Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Cobertura madura na Operação Moeda Verde

Depois da cobertura sem continuidade do incêndio no Supermercado Rosa, em Florianópolis, os três principais jornais catarinenses apresentaram um acompanhamento mais completo da Operação Moeda Verde. A ação, que investiga empreendimentos construídos sob suspeita de irregularidades ambientais, atingiu figuras influentes da alta sociedade catarinense.


O Monitor de Mídia nesta semana analisou a repercussão e o tratamento deste fato nos jornais A Notícia, Diário Catarinense e Jornal de Santa Catarina. Para isso, foram conferidas as edições de 05 a 09 de maio. Desta vez, os esclarecimentos para os leitores foram suficientes.


Mesmo com uma abrangência regionalizada, A Notícia e o Jornal de Santa Catarina dedicaram espaço para a operação, principalmente pelo caráter de proeminência dos envolvidos, interesse público e ineditismo, já que foi a primeira deste tamanho no Estado.


O DC fez muito boa cobertura, acompanhando os últimos fatos, mostrando diversos ângulos da Operação Moeda Verde. Com material farto, o assunto contagiou todo o periódico. O jornal utilizou recursos gráficos para a melhor compreensão do leitor. Nos dias analisados, pudemos ver o assunto em várias páginas do jornal e em diversas editorias.


Diário Catarinense


A primeira edição analisada do DC (4/5) trouxe na capa indícios de que a cobertura sobre a Operação Moeda Verde seria o principal assunto do dia. Além de manchete com direito a foto, logo abaixo da imagem o DC indicou onde estariam os textos relacionados ao fato: ‘Luiz Carlos Prates, Moacir Pereira, páginas 4 a 8, Informe Político, Editorial na página 17 e Cacau Menezes’.


Porém, o periódico foi além das matérias mostradas na capa. Ao invés de encaixar o fato em suas editorias, criou uma específica intitulada Operação Moeda Verde, caracterizando o esforço de reportagem. Nela, foram colocadas as principais informações sobre a ação da Polícia Federal em Florianópolis. A matéria ‘Polícia Federal prende 19 empresários e políticos’ serviu para introduzir o leitor ao tema e, para completar, reservou uma página para mostrar os empreendimentos investigados e os envolvidos no caso.


A cobertura dessa matéria foi ampla e muito informativa. A grande quantidade e variedade de fotos relacionadas ao fato, certamente ajudaram o leitor a ficar por dentro da operação. Ponto para o DC que cumpriu com seu objetivo.


Como extra, o assunto foi citado também nas colunas de Luiz Carlos Prates, Moacir Pereira e Cacau Menezes, além de marcar presença no Informe Político e Econômico, na Charge e no Editorial. No total, 11 das 44 páginas continham algo relacionado à Moeda Verde.


O Diário Catarinense fez uma boa apuração e bom acompanhamento da Operação Moeda Verde. No dia 5/5, trouxe a manchete: ‘PF revela como agia o grupo acusado de fraudes ambientais’ e ainda uma foto-destaque. O tema apareceu também na charge de Zé Dassilva.


Na ‘Reportagem Especial’, apresentou uma entrevista com a delegada Julia Vergara e um box que relembrou o começo da operação. Na matéria ‘Treze suspeitos ainda na prisão’, mostrou as novidades no caso, divulgando que dos 22 suspeitos, treze estavam presos. Cinco foram transferidos para o presídio masculino da capital, pois não tinha mais lugar no presídio da Polícia Federal.


Ainda na mesma editoria, publicou: ‘Salum assume secretaria’, mostrando que o radialista e policial civil foi confirmado pelo prefeito Dário Berger como secretário municipal de Urbanismo e Serviços Públicos (Susp), substituindo Renato Juali de Souza, um dos investigados da Operação Moeda Verde.


O jornal ainda apresentou a matéria ‘Câmara investigará vereadores’, mostrando também a posição da Câmara Municipal de Florianópolis que abrirá inquérito na Comissão de Ética e Decoro para investigar a possível participação de vereadores no favorecimento de licenças ambientais.


