de petistas para a compra de um dossiê que comprometeria o candidato ao governo de São Paulo, José Serra, detonou uma crise incontornável nas Eleições 2006. Não era o primeiro escândalo, mas foi o mais mortal para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que tentava a reeleição já no primeiro turno.


O ‘Dossiê Vedoin’ pautou repórteres e editores também em Santa Catarina, até porque um dos implicados não era totalmente desconhecido por aqui: Jorge Lorenzetti. Mesmo assim, as redações locais apoiaram muito o seu trabalho no das agências nacionais de notícias. Essa escolha apenas reforçou um certo aspecto recorrente na imprensa do estado: A Notícia, Jornal de Santa Catarina e Diário Catarinense estiveram muito semelhantes em suas abordagens, com poucas diferenças e um certo consenso na cobertura.


A ‘reta final’ em A Notícia


O jornal A Notícia acompanhou as principais repercussões do ‘Dossiê Vedoin’ na semana que antecedeu o pleito. Com a maior parte das matérias de caráter noticioso, a opinião do jornal teve lugar em seus editoriais, onde o assunto alternou entre desdobramentos das acusações que envolveram Lula e partidários, como em ‘Avaliações precipitadas’ (24/09), e reflexões ao voto do eleitor, em ‘Vigilância do eleitor’ (25/09).


Com as informações organizadas dentro do caderno especial ‘Eleições 2006’, o jornal priorizou os números do Ibope e Datafolha para a campanha presidencial.


A disputa catarinense teve tratamento especial na coluna ‘Canal Aberto’, de Cláudio Prisco. Durante os dias analisados, o colunista mostrou a movimentação dos três principais candidatos pelo Estado, descrevendo a corrida entre Luiz Henrique da Silveira (PMDB), Esperidião Amin (PP) e José Fritsch (PT).




Manchetes da última semana:


24/09 – ‘Caminhos para investigar se o candidato é do bem’


25/09 – ‘Lula lembra traição a Cristo e diz que eleição está garantida’


26/09 – ‘Lula chama assessores de campanha de aloprados’


27/09 – ‘Nem escândalo abala o favoritismo de Lula’


28/09 – ‘Ir ou não ir ao debate, eis a questão’


29/09 – ‘Dossiê faz Lula fugir de debate’


DC foca no serviço


O Diário Catarinense priorizou as eleições presidenciais, ao destacar Lula e Alckimin na disputa pelo voto, segundo Ibobe e Datafolha. Descritivo, o jornal acompanhou a agenda dos candidatos sem muito aprofundamento.


O periódico também foi um instrumento de serviço com matérias de auxílio ao eleitor. Trataram da importância do voto, apesar da decepção dos eleitores. As habituais explicações sobre como votar corretamente completaram esse tópico.


O desdobramento estadual foi discutido na coluna de Moacir Pereira. O envolvimento de Jorge Lorenzetti e projeções nacionais do caso do ‘Dossiê Vedoin’ também ganharam destaque no espaço da coluna. Além disso, a atuação de candidatos em debates foi detalhada.


Sob a cartola ‘Desafios’, o DC publicou as dificuldades e problemas que os próximos governantes deverão enfrentar no Estado. Também durante o período, o jornal publicou o perfil e as propostas dos candidatos. Nesse confronto entre interesse público e propostas, o periódico mostrou serviço ao (e)leitor.




Manchetes da última semana:


24/09 – ‘Dossiê cria armadilha par ao futuro de Lula’


25/09 – ‘Dossiê inflama semana decisiva da campanha’


26/09 – ‘Lula culpa Berzoine e diz que envolvidos com dossiê são aloprados’


27/09 – ‘Lula faz suspense sobre participação em debate’


28/09 – ‘Lula avalia riscos de ir ou não ao debate hoje’


29/09 – ‘Sem Lula, debate fecha campanha’


Xerox reduzido


O Jornal de Santa Catarina, como sempre, priorizou os assuntos de Blumenau e do Vale do Itajaí. A maior parte das matérias foi descritiva e mostrava os preparativos para o dia da eleição, como na manchete ‘Falta Pouco’, que indicou a preparação de mesários para o dia 1º de outubro. Da mesma forma que o Diário Catarinense, o Santa mostrou matérias de acusações do ‘Dossiê Vedoin’ e a projeção dos debates.




Manchetes da última semana:


23-24/09 – ‘Prefeitos elegem esgoto e BR 470 como prioridades’


25/09 – ‘Vai ficar mais difícil entregar água mineral’


26/09 – ‘R$ 3 milhões garantem o complexo do Sesi Olímpico’


27/09 – ‘Fiscalização dobra para pegar motos irregulares’


28/09 –’Lula faz suspense sobre ida ao debate’


29/09 – ‘Debate sem Lula’

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