Mesmo passados 20 anos, referências às manifestações pró-democracia de 4/6/89 na Praça da Paz Celestial, em Pequim, ainda são estritamente censuradas na mídia chinesa. O bloqueio ao longo deste tempo foi tão efetivo que muitos jovens sequer têm conhecimento dos confrontos.
Naquela época, uma imprensa livre era um dos principais pedidos dos manifestantes, assim como de jornalistas e professores de jornalismo. Muitos ainda estão pagando o preço de terem participado dos protestos, em termos de punição administrativa, constante vigilância policial ou exílio forçado. Autoridades chinesas também vêm monitorando atentamente atividades de correspondentes internacionais ao longo destes 20 anos, especialmente seus contatos com dissidentes e testemunhas do massacre. O soldado aposentado Zhang Shijun, por exemplo, está sendo detido por forças de segurança em um lugar não revelado, após ter concordado em ser entrevistado pela AP e ter expressado lamentações por ter feito parte da tragédia.
Diversos jornalistas, incluindo Shi Tao, que foi condenado a 10 anos de prisão por enviar um email, em 2004, sobre o aniversário dos protestos da Praça da Paz Celestial, ainda estão na prisão por terem se referido aos protestos. O ativista Liu Xiaobo, uma das figuras mais importantes do movimento de 1989, voltou recentemente à prisão. O ciberdissidente Huang Qi, que lutou por muito tempo para que as vítimas do massacre fossem reconhecidas, ficou preso sem julgamento desde junho de 2008 e está agora com a saúde debilitada.
Grande muralha
Quando internautas colocam ‘4 de junho’ na seção de buscas por imagens no sítio Baidu, a ferramenta de buscas mais popular do país, recebem a seguinte mensagem: ‘A busca não segue às leis, regulamentações e políticas chinesas’, enquanto na seção de buscas por vídeos, aparece a mensagem que nenhum vídeo foi encontrado – mesmo com a célebre imagem de um manifestante solitário enfrentando um tanque de guerra. Já na seção de busca por textos, só são liberadas informações oficiais do governo.
Sítios de relacionamento pessoal e ferramentas de blogs, como Twitter (proibida pela primeira vez no país), YouTube, Bing, Flickr, Opera, Live, WordPress e Blogger, também estão bloqueadas na China. ‘O governo chinês faz o que for para silenciar o que aconteceu há 20 anos na Praça da Paz Celestial’, contou a Repórteres Sem Fronteiras. ‘Ao bloquear o acesso a diversos sítios, autoridades optaram pela censura a qualquer preço, em vez de aceitar um debate sobre este tema’. Há algumas semanas, matérias exibidas na BBC World News que se referiam ao massacre foram censuradas. Alguns leitores de Pequim notaram que a edição do último final de semana do The International Herald Tribune estava com algumas páginas faltando, justamente as que continham uma entrevista com o líder religioso do Tibete, Dalai Lama.
Na opinião de Renee Xia, do grupo Defensores de Direitos Humanos na China, a censura ainda é forte ‘porque os líderes chineses sabem que têm sangue nas mãos’. ‘Eles temem que se a verdade vir à tona, o governo ficará sobre pressão para fazer justiça com os responsáveis pelos crimes’, opinou. A organização afirmou que escritórios de segurança pública em todo o país entraram em contato ou visitaram dissidentes para alertá-los a não escreverem artigos, dar entrevistas ou tentar organizar protestos relacionados ao 20º aniversário do massacre. Uma equipe de TV da agência de notícias russa Ria Novosti foi presa enquanto tentava filmar uma simulação dos protestos na Praça da Paz Celestial, no mês passado.
Jason Khoury, porta-voz do Yahoo, proprietária do Flickr, informou que não recebeu nenhuma explicação pelo bloqueio do sítio. Segundo ele, as restrições ‘eram inconsistentes ao direito da liberdade de expressão’. Com informações da RSF [2/6/09], de Michael Wines e Andrew Jacobs [New York Times, 3/6/09], de Christopher Bodeem [Associated Press, 3/6/09].