A edição publicou um artigo sobre o assunto. Além disso, o tema apareceu na coluna de Cacau Menezes, que iniciou com a carta de um morador de Florianópolis sobre as denúncias e as transformações que ocorreram na ilha. O colunista trouxe também uma nota reclamando da falta lugar na carceragem da Polícia Federal de Florianópolis, depois que cinco presos da Operação Moeda Verde foram transferidos para o estadual.


Na edição do dia 6/5, o DC apresentou a manchete: ‘O futuro da capital’. A charge de Zé Dassilva satirizou o assunto. A coluna de Moacir Pereira publicou o perfil do juiz Zenildo Bodnar, da Vara Ambiental da Justiça Federal de Florianópolis, que autorizou a Polícia Federal a realizar a Operação Moeda Verde. O juiz determinou prisões e decidiu não conceder entrevistas ‘evita estrelismos, ressaltando que cumpre uma missão: a de representar a justiça’, segundo o colunista. Moacir Pereira elogia a atuação e postura do juiz.


A ‘Reportagem Especial’ dedicou quatro páginas e meia à Operação Moeda Verde. Neste dia prendeu-se mais aos assuntos ambientais, das conseqüências, o que pode acontecer aos empreendimentos instalados em áreas de preservação e preservação do meio ambiente.


Mostrou um debate sobre a falta de planejamento sustentável da capital catarinense, intitulada de ‘Hora de repensar o futuro’. Um box acompanhou a matéria demonstrando o que pode acontecer aos empreendimentos que estão envolvidos nas investigações.


O jornal abordou no texto ‘Danos ambientais estão concretizados’ como recuperar o impacto ambiental causado quando parte das obras dos empreendimentos estão prontas, quase acabadas ou em operação. Divulgou ainda que Florianópolis não possui um setor de planejamento ambiental. Publicou também a complacência do poder público e a falta de aplicação das leis ambientais na matéria ‘limites para crescimento da capital’, que gera novos empreendimentos de grande impacto ambiental.


Apresentou um texto sobre a Organização Não-Governametal FloripAmanhã intitulado ‘ONG prega preservação’. O DC trouxe outro fato novo. No quadro de associados estão donos de dois empreendimentos citados na Operação Moeda Verde: Il Campanarto do Villagio Resort e Vilas do Santinho. ‘Segundo a presidente da ONG, Anita Pires, a entidade aceita sócios pelos pagamentos e todos são associados’. O periódico trouxe ainda uma entrevista com o Presidente do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (Ipuf) órgão responsável pela coordenação do Plano Diretor da Capital.


Na matéria ‘Promotoria apura mudanças no zoneamento’ levantou-se a suspeita de que muitos projetos de lei mudando o plano foram aprovados sem a realização de audiência pública, o que é obrigatório por lei. Mostrou ainda um box com as confusões que vereadores da capital já arrumaram com a polícia.


O jornal trouxe ‘Caso põe Câmara em alerta’ em que demonstra que a imagem do Legislativo ficará seriamente comprometida, caso seja comprovado o envolvimento de vereadores na Operação Moeda Verde.


O DC apontou que segundo a Polícia Federal, o vereador Juarez Silveira é o cabeça do esquema e relembrou o começo da operação, que teve um efeito bola de neve em ‘Investigação bola de neve’.


Com o a matéria ‘Rotina diferente na carceragem’ mostrou o dia a dia dos empresários, servidores municipais e estaduais e políticos que foram presos, mostrando a alimentação, a acomodação das celas em que eles ficaram.


Por fim, apresentou ‘Licenças ambientais em cheques’ e um box que demonstrou o esquema e o futuro da investigação.


No DC do dia 7/5, a Operação Moeda Verde apareceu em sete páginas. Além de ser tema para os colunistas Moacir Pereira e Cacau Menezes, o fato foi abordado no ‘Informe Econômico’, na seção Operação Moeda Verde e os leitores também opinaram no ‘Diário do Leitor’.


O destaque dessa edição ficou por conta da entrevista com Paulo Cezar Maciel da Silva, sócio-proprietário do Shopping Iguatemi, obra investigada pela Polícia Federal. Intitulada de ‘Foco da investigação são servidores públicos’, o empresário foi perguntado sobre a sua prisão preventiva, as acusações que recaíram sobre ele e a estratégia de defesa do acusado.


