Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Caprichos, crises e senso de proporção

Enquanto a Folha de S.Paulo anuncia que ’10 mil pessoas acompanham cerimônia’, o Estado de Minas vai mais longe: ‘Mais de 12 mil acompanham cortejo de Eloá’. Quantas pessoas são necessárias para aplacar o nosso clamor por paz? E quantas notícias são necessárias para perturbar a própria paz?

Na versão eletrônica do jornal britânico The Times (21/10/08), os jornalistas Michael Blastland e Andrew Dilnot clamam por outra coisa: o fim da ridícula e entusiasmada retórica da exagerada crise, pedindo por um ‘basta nesse papo louco’.

Aqui, uma repórter de TV não resiste em enfatizar o efeito da subida do dólar na balança comercial. Menos de meio trimestre depois da disparada monetária – disparada? – ela ‘revela’, cheia de autoconfiança em sua premonição: ‘A situação vai piorar, pois as importações continuam aumentando e as exportações não `decolaram´ (sic).’

Sair do anonimato

Assim, os espaços materiais e virtuais alimentados pela imprensa se enchem de grandes palavras como ‘tombo’, ‘crash’, ‘tragédia’, ‘exclusivo’, todas em busca de um ineditismo arrebatador de multidões cada vez mais evasivo. Não basta informar, é necessário impressionar – e ganhar os créditos pelo susto dado.

Como em um capricho de uma criança que esperneia para chamar a atenção quando o seu desejo não é atendido pela justiça das circunstâncias, a má imprensa grita transtornada para chamar a atenção.

Um capricho similar ao de um homem que não aprendeu a lidar com as frustrações impostas pelas circunstâncias. Ele precisa impressionar, assustar, sair do anonimato, aniquilar a paz do outro, para obter a atenção e a paz que não tem, mesmo que, num possível deslize, seja necessário chocar ou até matar.

Em episódios como esse, a imprensa parece se perder e fundir em sua atuação com aquilo mesmo que pretende denunciar.

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Arquiteto e empresário, Belo Horizonte, MG