Tive a graça alcançada de partilhar alguns conhaques e vinhos em noites de frio (e cervejas em fins de tardes quentes) com o atual presidente da Fapesp, o poeta e professor universitário Carlos Vogt, ex-reitor da Unicamp. Considero-o uma pessoa de bem (o que já não é pouco nos dias que correm) e uma das mais claras inteligências a serviço do Brasil, além da reconhecida sensibilidade e capacidade de reiventar novos sentidos para as palavras, de que são exemplos sua prosa e sua poesia, ambas muito bem cuidadas.
Enquanto várias universidades brasileiras distribuem títulos de ‘Doutor Honoris Causa’ por motivos que envergonham não a muitos dos excluídos, mas a diversos dos contemplados, que sabem que nada fizeram de extraordinário para serem agraciados com tão elevada honraria, eis que a École Normal Supérieure de Lyon (França) reconhece solenemente a referência que é hoje Carlos Vogt como destacado intelectual.
Posso estar enganado, mas outra vez a nossa mídia não deu importância ao ocorrido. Nossa imprensa demora a reconhecer méritos, gosta mesmo é de espinafrar. Se Carlos Vogt fosse mineiro de Valadares e levasse longe o nome do Brasil, como fez agora, por outros modos, como o de querer abandonar o país onde vive, daí, sim, ganharia rapidinho as primeiras páginas.
A seita dos monótonos
Destaco este belo trecho sobre o que chamo ‘paixão do conhecimento’, que retiro de seu discurso proferido na ocasião da outorga do título:
‘Penso que o sentido da vida é o conhecimento que, desse modo, é ilimitado pela amplitude da pergunta, e é, ao mesmo tempo, limitado e útil pelo alcance de nossa capacidade de resposta’.
É claro que se Carlos Vogt, em vez de usar a escrita, comprasse uma bengala e distribuísse bengaladas, ainda mais se fosse na cabeça de alguém que os ignaros julgam bater impunemente porque a vítima, já prestes a cair, não tem mais condições de se levantar, iria logo para as manchetes.
‘Há braços’ para ele e para todos os que vêem nele, há tempos, o que agora os franceses viram. Quanto aos que nunca viram e ainda não vêem seus méritos, o lembrete de que a curiosa seita dos monótonos, surgida na Idade Média, não se consolidou justamente por nada fazer, pois seus adeptos achavam que todo movimento, assim como o conhecimento, era inútil. Venceram, entretanto, os que se movimentaram. Até para admirar o outro é preciso alguma iniciativa.
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Escritor, doutor em Letras pela USP e professor da Universidade Estácio de Sá (Rio de Janeiro), onde dirige o Curso de Comunicação Social