Na matéria principal sobre a operação, ‘Delegada deve solicitar a preventiva’, indicava que o decreto de prisão preventiva aos acusados poderia ser dado naquele mesmo dia.


No dia 8/5, o DC reservou um espaço para uma chamada sobre a Operação em sua capa, intitulado ‘Decretado preventiva de cinco acusados’, fato previsto na edição do dia anterior. A matéria que foi anunciada na capa estava na página 4, na seção Operação Moeda Verde, que também veiculou uma pequena matéria batizada de ‘Câmara de Vereadores não quer CPI’, mostrou que a investigação do caso seria feita através de processos administrativos, invés de Comissão Parlamentar de Inquérito.


A página 5 também foi dedicada à seção especial para a operação e continha 3 matérias. Intituladas de ‘Empresário diz que não pagou por licença’, ‘Faxina em frente à Câmara de Vereadores’ e ‘PF se opõe ao que afirma o governador’, respectivamente falavam sobre a entrevista com o empresário Fernando Marcondes de Mattos, o protesto de cerca de 50 manifestantes em frente à Câmara de Vereadores e sobre a resposta da Polícia Federal ao comentário do governador Luiz Henrique de que a operação seria ‘pirotécnica’.


Além da seção especial para o caso, a operação apareceu na coluna de Moacir Pereira e na charge de Zé Dassilva.


Na edição do dia 9/5 trouxe na editoria ‘Geral’ a matéria ‘Liberado, Marcílio Ávila fica na Santur’ que tratou da prisão, por cerca de oito horas, do vereador licenciado e presidente da empresa de Turismo do Estado (Santur). Marcílio Ávila ofereceu o cargo ao governador do Estado, Luiz Henrique da Silveira, que não aceitou, alegando que não há acusação formal contra o vereador licenciado.


O DC apurou na matéria ‘CPI não tem números de assinaturas’ que até as 19 horas do dia anterior havia somente duas assinaturas favoráveis à Comissão Parlamentar de Inquérito – Ângela Albino (PcdoB) e Alexandre Fontes (PP) – indicando um movimento contra a criação da CPI. O texto acompanhou um box com informações sobre a situação de quem teve a preventiva decretada e sigilos bancário e fiscal quebrados. Outro box complementou e relembrou o caso fazendo a trajetória da operação desde começo até o dia 8/5. O assunto apareceu mais uma vez, na charge Zé Dassilva.


Jornal de Santa Catarina


Em 04/05, primeiro dia em que se manifestou sobre o assunto, o periódico explicou minuciosamente o que está ocorrendo na Capital. Utilizando recursos como infográficos e boxes, o Santa esclareceu para os leitores a Operação Moeda Verde de forma simplificada e de fácil entendimento. Na pág.15 os empreendimentos sob suspeita foram mostrados e na pág.16 um box explicativo apontou quem são e o que alegam os citados nas investigações.


Ainda neste dia, a Opinião RBS ‘Ambiente de conflitos’, deixou clara sua preocupação com o que vem ocorrendo:




‘É hora de discutir o tema com a racionalidade que uma questão tão grave exige. Infelizmente, há uma tendência brasileira e mundial de transformar a luta ambiental em algo marcado por emocionalismo e preconceito, o que certamente prejudicará a busca de definições objetivas. Neste sentido, chamar os defensores do ambientalismo de ecoxiitas ou desmerecer os empreendimentos industriais são posturas que contrariam a necessidade de se encontrar soluções sustentáveis e racionais. O debate que está em curso é necessário, inclusive para que se chegue a uma legislação ambiental clara, que permita uma fiscalização adequada e rigorosa’.


Na edição conjunta de final de semana (05 e 06/05), um infográfico intitulado ‘Como funcionava o esquema’ ilustrou como eram e quem fazia as negociações. Neste mesmo dia, foi publicada uma entrevista com Julia Vergara – a delegada responsável pela operação – que revelou vários detalhes surpreendentes da operação.


No dia 07/05 nada relacionado ao tema foi publicado. Já na terça-feira, 08/05, uma nota atualizou os leitores: ‘Polícia pede prisão preventiva de quatro pessoas’. No dia 09/05, mais um pequeno texto deixou o leitor a par dos acontecimentos: ‘Presidente da Santur fica no cargo’.


Observa-se que o Santa acompanhou o caso de perto e se preocupou em dar continuidade a cada matéria publicada. Além disso, o periódico procurou ouvir as duas partes envolvidas no caso – a Polícia e os acusados.


A Notícia


Logo que as primeiras ações da Polícia Federal foram efetuadas em Florianópolis, o jornal A Notícia acompanhou de perto o desenvolvimento da operação Moeda Verde. Em 04/05 destacou o caso em ‘Polícia apura fraude ambiental’, matéria desenvolvida em detalhes e com boa apuração sobre os 22 alvos da operação. Constou no material tanto a versão das investigações, quanto dos acusados. Todos os indiciados da ação foram apresentados com acusação e defesa.


Com o envolvimento de figuras conhecidas e influentes, o jornal também mostrou a repercussão política das prisões e o ponto de vista do governador Luiz Henrique da Silveira. Além disso, houve o resgate de reincidência de alguns envolvidos com a Polícia Federal e todo o histórico da operação. Este histórico, junto com o levantamento de informações, formou um ótimo panorama para o leitor.


Nos dias seguintes, houve a atualização das investigações e o acompanhamento de solturas e novos mandatos de prisão. O material não deixou lacunas e sempre desenvolveu ligações, além de apresentar gráficos explicativos. Além disso, as manifestações populares, como forma de aproximação com o público, também estiveram presentes com ‘Apoio às acusações da PF e protesto contra liberações’, em 07/05, e ‘Protestos em apoio à investigação’, de 08/05.


Outro ponto que chama a atenção foram os Editoriais de A Notícia. ‘Para marcar época’, em 05/05, e ‘Atenção ao ambiente’, 07/05, retrataram a importância da operação para a realidade catarinense. No dia 08/05, em ‘Campeão de Secretarias’, o jornal, ao mesmo tempo que critica os poderes, acompanha a opinião popular sobre a atuação de órgãos como a Polícia Federal: ‘O Estado mostra a sua presença por meio de mecanismos institucionais que, colocados em funcionamento, representam a esperança de que os índices de corrupção possam ser drasticamente deduzidos’.


***


Velas para quem?


A chegada do papa Bento XVI ao Brasil movimenta redações e os olhares dos fiéis em toda a parte. Emissoras de rádio e TV apelam para boletins; sites de notícias fazem coberturas especiais, com um colosso de informações; jornais e revistas empenham-se em dar os detalhes, articulando dados (como a polêmica do aborto) e oferecendo farto material para os leitores.


Também pudera. Segundo dados da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB, 78,9% dos brasileiros (algo em torno de 145 milhões de pessoas) afirmam ser católicos. Em nenhuma parte do mundo essas cifras são pequenas, nem mesmo na China. Intuindo isso, as empresas jornalísticas liberam verdadeiros exércitos de jornalistas para cobrir a quarta vinda de um papa ao país: é audiência massiva, venda certa nas bancas e acesso contínuo na internet.


Já dissemos aqui mais de uma vez que jornalista não deve brigar com a notícia. Isto é, se é fato, importante, novidade, interessa ao coletivo, tem que ser dado. É isso que espera o público. No entanto, se retornarmos às cifras acima, teremos 21% da população, cerca de 38 milhões de habitantes, que não são católicos, que professam outra fé ou nem mesmo se interessam pelo assunto. Não é pouca coisa. O contingente equivale à população da Argentina, da Polônia, da África do Sul ou do Marrocos.


Neste sentido, cabe a questão de como a mídia pode satisfazer a maior parte do público sem desassistir outras parcelas. Isto é, como dar ênfase à passagem do papa pelo país com equilíbrio, justeza, sem enfadar outras camadas que pouco ou não se interessam pelo assunto?


Não é fácil responder essas questões. Também não é fácil buscar uma solução que atenda aos mais diferentes interesses de consumo de informação num coletivo tão heterogêneo que é o Brasil. Mesmo assim, este é um problema para os meios de comunicação e para aqueles que atuam neles. A ninguém interessa que a mídia seja monotemática, homogênea, restritiva. A diversidade é vital para a sua consolidação no espaço democrático, e mesmo para a sua boa sobrevivência no mercado.


Longe de acender vela a um único santo, a mídia precisa lembrar um candelabro, onde queimam muitas chamas.


Leia também


‘O papa é pop!’: A presença de Bento XVI no Brasil – Valquíria Michela John e Camila Guerra [arquivo PDF, 110 KB]


***


Uma aventura em La Bombonera


Fabíola Obadovski Rosa, de Buenos Aires


Esta história aconteceu na semana passada, para ser mais precisa na segunda-feira, 30 de abril de 2007. Foi neste dia que embarquei para uma viagem à Argentina. O objetivo principal do deslocamento até a terra dos hermanos era o World Rally Championship (WRC). Todos os anos, uma das etapas do mundial de rally é realizada no país, pessoas de todos os cantos desembarcam na capital Buenos Aires e em Córdoba.


Eu e mais onze amigos resolvemos aproveitar a ida até a Argentina para desfrutar de alguns dias de passeio na capital. Enquanto isso, na América, continuava rolando a Copa Libertadores e para aquela semana – entre tantas partidas das oitavas-de-final – uma nos interessou diretamente: Boca contra Vélez, no estádio Alberto J. Armando, mais conhecido como La Bombonera. O confronto tinha data e horário: 2 de maio às 21h45. Não dava para estar lá em Buenos Aires no dia deste jogão e não comparecer.


Quarta-feira, às 21h30, todos prontos para ir ao estádio. Seguindo as recomendações da recepcionista do hotel, fomos de camisetas neutras, sem brincos, anéis, pulseiras, relógios, apenas dinheiro para o táxi, documentos de identidade e ingresso para a popular. O clima era de expectativa, porém, com um pouco de receio. Afinal de contas, muitos nos assustaram a respeito de ir para La Bombonera, famosa pelas brigas e a pressão da torcida.


Chegamos ao bairro La Boca e de longe já se ouvia o fervor. Após uma breve caminhada, estávamos em frente ao famoso palco do futebol. La Bombonera tem capacidade aproximada de 49 mil espectadores e de fora já impõe respeito. A construção me lembrava um formigueiro humano. Os lances de escadas que dão acesso às arquibancadas tiram o fôlego e os tijolos parecem se equilibrar em uma sobreposição de camadas. A impressão é que tudo foi empilhado e remendado durante a construção. Apenas o alambrado e alguns passos separam a torcida do campo. Parece mesmo uma imensa caixa de bombons, como sinaliza o apelido.


Chegamos um pouco atrasados e eufóricos. Passei as catracas e subi os lances de escadas no ritmo frenético da torcida do Boca – a turma não tinha preferência por nenhum time, mas achamos melhor ficar no meio dos donos da casa – e antes mesmo de chegar de fato aos nossos lugares, o caldeirão argentino veio abaixo. Aos 9 minutos, o time da casa abre o placar com um gol de Riquelme, craque da seleção argentina. O descontrole foi geral.


Estar no meio da torcida do Boca foi uma experiência única. Não tanto pelo time, afinal de contas meu coração bate forte por outro azul, mas pela paixão que move todos os torcedores argentinos e que me contagiou. A torcida do Boca Juniors é fanática e a popular cantou o jogo inteiro. Ensaiei cantar junto, quando não sabia acompanhava enrolando a língua no portunhol.


Nos outros dois gols da partida, pulamos no embalo: todos se abraçavam até mesmo quem não nos conhecia. O placar final foi 3×0 para o time da casa, com gols de Riquelme, Palermo e Clemente Rodríguez. Ir até La Bombonera não foi o monstro que muitos falavam, apesar da rivalidade tudo foi tranqüilo. Ninguém da popular saiu do estádio até que toda a torcida adversária – por sinal bem revoltada – fosse embora. Até os portões se abrirem foram uns 20 minutos parados. Conversamos com muita gente a nossa volta sempre solícitos e educados com a brasileirada. Como em qualquer lugar no mundo, é só tomar cuidado.


Eu voltei para o hotel rouca e satisfeita. Os 15 pesos foram bem investidos e o ingresso vai para o meu álbum junto com as fotos e recordações desta grande viagem.

******

www.univali.br/monitor